Sociedade
SIMONE VEIL, UMA SOBREVIVENTE QUE MARCOU A HISTÓRIA DA EUROPA
Simone Veil foi uma figura de referência na política francesa durante muitos anos, conhecida pela defesa dos direitos das mulheres.
Em 1974, enquanto Ministra da Saúde, defendeu na Assembleia Nacional francesa um projeto de lei que visava a despenalização da interrupção voluntária da gravidez., afirmando que “Não podemos continuar a fechar os nossos olhos quanto aos 300 mil abortos que todos os anos mutilam as mulheres deste país, que desrespeitam as nossas leis e que humilham e traumatizam aquelas que a eles recorrem”.
A Assembleia Nacional viria a aprovar a legalização do aborto até à décima semana, nesse mesmo ano. A lei, que ficou conhecida como “lei de Veil”, foi implementada de forma permanente em 1979.
Muito antes de Veil se tornar uma importante magistrada e ministra, a sua vida deu muitas voltas. Em jovem, proveniente de uma família judia, foi deportada para os campos de concentração nazi com apenas 16 anos. Conseguiu sobreviver e tornar-se um ícone da luta pelos direitos humanos.
Apesar de no seu braço estar marcado, para sempre, o seu número de prisioneira (78651), Veil continuou a marcar a diferença na Europa e em particular na França. “Acho que vou estar a pensar na Shoah no dia em que morrer”, afirmou Simone Veil em 2009 ao jornal Le Monde.
A ligação de Simone ao continente Europeu era inegável. Assim, abandonou o Governo francês em 1979 e passou a liderar a lista UDF, candidata ao Parlamento Europeu. Neste seguimento, foi eleita presidente do Parlamento Europeu e tornou-se a primeira mulher a ocupar este cargo.
Em 1993, voltou a integrar o Governo francês, desta vez enquanto Ministra de Estado, Assuntos Sociais, Cidades e Saúde. Conseguiu ainda chegar ao Conselho Constitucional, a mais alta autoridade judicial do país. Em 2007, retirou-se da vida política.
Em “Une vie” (Uma Vida), biografia publicada em 2007, Veil afirma que “Da minha parte, há muito tempo que superei a ideia de imortalidade. Já morri um pouco nos campos”.
Nos últimos anos de vida, a doença afastou-a da vida mediática, mas não da memória de todos aqueles que reconhecem a importância de todos os seus feitos e conquistas.
“Continuo a acreditar que vale sempre a pena batermo-nos por qualquer coisa. Digam o que disserem, a humanidade está hoje mais suportável do que no passado”, afirmou, há alguns anos, ao Libération.