Sociedade
DEBATE TABU: DEFINIÇÃO DE GÉNERO
Com o objetivo de estimular o espírito crítico e a discussão de temas atuais, a AEFLUP e a HeForShe Portugal, organizaram, na Faculdade de letras da Universidade do Porto um debate com o tema: Definição de género.
O evento contou com a presença da professora Marinela Freitas, investigadora do Instituto de Literatura Comparada, Margarida Losa, docente com várias publicações nas áreas da Literatura Comparada, dos Estudos Feministas e da Teoria Queer e com uma representante da organização internacional HeForShe no Porto e também aluna da Faculdade de Letras, Telma Roque.
O debate teve início com uma intervenção breve sobre a organização HeForShe e do que esta propõe.
O movimento ‘HeForShe’ é uma campanha da ONU Mulheres, criado pela atriz Emma Watson, com o objetivo primordial de conquistar uma verdadeira igualdade de género em todo o mundo e de ter “uma metade da Humanidade a apoiar a outra metade, para o benefício de todos”. Portugal tem, desde Dezembro de 2016, uma representante na organização, e desde este ano, várias pessoas procuram desenvolver o movimento no nosso país.
Telma Roque apresentou ao público uma distinção entre os conceitos de sexo (características biológicas e fisiológicas) e género (conjunto de propriedades atribuídas social e culturalmente a um indíviduo).
Acrescentou ainda que a igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos humanos e que o próximo passo seria “criar um núcleo da HeForShe na FLUP.”
Seguiu-se a intervenção da Professora Marinela Freitas, com uma exposição em torno do género na literatura. Foram propostas ao público duas questões iniciais: Os textos têm sexo? O sexo e o género são úteis na análise literária?
Referenciou a conhecida obra “Novas Cartas Portuguesas”, livro de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, acusada pelo estado português, na década de 70, de ser pornográfica e atentar contra os bons costumes e moral do país. O julgamento de “As Três Marias”, nome pelo qual ficou conhecido o caso, e todo o processo injusto com que foi tratado, é tido como a primeira causa que mobilizou organizações e a imprensa internacional a favor da causa feminista. A professora, juntamente com a escritora Ana Luísa Amaral, refletiu no impacto do julgamento e nas repercussões que teve a nível internacional, na sua obra: “Novas Cartas Portuguesas Entre Portugal e o Mundo (com Ana Luísa Amaral, D. Quixote, 2014)”.
A docente relembrou também a filósofa Judith Butler, autora da obra “Gender Trouble”, recentemente vítima de ataques no Brasil, assim como evocou o nome de Emily Dickinson, escritora americana que publicou poucos originais em vida, muitos deles modificados pelos seus editores.
Apresentou ainda ao público uma ilustração das atribuições do prémio Nobel, desde 1901 a 2017. De aproximadamente 900 atribuições do galardão, apenas 40 foram entregues a mulheres.
A oradora questionou o público: “O que as mulheres escrevem não tem interesse?”
Terminando a sua intervenção, o público é levado a ler um excerto de “How to suppress Women’s rights”, obra de Joanna Russ. Elaborada com as próprias experiências da escritora americana, o texto mostra como a criação artística e de como o mercado editorial são fortemente desencorajados para as mulheres. Russ define alguns dos seus argumentos com frases que ouvimos e lemos constantemente:
“She didn’t write it.
She wrote it, but she shouldn’t have. (It’s political, sexual, masculine, feminist.)
She wrote it, but look what she wrote about. (The bedroom, the kitchen, her family. Other women!)”
She wrote it, but she wrote only one of it. (“Jane Eyre. Poor dear, that’s all she ever. . .”)
She wrote it, but she isn’t really an artist, and it isn’t really art. (It’s a thriller, a romance, a children’s book. It’s sci fi!)”
No final, e aberto o espaço para o debate, foram discutidos outros assuntos como a falta de representatividade das pessoas trans, a lei da identidade de género, o conceito de género como construção social e os papeis que são dados, pela sociedade, à mulher e ao homem, que acabam por perpetuar desigualdades.