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Sociedade

IV Jornadas do Observatório do Ciberjornalismo: “Estamos em coma profundo em Portugal”

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Após uma sessão de abertura com Paulo Pinto da Costa (Vice-Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Sérgio Nunes (Diretor do MIL – U.Porto Media Innovation Labs) e Hélder Bastos (Coordenador do Observatório do Ciberjornalismo), deu-se início ao debate “A sobrevivência do cibermeio”.

Moderado por Fernando Zamith, o debate contou com 6 moderadores a representar 6 diferentes jornais online: João Francisco Gomes (Observador), Luís Almeida (Caminh@ 2000), Patrícia Fonseca (Médio Tejo), Pedro Emanuel Santos (Porto 24) e Pedro Marques (PT Jornal).

Todos os jornais representados apresentam conteúdo 100% gratuito aos leitores. A questão que se levanta é: como conseguem sobreviver? Como João Francisco Gomes começou por dizer, a publicidade é a grande fonte de rendimento de um jornal online. No caso do Observador, para além de anúncios publicitários, há também conteúdo patrocinado, para o qual foi criada uma área especifica no site com redação própria.

Para Pedro Emanuel Santos “é mesmo uma aventura sobreviver todos os dias, é uma batalha diária” e a questão da publicidade está em cima da mesa diariamente no Porto 24.  O jornal, que existe há 6 anos, sobrevive do apoio publicitário que escasseia cada vez mais para jornais regionais e locais. “Num órgão que se dedica somente a um âmbito muito específico em termos de noticiário ainda é mais difícil sobreviver da publicidade. O mesmo anunciante não pagará o mesmo ao Porto 24 do que pagará, por exemplo, ao Observador ou ao Expresso”, explica.

Já para Pedro Marques, o jornal é como um negócio. “Acho que é preciso definir limites, é preciso definir linhas editoriais mas acima de tudo é preciso olhar para isto como um negócio”, afirma. Perante a visível dificuldade que os jornais online enfrentam hoje em dia para subsistirem, uma redução dos salários e das dimensões das redações é, muitas vezes, justificável: “Por muito que se discuta linhas editoriais, por muito que se discuta linhas de negócio, é insuportável para muitos meios”, explica Pedro.

Com a palavra a passar de interveniente em interveniente, todos os jornais foram apresentados e a conclusão geral foi a de que o cibermeio depende, necessariamente, da publicidade.

Uma vez aberto o debate ao público, discutiu-se a administração dos jornais, o papel de um jornalista nesta área e, por fim, o futuro da reportagem.

Com a crescente fragilidade dos jornais a nível financeiro, cada vez menos se investe em reportagens que exijam mais gastos e mais mobilização. Redações mais pequenas e menos meios impedem um jornal de realizar mais trabalho de campo mas, para Patrícia Fonseca, este tipo de conteúdo traz ao jornal maior credibilidade e seriedade.

“Reportagens na Síria e etc podem não aumentar as vendas, mas dão credibilidade ao jornal e as receitas podem ser aumentadas nesse sentido. As reportagens não podem ter acabado porque isso é o fim do jornalismo. O jornalismo é reportar o que acontece no mundo. Não é alguém que junta uma série de palavras bonitas para dar lucro. Estamos em coma profundo em Portugal, mas há esperanças lá fora”, afirma.

Terminado o debate e após uma curta pausa, as IV Jornadas do Observatório do Jornalismo continuaram com a entrega dos prémios de Ciberjornalismo. O JPN, jornal do curso de Ciências da Comunicação, levou para casa o prémio de reportagem académica por votação do público com a reportagem “3º Pessoa do Singular“. Já o prémio do júri foi atribuído ao ComUM, pela reportagem “26 Km² de silêncio entre Portugal e Espanha“. Os restantes prémios podem ser consultados na página do evento.