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Ciência e Saúde

COVID-19: a volta ao mundo em 80 dias

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Era o último dia de 2019 quando foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 44 casos de pacientes com pneumonia de origem desconhecida na cidade de Wuhan, na China. A 7 de Janeiro, as autoridades chinesas identificaram a causa e atribuíram-na a um novo tipo de coronavírus – na altura denominado por “2019-nCoV”. A 13 de Janeiro, a Tailândia comunicou o seu primeiro caso e, dois dias depois, o Japão. Devido à sua alta capacidade de contágio, aos boletins desta terça-feira (24), o vírus já se tinha implementado em 196 países, áreas ou territórios.

Conhecer o vírus

O COVID-19 é a doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, anteriormente denominado 2019-nCoV. A designação SARS-CoV-2 significa “severe acute respiratory syndrome (síndrome respiratória aguda grave) – corona vírus 2”. Este vírus está geneticamente relacionado com o SARS-CoV, que causou a epidemia global de 2002-2003, também originária da China e que matou mais de 800 pessoas pelo mundo.

Intimamente relacionado com derivados da síndrome respiratória aguda de morcegos, este vírus é transmitido de humano para humano através de gotículas ou contacto directo e estima-se que a infecção tenha um período médio de incubação de 6,4 dias (que pode variar entre dois a 14 dias) e uma taxa de reprodução de 2,24 – 3,58.

A doença COVID-19 está associada a doenças respiratórias, sendo os seus principais sintomas a tosse, febre e fadiga – e há também uma pequena parte da população doente que apresenta sintomas gastrointestinais. As pessoas idosas e/ou com doenças crónicas subjacentes são propensas a resultados mais graves, no entanto a maior parte dos indivíduos com COVID-19 apresenta sintomas leves a moderados.

De surto a pandemia

A propagação deste vírus tem a taxa mais elevada vista até ao momento pela população mundial e foi considerado pela OMS como uma pandemia a 11 de Março. Popularmente, entre chefes de estado e profissionais de saúde, tem sido apelidada de guerra devido à radical alteração da rotina das pessoas de todo o mundo.

Até ao momento existem 334 981 casos confirmados de COVID-19 em todo o mundo e 14.652 mortes por complicações associadas à doença. O gráfico abaixo representa a distribuição do número de casos por zonas da OMS onde é possível observar um número crescente de novos casos (excepto na zona Pacífico Oriental, região da China) e também é possível observar tendências dignas de apontamento.

Evolução do número de casos a nível mundial. Fonte: Organização Mundial de Saúde

Evolução do número de casos a nível mundial. Fonte: Organização Mundial de Saúde

Na zona do “Paciente Zero” observou-se uma curva com um crescimento exponencial ao longo dos dias até à sua inflexão e actualmente verifica-se uma diminuição gradual do número de casos. A China conseguiu ultrapassar a epidemia com medidas extremas de restrição social, apoio à comunidade clínica, medidas de vigilância e intervenções de limpeza e higiene.

O primeiro caso de transmissão de SARS-CoV-2 na Europa foi registado a 24 de Janeiro na Alemanha e atualmente a Europa é a região com maior número de contaminados. A evolução da doença apresenta um declive mais acentuado do que a China revelou.

O caso europeu mais grave é indubitavelmente a Itália, com mais de 70 mil doentes. Segue-se a Espanha, com mais de 47 mil casos confirmados, e a Alemanha, que apesar de contar quase 36 mil casos regista uma taxa de mortalidade abaixo da média, com apenas 67 mortes confirmadas.

Portugal está em 15º lugar na lista da OMS com 2.995 infetados e 43 mortes. Portugal reportou o seu primeiro caso a 2 de Março e a sua evolução tem revelado o crescente exponencial observado noutros países cujo surto rompeu mais cedo.

Em comparação com Itália, Espanha ou Alemanha, que enfrentam uma conjuntura mais grave, a curva de evolução da doença em Portugal apresenta um declive menos acentuado do que a situação nestes países.

No entanto, esta desaceleração não deverá incutir falsas sensações de segurança à população portuguesa, como de resto apelam as autoridades de saúde.

Perspetivas para o futuro

Estudos científicos sugerem a continuidade do crescimento antes de o número de casos de COVID-19 estabilizar. Cientistas em laboratórios de todo o mundo têm trabalhado para produzir, em ensaios clínicos, vacinas e fármacos antivirais para combater a epidemia.

As vacinas só poderão entrar no mercado num período de doze a 18 meses ou até ser avaliada a sua segurança. No início da semana encontravam-se em ensaio clínico duas vacinas desenvolvidas pelos laboratórios chineses CanSino Biological, em parceria com o Instituto de Biotecnologia de Pequim, e também na empresa Moderna, em parceria com Instituto Nacional de Alergologia e doenças infecciosas. Existem mais 42 candidatos em fase pré-clínica de ensaios clínicos de variados institutos, universidades e farmacêuticas por todo o mundo.

Além das vacinas, os fármacos antivirais também têm sido utilizados em investigação básica com resultados promissores no tratamento dos sintomas da COVID-19. Estes fármacos foram anteriormente utilizados no combate a outros vírus, o que faz com que se possa garantir a sua segurança de imediato. O mais promissor é denominado Lopinavir ou Ritonavir, um inibidor de proteases que tem como principais alvos o HIV/AIDS, o SARS e o MERS.

Mas o melhor poder continua a ser a prevenção e nesse sentido é importante relembrar as premissas de higiene: lave as mãos, espirre ou tussa para o cotovelo, não partilhe objectos pessoais, mantenha os ambientes arejados e desinfecte os produtos que leva para casa. Cozinhe bem os alimentos e não consuma alimentos crus.

Se apresentar sintomas de febre, tosse ou falta de ar, não saia de casa e ligue para as entidades de saúde responsáveis.