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Sociedade

Teletrabalho: nova realidade diante da pandemia

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A partir do dia 20 de março, a rotina de Nicole Oliveira, assistente de marketing de uma empresa do ramo da educação, mudou completamente. Após o decreto do governo estadual do Rio Grande do Sul, estado do Brasil, sobre o fechamento das escolas até dia 30 de abril, a empresa de Nicole decidiu fazer teletrabalho.

“Foi correria porque tinha que apanhar anotações, senhas, ver se precisaria de acesso remoto, foi surpreendente”, relata. Segundo Nicole Oliveira, todos funcionários estão a fazer teletrabalho, mas ainda há algumas pessoas que estão a realizar atendimentos administrativo e financeiro em horários reduzidos nas sedes das escolas.

Já em Portugal, a rotina de Georgia Fagundes, assistente de marketing num call center, também mudou desde que foi anunciado o primeiro estado de emergência em Portugal – no total foram três períodos. A empresa na qual trabalha realizou o envio de pessoas para casa por cada setor até que todos os 500 funcionários estivessem a trabalhar em casa. “O meu foi o primeiro, por isso no começo enfrentámos muitas dificuldades”, relembra.

Um estudo realizado pela Universidade de Stanford aponta que trabalhar remotamente pode melhorar a produtividade em até 13%.  É o que relata Nicole Oliveira, que diz se sentir mais produtiva em casa devido à maior concentração na realização das tarefas. “Fico muito concentrada sozinha por não ter ninguém por perto para conversar”.

Apesar de a produtividade ter aumentado, a assistente de marketing sente uma maior responsabilidade individual na realização das atividades, opinião partilhada por Georgia Fagundes. Quando estava a trabalhar no escritório, Georgia conta que seus supervisores só conseguiam ver se ela estava em atendimento. Em teletrabalho, diz perceber que estão mais empenhados em acompanhar as chamadas dos colaboradores.

Além dessa questão, Georgia aponta que as falhas técnicas acabam por consumir mais horas de trabalho. “Começo a fazer os testes trinta minutos antes para chegar no meu horário e ter certeza de que tudo está a funcionar”, conta a assistente de call center. Antes de começar o teletrabalho, tanto Nicole quanto Georgia foram questionadas pelas empresas sobre a disponibilidade de computadores para trabalhar. Apesar de possuir um notebook, Georgia relata que teve de ir ao escritório buscar os equipamentos da própria empresa, entre eles um router para fornecer internet.

“A internet de consumo que temos em casa é muito diferente da internet empresarial do ambiente de trabalho”, explica Georgia Fagundes. Para Nicole, o acesso à internet também é um dos problemas de trabalhar em casa. “Não estou acostumada com a demora de uma hora para colocar um vídeo no YouTube”, desabafa. Além disso, relata sentir dores no pescoço por não ter uma cadeira adequada ao trabalho. “A depender do tempo que formos ficar de teletrabalho, vou ter que investir em uma cadeira melhor”, admite a assistente de marketing.

O maior desafio do teletrabalho, tanto para Georgia como para Nicole, é conseguir estabelecer uma rotina. A assistente de call center diz ficar perdida porque não precisa acordar todos os dias no mesmo horário, tomar banho e apanhar o autocarro. Para Nicole Oliveira, é preciso ter concentração para não se dispersar com os barulhos das pessoas que moram com ela e os vizinhos. As duas relatam dificuldade para regular a alimentação. Nicole chegou até a colocar alarme no telemóvel para lembrar de almoçar e fazer lanche.

O teletrabalho é uma experiência nova tanto para Georgia quanto para Nicole, que divergem sobre a preferência do modo de trabalhar. A assistente de call center diz preferir o local de trabalho por conseguir estabelecer uma rotina e encontrar os colegas. “O ambiente corporativo, ver os meus colegas e ter contato com os meus supervisores me faz aprender mais. Consigo ter alguém que está há mais tempo que eu na empresa do meu lado para trocar experiência”, explica.

Já Nicole Oliveira acredita que seria muito bom se pudesse sempre trabalhar em casa por se sentir mais produtiva e não precisar se deslocar até o local de trabalho. “O trânsito e os autocarros lotados são muito estressantes”, desabafa. A assistente de marketing acredita que a qualidade do teletrabalho depende muito das condições e estrutura da casa e da relação com as pessoas que nela moram. Nicole mora sozinha, mas decidiu passar a quarentena na casa dos pais. “É tranquilo, mas tem dias que são complicados. Se estivesse sozinha, poderia aproveitar a minha companhia e fazer as atividades no meu ritmo de trabalho”, conclui.