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Política

COVID-19: Os refugiados na União Europeia em tempos de pandemia

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Uma menina utiliza uma máscara protetora em Dhaka, Bangladesh. © Ritzau Scanpix/ UNHCR

Uma menina utiliza uma máscara protetora em Dhaka, Bangladesh. © Ritzau Scanpix/ UNHCR

Desde 2015, a crise migratória tem atingido países como a Grécia que tem fronteira com a Turquia. Segundo a agência humanitária Médicos Sem Fronteira (MSF), cerca de 50 mil pessoas pediram asilo ao governo grego apesar de os campos terem capacidade apenas para 6 mil ocupantes. As condições nestes locais são longe de serem ideais pois, além da sobrelotação, serviços básicos como eletricidade ou acesso a médicos são muito difíceis de serem distribuídos por todos aqueles que lá vivem.

A situação atual de pandemia  levou a que a crise migratória ficasse em segundo plano, mas as condições em que estes refugiados vivem e a dificuldade em garantir que o isolamento seja cumprido levou a que o governo grego juntamente com a UE começasse a tomar medidas. Após o aparecimento dos primeiros casos nas ilhas gregas, a desconfiança dos refugiados perante as autoridades locais aumentou, o que levou a protestos que resultaram num enorme incêndio, levando a que centenas de refugiados ficassem sem moradia em Quios.

Grécia, o epicentro da crise migratória na Europa

A Grécia por partilhar fronteira com a Turquia e também por ter várias ilhas no mar Egeu foi um dos primeiros países europeus a ser atingido pela crise migratória. Ao início, o país conseguiu controlar a entrada de imigrantes que foram colocados em campos ao longo do vasto território grego. No entanto, quando o número de pessoas residentes nestes locais excedeu a capacidade dos mesmos, a situação tornou-se dramática. Desta forma, a União Europeia decidiu fazer um pacto com a Turquia, que fecharia a sua fronteira com a Grécia em troca de fundos para auxiliar o gerenciamento dos refugiados que chegariam ao país.

Em fevereiro, Erdogan, presidente da Turquia, decidiu reabrir a fronteira, já que, segundo ele, “A União Europeia tem de cumprir as suas promessas.” Isto levou a uma tentativa de entrada descontrolada de milhares de pessoas enquanto a polícia grega disparava gás lacrimogéneo contra as multidões. O governo grego chegou mesmo a suspender, de forma temporária, o processamento de novos pedidos de asilo de imigrantes ilegais, alegando que estas pessoas estavam a ser usadas como “peões” por Erdogan de forma a aumentar a pressão diplomática na UE.

À espera do desastre iminente

Os refugiados são um dos grupos de pessoas mais vulneráveis numa pandemia. Os locais onde vivem geralmente localizam-se em áreas remotas e muito deles não têm um hospital perto ou mesmo condições sanitárias básicas. Os campos de refugiados que possuem um hospital, na sua maioria, este não está equipado com ventiladores suficientes, material médico extremamente necessário para lidar com esta doença.

Da mesma forma, devido à sua condição de refugiado, estas pessoas podem sofrer de condições pré-existentes como malnutrição que podem agravar um possível estado clínico de COVID-19. Além disso, como explicou Paul Spiegel, o diretor do Centro para a Saúde Humanitária da Universidade Johns Hopkins, é quase impossível ser feito o distanciamento social pois famílias inteiras vivem juntas em campos sobrelotados.

Os primeiros casos num campo de refugiados na Grécia foram a norte de Atenas, mas a situação revelou-se especialmente dramática na ilha de Quios. Um dos refugiados, que recebeu alta médica após um resultado negativo do teste ao COVID-19, acabou por morrer no campo. No entanto, os moradores acreditaram que a morte tinha ligação ao vírus, o que levou a vários conflitos entre os refugiados e as polícias locais. Três moradores acabaram por serem presos após um incêndio ter destruído grande parte do campo.

Refugiados “não podem ser deixados para trás”

O campo, localizado a norte de Atenas, onde foram detetados os primeiros casos foi imediatamente posto em quarentena. O primeiro-ministro grego disse que o governo pretende melhorar as condições encontradas nestes locais, mas, segundo o mesmo, “Grécia está basicamente a lidar com este problema sozinha. Não temos tido tanto apoio da União Europeia como gostaríamos”.

A WHO (Organização Mundial de Saúde) sugeriu uma série de medidas para proteger estas comunidades, incluindo o acesso a serviços de saúde, ultrapassando qualquer barreira de linguagem ou financeira e, também, o fornecimento de suficiente informação para que os refugiados não sintam receio em pedir auxílio. Desta forma, a UE decidiu que a melhor solução seria evacuar campos de refugiados na Grécia e assim permitir que os mais vulneráveis sejam deslocados para países onde a capacidade de atendimento médico será maior.

Neste processo, Portugal destaca-se como exemplo positivo. Além de o nosso país ser um dos primeiros da Europa a disponibilizar-se a acolher refugiados menores de idade oriundos da Grécia, Portugal decidiu tornar legais todos os refugiados ou imigrantes sem documentos, de forma a que estes tenham acesso ao sistema de saúde (SNS) como qualquer cidadão português.

Artigo elaborado por Beatriz Carvalho. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.

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