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Sociedade

Guia de Natal de 2020 na Invicta

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“Nenhum homem é uma ilha”, nas palavras de John Donne, e em 2020, esta frase nunca teve um sentido tão próximo e direto. Com o aperto das restrições como tentativa de evitar ajuntamentos, observa-se exatamente o contrário das recomendações da DGS para o Natal: Em vez de se limitar todas as celebrações e contactos nesta quadra festiva e manter o distanciamento físico em todos os momentos, observam-se filas intermináveis em supermercados, lojas de marcas multinacionais, e em centros comerciais. Surge, assim, um leque de consequências negativas associadas: trânsito, descuido nas regras contra a pandemia, uma ansiedade geral e pânico crescente com a aproximação do dia de Natal.

Em plena situação de pandemia, onde o isolamento físico, o uso de máscara, a distância e adaptação são necessários para evitar contágio, surge a necessidade de uma postura oposta: a aproximação com a comunidade e o apoio aos negócios locais que marcam a identidade da cidade. Realmente, nenhum homem é uma ilha, e esta não existe sem vida, toda ela diversificada. Não há vida sem movimento, sem cadeias alimentares de apoio mútuo. Para existir um, tem de existir o outro.

Em 2020, os negócios pequenos e a diversidade económica começam a diminuir. Gradualmente as grandes empresas prosperam, quase como tubarões a mais do que os cardumes. De acordo com dados da Oxfam – no seu relatório Poder, Lucros e Pandemia – as 32 empresas mais rentáveis do mundo lucraram US$ 109 mil milhões a mais durante a pandemia de covid-19 em 2020 do que a média obtida nos quatro anos anteriores (2016-2019). Nesse sentido, apela-se a um reforço de um Natal com consumo em moderação, e ao mesmo tempo solidário. Em particular, iremos dar foco à cidade do Porto, onde realiza-se um mercado de Natal.

O mercado de Natal situa-se na Praça da Batalha, sendo um habitual evento anual que conta com várias marcas portuguesas locais, que tornam o centro da cidade mais acolhedor e quente para todos os transeuntes . De 1º de dezembro até o dia 31, está disponível para todos. Durante a semana, o horário é entre as 10 e as 20 horas e durante os fins-de-semana e feriados segue o horário de 10h-13h. Nas vésperas de feriados será até às 15h, exceto dia 24, que será até às 16h. Note que os horários serão adaptados de acordo com as orientações governamentais e municipais. 

Foto: Inês Aires

Neste mercado, pode encontrar produtos nacionais, desde brinquedos, vestuário, joalharia, artesanato e até gastronomia. Diversificado em categorias, não faltam ideias de presentes originais, criativos e especiais, que ao mesmo tempo fazem com que se evite a compra em centros comerciais, onde nunca se vê a cara do fabricante. Aqui, vê-se o reflexo dos produtos no olhar de quem os faz, os quais orgulhosamente mostram o carinho que têm pelo que produzem. Adicionalmente, não deixaremos escapar as decorações e as casinhas de madeira que constituem o mercado, um elemento que sobressai à primeira vista para quem lá visita. 

Em conversa com o JUP, a organizadora do mercado, Maria Sá Carneiro, conta-nos as origens deste evento e o seu percurso profissional. Licenciada em Direito, prosseguiu a sua carreira na área da restauração e acabou por receber o seu primeiro convite para fazer um mercado, mais relacionado com gastronomia, pela União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Mais tarde, há 5 anos atrás, realizou o primeiro Mercado da Alegria, no Jardim do Passeio Alegre, onde contou com várias marcas locais que iniciaram os seus projetos em plena crise económica, sendo essa crise um dos fatores que motivou o começo de muitos negócios locais.

A maior parte destes projetos são locais e pertencentes a pessoas que se dedicam a tempo inteiro e não como apenas um passatempo temporário. 

A relação entre os participantes e todos os envolvidos no mercado é de grande proximidade, quase como uma família, que se apoia mutuamente, mesmo com as diferenças habituais de cada um. Torna-se um ambiente bastante próximo, o que não acontece na maior parte das lojas que se encontram num centro comercial. Maria Sá Carneiro conta-nos também que a partir do Mercado da Alegria, recebeu um convite para organizar um novo mercado, que mais tarde viria a ser o Mercado de Natal na Praça da Batalha, que passou a ocorrer durante a época natalícia e também com uma edição na Páscoa, iniciando-se há 3 anos atrás. Antes da pandemia, o mercado contava com vários elementos, que contribuíram para um maior conforto tais como mesas e cadeiras, chocolate quente, provas de vinho, além dos enfeites natalinos que permanecem mesmo em tempos de pandemia. 

Especialmente para este evento, foram construídas as casas de madeira e todas as decorações, sendo uma característica particular, . Ambos os mercados contribuem bastante para o turismo da cidade do Porto, e ao ser questionada relativamente ao apoio da Câmara Municipal do Porto, indica que esta tem sido incansável, de uma forma positiva, em apoio aos negócios locais que fomentam a vida e as qualidades que pintam a nossa cidade. Apesar de se viver em tempos de pandemia – tempos difíceis e que desaceleram o ritmo habitual dos mercados –  Maria Sá Carneiro refere que “para o bem e para o mal, estaremos sempre cá ”, confirmando que, dadas as circunstâncias, está disposta a lutar pela realização dos mercados e por esta família de pequenas marcas, que se adaptam de forma a satisfazer as necessidades impostas pela pandemia. 

Em breve o mercado também terá uma edição online, contando com um site disponível para quem preferir evitar sair.

Depois desta pequena entrevista feita à organizadora do mercado, durante o mercado de Natal em plena Praça da Batalha, onde prevalecem cheiros, sons e sentimentos que remetem a família e o conforto da nossa casa, é de destacar a necessidade de apoiar este tipo de eventos, que acolhe todos os que se aventuram pelo centro da cidade durante época de Natal e são levados a encontro de produtos artesanais que, de todos os géneros, cativam e sem dúvida trazem à tona um sentimento importante de que se precisa em tempos de confinamento, quando realmente “nenhum homem é uma ilha”. Muitas são as marcas que pintam o mercado de várias cores e contribuem para a identidade que é o Porto. Não só é mais seguro, evitando locais fechados e concentrados de pessoas, como também contribui para um Natal especial, ainda que diferente da habitual confusão e ajuntamento dos transeuntes em época natalícia.