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Sociedade

Em época de pandemia, cresce o vírus da xenofobia contra asiáticos

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Foto: Ansa

Os chineses que estão em países ocidentais denunciaram variadas situações de xenofobia. De acordo com a RTP Notícias, os relatos vão desde insultos em público até recomendações para que as pessoas evitem lojas e restaurantes chineses, além de proibições – públicas – da entrada de chineses em estabelecimentos.

A xenofobia contra asiáticos na Itália

Cerca de 5 milhões de turistas chineses visitavam a Europa anualmente. França, Espanha e a Itália, fonte de gigantesco turismo e cultura, são os países europeus mais visitados pelos asiáticos. Em território italiano, os dois primeiros casos de coronavírus confirmados por um casal que viajou de Wuhan até Milão decolaram o início de vários casos de xenofobia.

Em Roma, ainda de acordo com a RTP Notícias, um diretor de conservatório chegou a dizer aos estudantes vindos da China, Japão e Coreia do Sul para “não irem às aulas até que fossem vistos por um médico e confirmassem a ausência de infeção por coronavírus”. 

Mesmo locais muito populares turisticamente, como a Fontana di Trevi, não escaparam ao acontecido: um café colocou um aviso à porta com a proibição da entrada de pessoas vindas da China. Em Itália vivem, no mínimo, 300 mil chineses.

A xenofobia também se tem feito sentir na França

Os habitantes chineses na França também compartilharam casos de preconceito no início da pandemia, quando criaram nas redes sociais a hashtag #JeNeSuisPasUnVirus (“Eu não sou um vírus” em tradução livre).

Em março de 2020, as publicações foram diversas. “Um asiático que tussa não tem o coronavírus. Insultar um asiático por causa do vírus é como insultar um muçulmano por causa do terrorismo”, escreveu uma mulher no Twitter. Um jornal francês, Courrier Picard, chegou a ser criticado por ter publicado uma manchete com o título “Alerta Amarelo” em referência ao coronavírus e aos chineses.

Em Portugal, casos de xenofobia são relatados por ascendentes de chineses

Aline Cheong tem 20 anos, é estudante brasileira, descendente de pai sino-brasileiro e mãe sul-coreana; a estudante veio a Portugal licenciar-se em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. No momento da entrevista ao Jornal Ângulo, Aline Cheong estava no Brasil em visita aos familiares para as festas de fim de ano, e amedrontava-a a ideia de ter que voltar a Portugal por causa dos casos de racismo que sofreu durante todo ano de 2020: “foram várias situações que me deixaram muito abalada”. 

Aline Cheong conta que não costumava sentir o preconceito em São Paulo, cidade onde nasceu, por causa da grande comunidade asiática que existe no estado brasileiro. Entretanto, durante a pandemia, viu o preconceito crescer: 

“Eu sinto que na pandemia eu percebi mais que existe esse preconceito, essa xenofobia contra asiáticos. E aumentou muito mais também. Me impactou muito porque eu nunca tinha passado por uma situação assim, que me afetasse tanto. E aí com essa pandemia, comecei a passar por essas situações de escutar nomes… Chamam os chineses de ‘chinoca’… Nos metros, nas ruas, as pessoas se afastando de mim só porque eu tenho o rosto de chinesa e associam isso ao coronavírus, acham que eu estou infectada”.

Quando explica mais detalhes sobre as ocorrências, esclarece que, em uma das situações, estava no metrô, voltando da faculdade, quando um grupo de adolescentes entrou: “Um dos meninos estava com o pai e falou ‘pai, afasta dessa chinoca porque ela tem corona’. Enfim, essas situações eu nunca revido, porque tenho medo de ser agredida, das pessoas não me ajudarem”.

A primeira vez, entretanto, ocorreu em Viena, numa viagem a lazer antes da pandemia ter atingido a Europa com intensidade. A estudante conta que já havia visto publicações de ascendentes de chineses relatando as situações de xenofobia sofridas, e preparava-se para a possibilidade de também sofrer preconceito: “Eu estava vendo na internet muitos casos de descendentes de asiáticos no mundo todo que estavam passando por isso – por situações xenofóbicas. A primeira situação foi em Viena, quando eu estava fazendo patinação no gelo, e um dos meninos passou por mim e gritou ‘coronavírus’”. 

Quando se refere a frequência com a qual os casos ocorriam, Aline Cheong esclarece: “Sempre que eu saía para ir para a faculdade, ou escutava alguma coisa que eu não gostava, ou via pessoas se afastando de mim. Era com frequência, era toda vez que eu tinha que sair de casa… Eu só escuto palavras soltas… ‘Coronavírus, chinoca, afasta dela, ela tem coronavírus’. Essas situações acabam com o meu dia”. 

Também é o caso da estudante de Engenharia Informática Denise*, de 22 anos, descendente de chineses e cidadã portuguesa. “Sinceramente, eu senti um bocado um acréscimo na xenofobia durante a pandemia. Acho que durante a pandemia as pessoas ficaram mais abertas em relação ao seu racismo; sinto que usaram quase o vírus em si como se fosse uma desculpa para atacar”. Denise conta que, no início da pandemia, deparava-se com “pessoas a fingir que estavam a tossir e a dizer ‘coronavírus’… Isso aconteceu várias vezes”. 

Ana Ye, estudante de Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, é descendente de chineses e mora em Portugal. No relato da Ana Ye, conta que não sofreu casos de xenofobia no período da pandemia – explica que sempre foi muito recebida pelos cidadãos portugueses. 

Entretanto, a estudante expõe relatos de preconceitos vividos antes da pandemia. Seus pais eram donos de um estabelecimento comercial* situado em Lisboa, e não são totalmente familiarizados com a língua portuguesa. Por causa disso, Ana Ye costumava receber os clientes na loja – e acabava escutando insultos “pelo menos quatro a cinco vezes ao mês”.

“Agora a loja dos meus pais já fechou. E os meus pais, como eles não falam tão bem português como eu, tem dificuldades de se expressar e defender eles próprios quando estão perante as situações de discriminação que sofrem. Eu me senti feliz quando fecharam a loja, porque neste momento eles já não precisam de estar a enfrentar estes tipos de situações”

Quando Ana Ye detalha mais as situações vividas, esclarece que o preconceito veio desde jovens até pessoas mais velhas e repete algumas das frases que ouviu: “Acho que acontece com todas as pessoas que têm lojas chinesas. Esse preconceito com as lojas chinesas… ‘Coisas que não prestam, que [os chineses] só estão em Portugal para roubar os portugueses, que estão a conquistar Portugal, que não pagam impostos’…”.

*Nome fictício, pois a entrevistada preferiu não se identificar

*O nome do estabelecimento comercial não foi revelado por vontade da entrevistada

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