Sociedade

A vulnerabilidade dos sem-abrigo e o trabalho do CASA Porto

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Ilustração: Rachel Merlino

Muitos portugueses têm sido vítimas dos entraves causados pelo aparecimento do novo coronavírus. Com o número de horas de trabalho reduzidas e com o encerramento obrigatório de vários estabelecimentos têm surgido várias repercussões económicas o que leva à quebra dos rendimentos e, em muitos casos, ao desemprego.

Com isto, os números de pedidos de ajuda a associações têm vindo a aumentar desde o início da pandemia. Em entrevista ao JUP, Ana Salão – coordenadora do Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA) do Porto – afirmou que atualmente a associação serve cerca de “700 refeições por semana” a pessoas carenciadas. Segundo a responsável, “o número de refeições distribuídas triplicou” com o primeiro confinamento que se iniciou em Março do ano passado. Este número tem se mantido desde então, mas com uma tendência de crescimento recente.

No momento o CASA Porto apoia em torno de 100 famílias carenciadas com a entrega de cabazes de 15 em 15 dias. Os pedidos de ajuda chegaram também aos três restaurantes solidários geridos pelo Centro de Apoio onde são distribuídas cerca de “600 refeições por dia”. Além de distribuir refeições quentes, fornece também outros auxílios como roupa e produtos de higiene. Os sem-abrigo, as famílias carenciadas e os recém-desempregados são aqueles que mais procuram a ajuda da associação. Embora a associação preste maior auxílios no Porto, Ana Salão declarou que grande parte dos pedidos de ajuda são oriundos de concelhos limítrofes onde não existem respostas apropriadas.

A atual situação também criou obstáculos às associações que procuram ajudar os que mais precisam, a coordenadora do CASA afirmou que existiram dificuldades em manter os auxílios prestados: “as recolhas habituais nos hipermercados foram suspensas, pelo que foram as empresas e os particulares que nos ajudaram a continuar a desenvolver os nossos apoios”.

Contudo, é importante salientar que as restrições impostas pelo Governo não perturbaram a regularidade com que o Centro de Apoio aos Sem-Abrigo do Porto oferece auxílio aos mais carenciados. “Acionamos o nosso plano de contingência de forma a continuar a desenvolver o nosso trabalho de forma segura tanto para os utentes como para os voluntários”, frisou Ana Salão. O plano de contingência previa “equipas menores” e as refeições ao serem distribuídas em formato “Take Away” permitiram que não fosse necessário “um número tão elevado de voluntários”, desta forma apesar de um “grande número de voluntários por motivos pessoais e familiares” ter sido forçado a suspender as suas ações de voluntariado de forma provisória não pôs em causa o funcionamento da associação.

Com o distanciamento social a ser regra e com o país cada vez mais fechado em casa, as populações que por si só são mais isoladas, como é o caso dos sem-abrigo, sofrem com várias consequências. Muitas vezes estas populações acabam por ter uma grande invisibilidade no quotidiano das cidades caindo, por vezes, no esquecimento.

No passado mês de Janeiro foi registado um longo e duro período de frio no nosso país que afetou em especial a região Norte, e como era de esperar os sem-abrigo foram os mais afetados pela situação. Quando questionada sobre os auxílios prestados durante este período, Ana Salão afirmou que a associação esteve envolvida no “Plano de Emergência da Vaga de Frio” acionado pela Câmara Municipal do Porto. A entrevistada salientou que “foram criados alojamentos temporários, foram abertas estações de Metro onde se instalaram todas as noites camas para que as pessoas pudessem pernoitar neste local”, estas medidas foram acompanhadas pela “distribuição de refeições quentes, roupa e cobertores a todos”, acrescentou ainda que a proteção civil foi responsável pelo transporte das pessoas desde “os seus locais habituais de pernoita até à estação de metro onde estariam abrigados”.

A pandemia e tudo em torno do distanciamento físico acabou por transportar consigo um afastamento emocional por parte das pessoas mais carenciadas. A responsável do CASA Porto confirmou a situação e explicou que apesar de as equipas de rua tentarem que tal não aconteça, são os “próprios utentes que, procurando maior distanciamento, acabam por levantar a refeição e ir embora ao contrário de antigamente que ficavam a conversar connosco”. Ela acrescentou ainda que também observa esta situação nos restaurantes solidários uma vez que são diversas as pessoas que recorrem aos mesmos e “acabam por pegar na refeição e ir embora”.

A COVID-19 trouxe consigo várias consequências tanto a nível económico como a nível emocional. Sem um abrandamento da pandemia em vista, e com o número de pedidos de ajuda a ter tendência a crescer, é importante tentar manter os auxílios aos que mais necessitam. 

 

Artigo da autoria de Inês Santos. Revisto por Laís França.

Ilustração de Rachel Merlino.

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