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Sociedade

Ações do presente a pensar o futuro: Inovação

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Ilustração: Rachel Merlino

As mudanças a nível climático sempre foram registadas no nosso planeta, contudo no último século o ritmo entre estas variações climáticas tem sofrido uma grande aceleração e a predisposição é que atinja proporções cada vez mais desastrosas se não forem tomadas medidas urgentes.

Várias consequências do aquecimento do planeta já podem ser observadas, como o derretimento dos glaciares, a subida dos níveis da água do mar e a frequente ocorrência de ondas de calor e secas que ameaçam a produção de alimentos e podem representar uma ameaça para as economias das sociedades mundiais.

Podemos dizer que estamos a viver um momento decisivo para toda a espécie humana e se o ser humano não tomar prevenções urgentes será cada vez mais difícil adaptar-se aos efeitos avassaladores do aquecimento global. Neste primeiro capítulo da coluna, a inovação no setores alimentar e energético são discutidas a partir do lançamento do livro mais recente de Bill Gates: “Como evitar um desastre climático: as soluções que temos e as inovações necessárias”. Publicado no passado mês de fevereiro, Gates apresenta soluções para combater o possível cenário catastrófico provocado pela crise climática sob a noção da inovação.

O pensamento de mudança

Bill Gates, um dos fundadores da empresa multimilionária Microsoft, mostrou preocupação com a nova ameaça mundial – o aquecimento global. Gates, frisa a importância de a crise ambiental provocada pela emissão massiva de gases de efeito de estufa estar completamente resolvida até 2050, tendo como objetivo passar de 51 milhões de toneladas de gases emitidos, anualmente, para zero.

As alterações climáticas são mais difíceis de resolver do que uma pandemia”

Na sua mais recente entrevista ao programa 60 minutos, Bill Gates ressaltou que “Sem inovação, não resolveremos a mudança climática. Nem chegaremos lá perto.” O bilionário revela que nos próximos 30 anos o mundo necessita de avanços científicos, inovações tecnológicas e uma cooperação global em grande escala. Salientou ainda que não será fácil, mas que atualmente existem mais pessoas instruídas do que no passado e que ele próprio tem o preconceito de acreditar que a inovação pode fazer tais coisas.

O antigo líder da Microsoft já investiu vários biliões de dólares em novas tecnologias apelidadas de “tecnologias verdes”. Uma das empresas na qual tem investido é a CarbonCure. Na entrevista Gates explicou que a empresa “coloca CO2 no cimento e mistura-os”, ao injetarem o dióxido de carbono no cimento torna-se impossível que este seja lançado para a atmosfera.

Com a criação de gado a corresponder a cerca de 4% da emissão dos gases de efeito de estufa, Gates apoia duas empresas que fabricam substitutos vegetais para a carne bovina: Impossible Foods e a Beyond Meat. Contudo, cultivar em massa os vegetais utilizados para criar diversas alternativas à carne também poderá emitir gases, neste sentido, o bilionário está a apoiar no momento, uma empresa que concebeu uma fonte de alimentos completamente nova.

Vista do Gêiser em Yellowstone. Foto: Cortesia de Nature’s Fynd

Durante a conversa com Anderson Cooper, o filantropo fala sobre a empresa Nature´s Flyd. A empresa criou uma proteína  totalmente nova através da utilização de fungos. Descoberto em um projeto de pesquisa da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), o fungo utilizado é um micróbio encontrado num gêiser no Parque Nacional de Yellowstone nos EUA. Uma alternativa nutricional que pode ser cultivada, sem solo e sem fertilizante, para produzir a proteína que mais tarde poderá ser transformada numa grande variedade de alimentos com pouca emissão de carbono.

“Esta empresa, a Nature’s Fynd, está a utilizar fungos. E então eles transformam-nos em linguiça e iogurte. Muito incrível”

Bill Gates não está preocupado apenas em eliminar futuras emissões de CO2, o fundador da Bill & Melinda Gates Foundation está a investir na captura direta do ar, um processo ainda em experimentação, para remover todo o dióxido de carbono da atmosfera.

Faz ainda parte do seu plano climático para salvar o planeta Terra uma enorme revisão ao nosso atual sistema de energia. Gates acredita no potencial da energia solar e da energia eólica, contudo não deixa de parte o seu avultado interesse pelo desenvolvimento da energia nuclear.

Gates, acredita que os seus gastos com tecnologias de compensação, conhecidas como offsetting technologies, e a adoção de soluções de energia não poluidora são eficientes para diminuir a sua pegada ecológica negativa. Na reta final da entrevista, afirma que, atualmente, começou a comprar combustível para avião fabricado com plantas, que mudou para um carro elétrico e que utiliza painéis solares.

Muitos críticos opõem-se e discordam que o plano idealizado por Bill Gates seja suficiente. Contudo, é difícil de negar que Gates conseguiu, com o seu pensamento de mudança, chamar a atenção pública global para a situação de emergência climática que pode ser desastrosa para a humanidade e que conseguiu suscitar conversas sobre o tema.

A questão da inovação a nível alimentar já chegou a Portugal

Existem no nosso país várias iniciativas em função do desenvolvimento do setor alimentar, como é o caso do MobFood. Este é um projeto promotor do setor agroalimentar nacional que terá a capacidade de dar respostas eficazes aos desafios do mesmo.

Esta iniciativa mobiliza o conhecimento cientifico e tecnológico e engloba 43 entidades do setor em torno da criação de novas estratégias de crescimento apoiadas no reforço da capacidade tecnológica, de inovação e de I&D. Esta cooperação entre as empresas poderá contribuir para o surgimento de novos produtos e novos processos. Com esta iniciativa tenciona-se que o setor alimentar nacional se torne sustentável, interligado, seguro e eficiente na utilização dos recursos.

Uma prova da inovação é o projeto OrangeBee. Este é um preparado alimentar à base de aquafaba com uma camada de geleia de casca de laranja e polvilhado com pólen apícola que pode ser utilizado como sobremesa e reutiliza desperdícios da indústria alimentar. Foi desenvolvido por duas alunas de Mestrado na Universidade de Aveiro e foi o grande vencedor da competição europeia de eco-inovação alimentar no ano passado. Este preparado fermentado tenciona ser uma alternativa vegetal ao iogurte e foi considerado por Christoph Hartmann, da Nestlé, como um “excelente contributo para o futuro da inovação alimentar”.

 

Texto de Inês Santos. Editado por Laís França.