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Sociedade

Portugal no top 3 dos países europeus com maior incidência de depressão e ansiedade

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Foto: Katie Crawford

Portugal está entre os três países europeus com maior prevalência de depressão. Na União Europeia, quatro em cada 100 pessoas foram diagnosticadas com depressão e cinco em cada 100 com ansiedade. No caso dos portugueses, a ansiedade ultrapassa os sete casos por 100 pessoas, valor que surge a par dos da Holanda e Irlanda.

Tradução da fonte: Estudo Global de Carga de Doenças, Instituto para Métricas e Avaliações de Saúde (http://ghdx.healthdata.org/gbd-results-tool)

Estes dados estão, contudo, incompletos. Nem todos os pacientes que sofrem deste tipo de doenças chegam a pedir auxílio ou a ser diagnosticados. A depressão e ansiedade fazem parte da lista de doenças mais comuns, mas os tabus que impedem que sejam faladas revelam-se ainda mais preponderantes. A  principal razão que sustenta este facto é o estigma que existe ainda em torno da doença mental. Além de um indivíduo com sintomas, não raras vezes, crer que está bem ou que um tratamento não irá surtir resultados positivos; sente vergonha em recorrer a um psiquiatra. 

Um relatório de 2017 financiado pela Comissão Europeia, retrata que, comumente, quando os indivíduos consultam os médicos com sintomas, tais como insónias e fadiga, é ignorada e não detetada a origem desses problemas. Javier Prado, porta-voz da Associação Nacional de Psicólogos Clínicos e Residentes da Espanha (ANPIR) alerta que “se não forem atendidos na hora e da maneira correta”, estes casos acabam por gerar “uma deficiência muito significativa”.

Vários são os países que retratam ter as condições favoráveis para sustentar estes problemas. No entanto, na prática, não fornecem o suporte necessário. Quais são então as barreiras do Sistema Nacional de Saúde que inibem o tratamento das doenças mentais?

O copagamento – entre o público e o privado

À semelhança do que ocorre com a medicina dentária, também os tratamentos de doenças como a depressão e ansiedade não são financiados pelo estado. O sistema privado domina o público. No caso português, não há ainda dados concretos de quantas horas tem um cidadão de trabalhar para conseguir pagar 1h de sessão num psiquiatra. Sabe-se apenas que está dentro do top 10 de países em que o esforço é mais significativo.

Tradução da fonte: Eurostat, Eurofound e organizações nacionais de profissionais de psicologia (www.europeandatajournalism.eu/)

No caso português, não há ainda dados concretos de quantas horas tem um cidadão de trabalhar para conseguir pagar 1h de sessão num psiquiatra. Sabe-se apenas que está dentro do top 10 de países em que o esforço é mais significativo.

A título de exemplo, veja-se o caso da Itália. Uma sessão custa, em média, 19,37€. Sendo o salário mínimo de 883€, por mês (bastante superior ao de Portugal), é sabido que um indivíduo tem de trabalhar cerca de 3h9min para pagar a sessão. Como consequência do ponto anterior, muitos são os pacientes que frequentam um número reduzido e insuficiente de sessões, o que leva a que não cumpram com rigor as indicações médicas, nem os tratamentos.

Falta de recursos humanos

O número de especialistas no sistema público é marcadamente reduzido. Tendo em consideração que o número recomendado é de 20 profissionais de saúde por 100 mil habitantes, Portugal tem apenas uma média de 9,60 com quem contar.

Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos, confirma esta escassez, afirmando que “independentemente de este plano [linha de apoio psicológico à população] ter sido ativado, é impossível fazer omeletes sem ovos. Todos, mas mesmo todos, temos de ter esta noção. Por muitos esforços que as equipas possam fazer, o número de psicólogos no SNS é muito escasso”. 

As infinitas listas de espera

Pelo referido anteriormente, as listas de espera são significativas. A análise europeia de 2016 confirmou que,  nos países mais ricos, o tempo de espera é maior. Os portugueses têm de aguardar entre 3 a 4 meses para conseguir uma marcação com um profissional da área. 

No momento pandémico que se vive atualmente, esta é uma temática que ganha ainda mais destaque. Portugal, em parceria com o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), participou no inquérito internacional “Life with Corona”. 

Até ao início de março, depois da Alemanha, Portugal apresentou-se como o segundo país com maior número de participações. Foi também apurado que grande parte da população apresenta sintomas ligeiros de depressão e ansiedade e cerca de 50% dos portugueses apresenta sintomas mais graves.

Vários têm sido os estudos feitos relativamente à  doenças mentais, mas a caminhada é ainda muito longa. Cada um de nós pode marcar a diferença, basta estar atento àqueles que nos são próximos e saber identificar possíveis sintomas. 

Texto de Adriana Castro. Editado por Alexsyane Amanda R. Silva.

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