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Crise entre a Rússia e a Ucrânia: O que é necessário saber sobre o conflito.

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Veículos russos na Crimea / AP; Fonte

O perigo de uma invasão da Ucrânia parece ser cada vez maior. Ainda que a Rússia afirma não ter planos de atacar, as suas ações militares causam alerta. Tanto a União Europeia como os seus aliados estão a dialogar com Moscovo sem grande sucesso, além de se ameaçar com “consequências e custos severos”, de acordo com um comunicado conjunto dos chefes da diplomacia da EU. Sendo assim, o que significa este conflito? Quais poderiam ser as suas consequências? Serão então resumidos os seus pontos principais.

Qual é a origem do conflito?

Desde o fim da guerra fria e a sua independência oficial em 1994, a Ucrânia distanciou-se do legado da URSS e aproximou-se das potências ocidentais. A porção do leste do país ainda retém parte da sua antiga lealdade aos russos, enquanto que a parte oeste (onde se encontra a capital) parece desejar compactuar com a EU.

A última crise deu-se com a anexação da península de Crimeia. Em resposta aos movimentos que exigiam maior integração europeia em 2013 e a consequente destituição do então presidente ucraniano que tinha posições pró-russas, o governo de Putin decidiu anexar o então território ucraniano em 2014 e ainda, fornecer apoio as revoltas separatistas no leste da Ucrânia. Estas rebeliões já deixaram cerca de 14.000 mortos e tanto a Ucrânia como as potências ocidentais afirmam que o governo de Putin tem enviado soldados e armamento aos rebeldes durante os últimos oito anos.

Portanto, é possível afirmar que a tensão entre os dois países não é recente.

Quais são os motivos da atual crise?

A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é uma aliança militar formada em 1949, inicialmente consituída por 12 países, entre os quais os EUA, a França, o Canadá e o Reino Unido. No caso de um ataque armado a qualquer um dos seus membros, os outros integrantes da organização são obrigados a fornecer ajuda militar. Atualmente, a Ucrânia é um “país parceiro” da OTAN, o que significa que poderia ser, no futuro, parte dos 30 membros atuais desta organização.

A Rússia não deseja que a Ucrânia seja partícipe da OTAN. Em palavras do vice-ministro do Exterior russo: “Para nós, é absolutamente obrigatório assegurar que a Ucrânia nunca, nunca mesmo, se torne membro da OTAN.”

O presidente russo Vladimir Putin afirma que esta potencial aliança está “a cercar a Rússia”. Em consequência, o governo de Putin está a procurar garantias legais de que esta aliança não se expanda ainda mais ao leste da Europa e que não utilize armamento que ameace o território russo. Isto significa que, se a OTAN aceitar as exigências de Moscovo, a aliança teria que retirar as suas unidades de combate da Polónia e das repúblicas bálticas. Tal também significa que os EUA não poderiam instalar armas nucleares fora dos seus territórios nacionais.

Deste modo, nem as potências ocidentais, nem a Rússia, têm tornado públicos os detalhes das negociações, parecendo então que as principais exigências de Putin (A Ucrânia ser excluída da OTAN e o fornecimento de garantias de que não se realizará uma expansão da aliança no Leste) têm sido rejeitadas.

Putin em visita à frota russa / AFP; Fonte

Ucrânia será invadida?

Ainda que a Rússia afirme que não invadirá a Ucrânia, Putin mantém a congregação das suas tropas na fronteira com este país sem fornecer nenhuma explicação e o Pentágono afirma que os russos continuam a reunir tropas. Também se destaca que a Rússia enviou soldados e tanques para Belarus, um dos seus países aliados.

O quão iminente é uma possível invasão? Enquanto que as autoridades norte-americanas alertam que uma invasão russa pode acontecer em fevereiro, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirma que a ameaça é “perigosa, mas ambígua” e não está seguro da ocorrência de um ataque. Outros pontos de discussão entre os analistas são os supostos, futuros ataques serem aéreos ou terrestres, e os fatores não geopolíticos (como o clima) que podem influenciar a decisão russa.

Quais seriam as possíveis consequências do conflito?

O presidente norte-americano Joe Biden e diversos líderes da EU reuniram-se por videoconferência e, durante esta reunião, todos concluíram que existe um “desejo compartilhado” para uma saída diplomática e afirmam que, se a Rússia invadir a Ucrânia, as “consequências seriam massivas.”

Mesmo que países como os EUA e o Reino Unido discutam fortes sanções económicas, não existe uma concordância definitiva sobre quais seriam exatamente estas consequências por parte da Europa. Isto deve-se ao facto de que alguns países, como a Alemanha, a Áustria e a Hungria, estão mais ligados à economia russa que outros membros da EU. A especialista em segurança do Centro de Políticas Europeias, Amanda Paul, afirma:  “Sancionar a Rússia também pode ter consequências para a EU porque as economias estão interligadas” e “Pode haver custos a pagar que alguns Estados-membros não estejam dispostos a pagar.” Também não está claro se o ocidente estaria disposto a apoiar a Ucrânia militarmente, visto que o país ainda não é membro da OTAN. Não obstante, depois da videoconferência da OTAN,  Biden afirma que existe “total unanimidade” entre os aliados.

No que toca ao futuro da Ucrânia, se o país for invadido, existem diversas possibilidades. Estas dependem dos objetivos, ainda desconhecidos, da Rússia. Alguns analistas afirmam que pode acontecer uma invasão limitada ao leste do país, ou um incremento do apoio aos movimentos separatistas desta região. Outro cenário, divulgado pelo Reino Unido, aponta a que a Rússia pretende derrubar o atual presidente ucraniano. No entanto, também é provável que Putin decida não invadir, visto que poderia ser catastrófico para o seu governo devido às suas consequências, especialmente no que respeita ao custo económico, o possível número de baixas e sanções por parte do ocidente.

O que está a ser feito para evitar o conflito?

Biden e Putin na Suíça, ano 2021. / AP; Fonte

Atualmente, alguns civis ucranianos estão a prepararem-se com treino militar e tanto o Reino Unido como os EUA estão a fornecer equipamentos e provisões. Mesmo assim, atualmente existe um forte ênfase na diplomacia e as negociações entre os países envolvidos.

O governo russo alerta que a rejeição por parte das potências ocidentais das suas principais exigências está a levar a crise para um “beco sem saída”. No entanto, são esperadas mais intervenções diplomáticas. Segundo o Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, tanto os aliados da Rússia como a própria OTAN “expressam a necessidade de retomar o diálogo”. Além disso, o presidente da Ucrânia pretende realizar uma cúpula internacional para resolver a crise.

É evidente que o objetivo dos Estados Unidos da América, do Reino Unido e da União Europeia é evitar qualquer conflito através de meios diplomáticos e através de meios coercitivos, como ameaças de possíveis sanções. Contudo, grande parte do futuro desenvolvimento da crise depende exclusivamente das ações russas e do que estão dispostos a fazer para cumprir os seus objetivos. Mesmo que a tensão continue a aumentar, é provável que uma possível solução no que respeita ao conflito possa ainda demorar vários meses.

 

Escrito por Natália Vásquez.

Revisão por Beatriz Oliveira.

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