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Sociedade

Christina Yuna Lee, mulher asiático-americana, é brutalmente assassinada em Nova Iorque

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Splice / Twitter; Fonte

Christina Yuna Lee (35) voltou para o seu apartamento no bairro Chinatown, na cidade de Nova Iorque, perto das 4:30h da madrugada. Os vídeos obtidos a partir das câmaras de segurança do lugar, divulgados por The New York Post, mostram Lee após sair do táxi, na rua Chrystie até ao edifício onde morava e também enquanto subia as escadas até ao seu apartamento no sexto andar. Durante todo o trajeto foi seguida por um homem desconhecido, mais tarde identificado como Assamad Nash (25).

“Ele seguiu-a durante seis andares e ela nunca nem soube que ele estava lá”, disse o dono do edifício, Brian Chin, de acordo com a CBS2.

Logo depois de Lee chegar ao seu andar, os seus vizinhos no edifício escutaram gritos, e consequentemente decidiram ligar para a linha de emergências.

Vídeo da câmara de seguridade / The New York Post; Fonte

Após ter chegado, e enquanto tentavam abrir a porta do apartamento, a polícia também ouviu gritos. Estes rapidamente se transformaram em silêncio. Outra voz diferente, aparentemente feminina, gritou desde o interior do lugar, suplicando para que a polícia se fosse embora, porque não era necessária no lugar.

A porta foi finalmente aberta por uma equipa especializada, encontrando então as autoridades o corpo da mulher asiática-americana na banheira. Christina Yuna Lee morreu porque foi esfaqueada mais de 40 vezes pelo seu agressor.

Assamad Nash, o assassino e associado à voz anteriormente escutada pela polícia, estava em baixo da cama da vítima e tentou escapar pela janela ao ser descoberto. Foi detido pelas autoridades, sendo seguidamente levado ao hospital Bellevue por causa dos cortes e feridas que apresentava no seu corpo.

Não foi o primeiro crime cometido pelo agressor: Nash tinha historial criminal, incluindo fuga das autoridades, mas, de acordo com os registos do tribunal dos EUA, foi libertado sob supervisão. O anterior levou à luz pública, novamente, o debate sobre a necessidade da reavaliação das leis de fiança do estado de Nova Iorque, conjuntamente com os perigos da descriminalização de diversos atos — crimes como os quais Nash já fora penalizado— por parte do procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg. Após ser questionado sobre o acontecimento, o prefeito da cidade, Eric Adams, afirmou:  “Precisamos de examinar o que realmente aconteceu aqui, perceber onde falhamos” para “fechar os buracos na lei que permitem as pessoas perigosas estar nas ruas”.

No que refere a detenção do criminal por causa do ocorrido, foram atribuídas acusações de primeiro grau de assassinato, roubo e roubo motivado sexualmente. A etnicidade de Lee não corresponde a uma motivação do crime, segundo as autoridades. Ainda assim,  é inegável que o acontecimento alimenta o pânico da comunidade asiática americana de ser vítimas de um ataque sem provocação, especialmente desde a oleada de asian hate causada pela pandemia.

Michelle Alyssa Go; Fonte / Bew Jirajariyawetch; Fonte / Yao Pan Ma; Fonte

Os crimes contra a comunidade asiática aumentaram quanto ao nível de atenção do público depois do ataque a tiros contra diversos spas na cidade de Atlanta, em março de 2021. Seis das oito vítimas mortais foram mulheres asiáticas ou asiática-americanas. Nos recentes meses existiram diversos crimes, com grande cobertura por parte dos media, contra a comunidade. Por exemplo, os casos de Michelle Alyssa Gom, 40, que foi assassinada ao ser empurrada para a frente de um metro, em janeiro; Bew Jirajariyawetch, 23, brutalmente espancada numa plataforma de comboio em Manhattan;  e Yao Pan Ma, 61, que foi atacado e eventualmente morreu por causa dessas mesmas agressões.

Ainda que a existência de motivações raciais nos crimes é tema de discussão entre o público, o aumento de 339%  de crimes anti-asian nos EUA é um facto indiscutível. De acordo com Stop AAPI Hate, houve 9000 casos de agressão contra asiáticos, reportados entre os meses de março de 2020 e junho de 2021. Cabe destacar que as mulheres reportam duas vezes mais que os homens.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, afirma: “Vemos esta subida, desafortunadamente, por causa da retórica e a linguagem cheia de ódio por volta das origens da pandemia.” e “a administração anterior (ao) chamar COVID o “vírus de Wuhan” levou a perspetivas (..) que tem (..) elevado as ameaças contra asiático-americanos.”

Outro aspeto preocupante dos recentes assassinatos é o padrão emergente nos crimes ocorridos durante a pandemia, quer dizer, os ataques nos quais o criminoso é um homem sem-abrigo. Em consequência, diversos lugares em Nova Iorque, dos quais Chinatown,  atualmente expressam o seu descontentamento com a quantidade de sem-abrigos nas ruas.

De acordo con USA TODAY,: “Os ataques decorrem de uma confluência de questões sociais profundamente enraizadas nos EUA — padrões de violência baseada em género e raça, pobreza, falta de residência, abuso de substâncias e doenças mentais.”

Em consequência, uma solução fácil e imediata para esta problemática é impossível. Tendo em consideração as questões sociais supramencionadas, são necessárias reformas que possam alterar os fundamentos da sociedade norte-americana para assim observar mudanças significativas. Nas palavras da diretora-executiva da National Asian Pacific American Women’s Forum, Sung Yeon Choimorrow, para USA TODAY: “A realidade é que nós precisamos abordar problemas sistémicos para resolver este problema muito desesperado e terrível, que muitos de nós estamos a sentir de uma maneira muito real.”

O anterior não implica necessariamente o encarceramento como única solução permanente para esta problemática. Choimorrow afirma: “Não se quebram ciclos de violência ao prender mais pessoas. Eu, pelo menos, não acredito que, se esse homem estivesse preso,  de alguma forma todas as mulheres asiáticas americanas estariam seguras.”

Finalmente, pode ser afirmado que a análise das motivações destes crimes, com o objetivo de encontrar uma solução, é uma tarefa complexa, mas necessária. O machismo, as motivações raciais e as falhas no sistema judicial, misturados com a falta de apoio efetivo à saúde mental, resultam em atos brutais que espalham terror e devem ser evitados. Definitivamente, um dos aspetos mais lamentáveis é que esta problemática não parece ter um fim próximo.

 

Escrito por Natalia Vásquez.

Revisão por Beatriz Oliveira.

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