Sociedade
Guerra na Ucrânia: Atualizações do segundo dia de conflito
Atualização do dia 25/02: Segundo dia de guerra
O segundo dia de guerra começou com a preparação do cerco à capital ucraniana, Kiev, por parte das tropas russas, que bombardearam a cidade e despoletaram combates intensos nos seus arredores. Face a esta ofensiva, o exército ucraniano prepara-se para defender a cidade e evitar o cerco à mesma, com confrontos intensos confirmados em Obolon, Dimer e Ivankik, localizadas na periferia de Kiev.
“Os russos dizem que não estão a atacar zonas civis. No entanto, 33 locais foram atingidos nas últimas 25 horas”, disse a agência de notícias Interfax, citando um funcionário do ministério, Vadim Denisenko. Ao mesmo tempo, o Ministério da Defesa da Ucrânia informou, através do Twitter, que um grupo de militares russos já entrou em Kiev, na zona residencial de Obolon, a 10 quilómetros do centro da capital.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenskii, informou os ucranianos que iria permanecer na sede de governo em Kiev, apesar da presença de tropas russas na cidade e a sua identificação como “alvo número 1” do Kremlin. “Eles querem destruir a Ucrânia politicamente destruindo primeiro o chefe de Estado”, disse Zelenskii, mencionando também a falta de apoio prestada pelos países membros da NATO, que até agora não iniciaram qualquer manobra militar em território ucraniano. “Estamos sozinhos na defesa do nosso país. Quem vai lutar ao nosso lado? Para ser honesto, não vejo ninguém”, admitiu o presidente.
Perto de Kiev, a Rússia informou o envio de paraquedistas para proteger a central nuclear de Chernobyl, informou um porta-voz do Ministério da Defesa russo nesta sexta-feira. O aumento de níveis de radiação registados na zona de exclusão da usina nuclear foram também abordados, considerados como “normais” para o oficial russo, que desvalorizou esta subida.
Nas últimas horas, o Ministério da Defesa da Rússia declarou ter capturado com sucesso o estratégico Aeroporto de Hostomel, nos arredores da capital ucraniana, Kiev. O mesmo também informou o bloqueio ao acesso à capital a partir do oeste, por parte de militares russos. A captura deste aeroporto reflete-se estrategicamente numa maior capacidade de transporte de tropas e equipamentos russos diretamente para os arredores de Kiev.
Video reportedly from today, shows Mi-24P helicopter launching missiles over Hostomel – just outside Kyiv, Ukraine.
H/t @RALee85 pic.twitter.com/bfZXTByh07
— Moshe Schwartz (@YWNReporter) February 25, 2022
O Governo ucraniano continua a mobilizar a população para resistir às tropas russas, com a distribuição de 18 mil armas a civis e preparação de cocktails molotovs a serem utilizados pelas Forças de Defesa Territorial. Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, revelou que o Governo russo encontra-se disposto a enviar uma delegação, formada por ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, para Minsk, a capital da Bielorrússia, após o pedido do presidente ucraniano de conversar “sobre como parar os combates e travar a invasão”. O porta-voz do Kremlin esclareceu que tais negociações iriam se assentar na declaração da Ucrânia como um Estado “neutral” – abdicando da intenção de se juntar à NATO – e no processo de “desmilitarização” do país.
O combate continua em várias frentes, com as forças ucranianas cada vez mais desgastadas e recuadas de posições defensivas, ao tentar conter a invasão russa e a tomada de Kiev pelas tropas inimigas. Videos nas redes sociais demonstram a proximidade da guerra a áreas residencias populadas. Apesar da desvantagem numérica, as forças ucranianas têm declarado a neutralização de tropas e de equipamentos militares russos, inclusivamente aeronaves que sobrevoam o espaço aéreo ucraniano. A destruição de pontes que fazem ligação à capital tem sido também empregada, na tentativa de atrasar e incapacitar o avanço russo.
I’m in the north of #Kyiv where Russia is continuing to bomb the neighborhoods. This is the bridge that Ukraine blew up today to prevent the advance of Russian tanks. You can see ppl fleeing the city on foot scrambling over the ruins; I watched as a man dragged over his bicycle. pic.twitter.com/QVoxht2LDs
— Francesca Ebel (@FrancescaEbel) February 25, 2022
Reação Internacional: Segundo dia de guerra
O debate internacional continua na tentativa de resposta que não envolva a utilização de tropas no combate direto à ofensiva russa. A preparação de pacotes de sanções economicas alargados tentam limitar e isolar, economicamente e diplomaticamente, a Rússia do resto do mundo ocidental. A proibição de companhias russas no espaço aéreo de países da comunidade internacional acompanhou também as sanções implementadas, sendo a Polónia o mais recente estado a proibir a circulação no seu espaço aéreo de aeronaves e companhias russas.
Nesta sexta-feira, O Presidente chinês, Xi Jinping, entrou em contacto com Vladimir Putin, declarando o apoio da China ao diálogo como via de resolução da crise na Ucrânia. “A China apoia a Rússia e a Ucrânia para resolverem a questão através da negociação. A posição básica da China sobre o respeito pela soberania e pela integridade territorial de todos os países, e pelos propósitos e princípios da Carta da ONU é consistente”, afirmou o Presidente chinês, citado pelo pelo South China Morning Post. Adicionalmente, o Presidente chinês critica a expansão da NATO no leste da Europa e as sanções aplicadas, não sendo encaras como uma solução por Pequim.
Em Bruxelas, os 27 líderes europeus reúnem-se para aprovar o segundo pacote de sanções a Moscovo, que será discutida pelos ministros dos Negócios Estrangeiros. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e Josep Borrell, alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, comunicaram a possibilidade de congelamento dos ativos do Presidente Vladimir Putin na UE.
A NATO já discutiu a invasão russa na cimeira extraordinária convocada na quarta-feira pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que a justificou face à necessidade de os Aliados, entre os quais Portugal, discutirem os próximos passos a dar face ao “ato brutal de guerra” lançado pela Rússia contra a Ucrânia. O primeiro-ministro português, António Costa, afirma que houve “convergência total para reforçar as ações de dissuasão, tendo em conta uma clara violação do direito internacional”. Após a cimeira, a decisão de reforçar a presença militar no leste da Europa foi comunicada em conjunto pelos líderes dos 30 Estados membros da aliança militar. “Estamos a levar a cabo significativos destacamentos defensivos adicionais de tropas para o lado leste da aliança”, refere o comunicado, sem especificar o número e o posicionamento deste reforço militar defensivo.
O Concelho da Europa, composto por 47 estados-membros, suspendeu os direitos de representação da Federação Russa no Comité dos Ministros e na Assembleia Parlamentar da organização, pelas recentes agressões contra a Ucrânia. O concelho esclarece ainda que a Rússia se “mantém como Estado-membro” e como “parte relevante das convenções” da organização, como a Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Maria Zakharova, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, ameaçou a Finlândia com “sérias repercussões políticas e militares”, depois da manifestação de intenção por parte do primeiro-ministro em aderir à aliança militar. “Consideramos o compromisso do governo finlandês com uma política militar de não alinhamento como um fator importante para garantir a segurança e a estabilidade no norte da Europa”, ameaçou Maria Zakharova.
💬#Zakharova: We regard the Finnish government’s commitment to a military non-alignment policy as an important factor in ensuring security and stability in northern Europe.
☝️Finland’s accession to @NATO would have serious military and political repercussions. pic.twitter.com/eCY5oG23rL
— MFA Russia 🇷🇺 (@mfa_russia) February 25, 2022
Atualização do dia 24/02: Primeiro dia de Guerra
A ofensiva russa nas diferentes frentes de combate existentes por toda a fronteira partilhada com a Ucrânia continua. Contabiliza-se a morte de 137 cidadãos ucranianos e 316 feridos no primeiro dia de combate, números estes revelados pelo presidente ucraniano. As baixas russas ainda não foram devidamente confirmadas, com as forças ucranianas comunicando a destruição de equipamento e a neutralização de forças inimigas.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, aproximadamente 100 mil pessoas já abandonaram as suas habitações na Ucrânia, deslocando-se para os países vizinhos a oeste do país e acentuando a crise humanitária que acompanha o combate na região. Os homens ucranianos entre os 18 aos 60 anos estão proibidos de sair do país e devem se juntar às forças de defesa, após a assinatura do decreto-lei para a mobilização geral da população.
O combate intensificou-se ao longo da tarde, atingindo inclusivamente novas regiões como a zona de exclusão de Tchernobil, capturada e controlada atualmente pelas forças russas, confirmou um conselheiro do gabinete presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak.
O Ministério da Defesa britânico confirmou que tropas russas baseadas na Bielorrússia estão a avançar para Kiev, “Os ataques têm sido feitos através de uma combinação de lançamento de mísseis russos por via terrestre, aérea e marítima e de bombardeio de artilharia”, escreve no Twitter. Os alvos principais destes ataques apontam ser principalmente infraestruturas militares.
Os EUA denunciaram a motivação das forças russas em cercar e atacar nas próximas horas Kiev, a capital ucraniana, com o objetivo de “decapitar” o governo ucraniano, afirmou um oficial de defesa dos EUA disse à agência Reuters.
A 35 quilómetros da capital, o governo ucraniano garantiu ter retomado o controlo do Aeroporto de Hostomel, que havia sido tomado por soldados russos durante a fase inicial da operação militar.
No leste da Ucrânia, vários confrontos foram também registados na cidade fronteiriça de Sumy e partilhados nas redes sociais, com vídeos demonstrando os efeitos do combate próximo de zonas residenciais.
#Ukraine 🇺🇦: multiple reports of renewed fighting in #Sumy tonight. If true it would mean the Ukrainians are conducting a counter-attack. pic.twitter.com/MZJQafOJNi
— Thomas van Linge (@ThomasVLinge) February 24, 2022
O Ministério da Defesa russo disse que “a Rússia cumpriu todos os seus objetivos para o dia”, anuncia o porta-voz do Ministério da Defesa Igor Konashenkov, referindo também a destruição de 83 instalações das forças ucranianas, o avanço dos grupos rebeldes para além da linha de contacto e na direção da cidade de Kherson, perto da Crimeia.
Reação Internacional: Primeiro dia de guerra
O Presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou uma nova ronda de sanções contra a economia russa que atingem os setores da banca e da tecnologia, afetando mais quatro bancos russos, indivíduos ligados ao Kremlin e, em particular, a exportação de alta tecnologia para a Rússia. A expulsão da Rússia do sistema global de comunicações bancárias e financeiras SWIFT foi afastada de ser concretizada, uma medida que seria altamente penalizadora para a economia russa não aprovada pelos estados europeus e os EUA.
A União Europeia tenciona igualmente reforçar a imposição de sanções financeiras, nos sectores da energia e dos transportes, controlo das exportações e o financiamento e política de vistos. O Alto Representante obteve o acordo dos líderes para alargar as medidas restritivas da UE. A discussão será retomada esta sexta-feira numa nova reunião extraordinária no Conselho da UE, com os ministros dos Negócios Estrangeiros.
Em Portugal, o Conselho Superior de Defesa Nacional aprovou a participação das Forças Armadas de Portugal no âmbito da NATO. Além da participação militar, encontra-se em curso a retirada de mais de 200 portugueses e luso-ucranianos da Ucrânia. De forma a apoiar as consequências humanitárias do conflito, Portugal promete abrir as portas a todos os ucranianos refugiados da guerra em curso.
Durante um discurso televisivo, o chanceler alemão, Olaf Scholz, declarou que a invasão russa é uma tentativa forçada de redefinir as fronteiras europeias “talvez limpar um país inteiro do mapa do mundo”, durante um discurso televisivo. Com o ataque à Ucrânia, o presidente Putin quer voltar atrás no tempo”, disse Scholz, “Mas não há volta a dar no tempo e regressar ao século XIX, quando as grandes potências mundiais decidiam o destino dos Estados mais pequenos”.
Na Rússia, protestos contra a invasão da Ucrânia em 53 cidades do país resultaram em 1.700 pessoas detidas, avança a organização OVD-Info, uma ONG que monitoriza a atuação policial.
Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.
Revisão por Beatriz Oliveira.