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Sociedade

GUERRA NA UCRÂNIA: ATUALIZAÇÕES DO TERCEIRO DIA DE CONFLITO

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Atualização do dia 26/02: Terceiro dia de guerra

A noite classificada como “a mais difícil” pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi palco de violentes combates e bombardeamentos na capital cercada pelas forças russas, que tentam tomar Kiev. “Esta noite vai ser a mais difícil. O inimigo vai dar tudo. Devemos resistir. A noite será muito dura, mas o sol nascerá”, avisou Zelensky, numa altura em que outras frentes de combate localizadas na fronteira do pais prosseguem com os combates.

Mapa da Ucrânia com as regiões atualmente controladas pelas tropas russas
Fonte: Institute for the Study of War. Créditos: BBC

Trocas de tiros decorreram nas ruas durante a noite e a madrugada, juntamente com ataques aéreos e de artilharia nas principais vias de acesso ao centro da cidade, nos aeroportos e noutras infra-estruturas localizadas nos arredores de Kiev. A população da cidade refugia-se em abrigos e nas estações de metro subterrâneas, enquanto as Forças de Defesa Territorial compostas por civis armados juntam-se ao exército ucraniano no esforço de manter o controlo sobre a capital.

A resistência do exército ucraniano à ofensiva russa reflete-se no combate à ofensiva russa, que ainda luta pelos acessos e o controlo das principais cidades do país. Na manhã deste sábado, a Rússia afirmou controlar a cidade de Melitopol, uma importante cidade localizada no sudeste do país, porém, fontes ucranianas comunicam a presença russa apenas em algumas partes da cidade ainda sob disputa. A cidade de Mariupol continua a resistir aos fortes ataques russos vindos de Donetsk, onde se situa o principal porto do Leste da Ucrânia. O controlo de ambas estas cidades representa um importante objetivo estratégico russo, que conciliaria assim o controlo sobre a costa ucraniana do Mar de Azov e a ligação entre a Crimeia e as regiões separatistas de Donetsk.  Mykoilav, cidade situada junto ao mar Negro, no sul da Ucrânia, preparava-se igualmente para o ataque russo, após as tropas russas terem conseguido romper as linhas de defesa em Kakhovka, a leste. 

As informações que chegam do combate nas cidades de Sumy e Kharkiv são ainda conflituosas, com o avanço russo demonstrando-se lento mas constante. Fontes russas indicam que o cerco a Sumy encontra-se já estabelecido, ao mesmo tempo que forças ucranianas revindicam ainda o controlo sobre a cidade e as suas vias de acesso. Na cidade de Kharkiv, centro de uma das principais regiões industriais da Ucrânia, as tropas ucranianas tentam manter o controlo desta importante região, localizada a somente 40 quilómetros da fronteira com a Russia. A cidade de Chernihiv, no Norte da Ucrânia, foi inclusivamente alvo de fortes impactos de artilharia russa, revela um comunicado da administração regional citadas pela agência noticiosa Ukrinform.

A ordem entregue a todas as unidades russas na Ucrânia de retomar a ofensiva em todas as direções é encarada com algum receio, após uma pausa na sexta-feira, realizada em antecipação às condições de negociações que Kiev considerou como “inaceitáveis”, baseadas na desmilitarização e na mudança do governo ucraniano. Espera-se agora um reforço do número e densidade dos ataques nas frentes atualmente ativos ao longo da noite.

O balanço atual do número de mortes é contraditório entre ambos os lados, que igualmente declaram diferentes versões dos acontecimentos. O Ministro da Defesa ucraniano comunicou que as suas forças já neutralizaram quase 3 mil tropas russas, juntamente com a destruição de aproximadamente 600 blindados e 17 meios aéreos. Por outro lado, o Ministério de Defesa russo ainda não reportou qualquer morte entre as suas tropas, somente a perda de equipamento militar ao longo da operação militar, enfatizando no entanto o dano causado às forças ucranianas nos últimos dias.

Vários conteúdos partilhados nas redes sociais mostram equipamentos e veículos militares russos abandonados ao longo das estradas, sustentando os relatos dos problemas logísticos enfrentados pelas tropas russas, que se vêm obrigadas a abandonar os seus veículos sem combustível ou munição. Na mesma medida, fontes ucranianas comunicam ao longo do conflito o sucesso obtido na destruição de veículos russos, incluindo helicópteros, caças e aviões de transporte, enquanto que fontes russas comunicam a superioridade dos seus meios e a destruição das defesas ucranianas.

Entretanto, o número de ucranianos que tentam passar a fronteira do país aumenta todos os dias. Segundo a ONU, o número de deslocados no primeiro dia de combate rondava aproximadamente os 100 mil ucranianos, com 20 mil confirmados atualmente na Roménia. Nas estações ferroviárias, famílias tentam encontrar lugares em comboios que façam a travessia da fronteira, sem garantias no entanto da sua disponibilidade ou sequer existência. Com as cadeias de distribuição impedidas de funcionar corretamente devido ao conflito, começa-se também a sentir a escassez de comida, medicamentos e outros bens essenciais para a população.

 Reação Internacional:

A condenação do conflito pela grande maioria comunidade internacional continua, numa altura em que se decide o reforço na distribuição de equipamentos militares às forças ucranianas e a implementação de mais eficazes sanções económicas à Russia.

Numa mudança de política perante a complicação do conflito, a Alemanha declarou que fornecerá à Ucrânia armas antitanque defensivas, mísseis terra-ar e munições, disse o governo neste sábado. “A invasão russa da Ucrânia marca um ponto de viragem. É nosso dever fazer o nosso melhor para apoiar a Ucrânia na defesa contra o exército invasor de Putin”, diz Scholz no Twitter. Junta-se à Alemanha o Governo Checo, que também provou neste sábado o envio de armas e munições no valor de 188 milhões de coroas (cerca de 7,7 milhões de euros) para ajudar a Ucrânia a defender-se contra o ataque da Rússia, disse o Ministério da Defesa checo. Numa carta dirigida ao Parlamento neste sábado, o Governo holandês anunciou que vai fornecer 200 mísseis de defesa aérea (do tipo Stinger) à Ucrânia o mais rápido possível, já prometidos desde o início deste mês, incluindo armas de fogo, munições, sistemas de radar e robôs detectores de explosivos. O Presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou o envio de até 350 milhões de dólares em apoio militar de emergência a Kiev em “itens e serviços de defesa”, incluindo educação e treino militar.

O presidente ucraniano anunciou no twitter que a Turquia iria bloquear a passagem de navios de guerra no mar Negro. Segundo a agência Reuters, a Turquia (membro da NATO) ainda não decidiu se vai realmente impedir a passagem de navios russos nos estreitos dos Dardanelos e do Bósforo. Ainda nos mares, fuzileiros navais franceses que patrulham a área do Canal da Mancha interceptaram um navio de carga com bandeira russa e escoltaram-no até ao porto de Boulogne-Sur-Mer. A interceptação surge como uma consequência das sanções financeiras impostas.

Tal como a Letónia, a Estónia fechou hoje também o seu espaço aéreo a aviões russos, referiu a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, no Twitter, instando outros países da União Europeia a seguirem o seu exemplo.  A Polónia, Reino Unido, República Checa e Bulgária também já apresentaram as suas restrições.

Após o veto da Rússia no projeto de resolução da ONU que condenaria a invasão da Ucrânia, cresce agora a pressão dentro da União Europeia para banir a Rússia do sistema global de comunicações bancárias e financeiras SWIFT. A Itália, Grécia, Chipre e Hungria declararam o seu apoio à medida já defendida por países como o Reino Unido, a República Checa, o Canadá e a própria Ucrânia após a invasão do país na quinta-feira. Questiona-se também o resultado da aplicação destas sanções na economia mundial e europeia, onde o aumento da inflação, diminuição do do consumo e investimento e instabilidade dos mercados financeiros podem vir a ser reforçados pela sanções económicas programadas contra a economia russa.

Na Rússia, as autoridades contabilizam mais de 2.500 pessoas pessoas detidas, segundo o site de controlo de protestos OVD-info. O regulador russo dos media ordenou a supressão  de todos os conteúdos as palavras “invasão”, “ofensiva” ou “declaração de guerra” da Rússia à Ucrânia por parte dos órgãos de comunicação social do país, como também a proibição de referenciar o número de civis mortos pelo exército enviado pelo regime de Moscovo para a Ucrânia”. Sublinhamos que só as fontes oficiais russas dispõem de informações atuais e fiáveis”, indicou o regulador Roskomnadzor em comunicado.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.

Revisão por Beatriz Oliveira.

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