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GUERRA NA UCRÂNIA: ATUALIZAÇÕES DO CONFLITO

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Mapa da Ucrânia com a identificação das zonas atualmente controladas pelo exército russo e as regiões separatistas
Fontes: ©MapBox, ©OpenStreetMap, New agencies, Institute for the Study of War
Créditos: ©Al Jazeera

Atualização do conflito – 27 de fevereiro a 1 de março:

A continuação do avanço russo sobre cidades ucranianas materializou-se logo no passado dia 27 de fevereiro, após o anuncio da entrada de tropas e veículos russos na cidade de Kharkiv e a tomada da cidade de Nova Kakhovka, no sul do país, onde a campanha russa demonstra ser mais eficaz. A constante pressão exercida sobre as cidades de Kherson, Mykolaiv e Melitopol surge na tentativa de estabelecer o controlo e a ligação entre a Crimeia e as regiões separatistas, juntamente com a expulsão definitiva das forças ucranianas do acesso ao Mar Negro. Nesta terça-feira, o autarca local da cidade de Kherson comunicou a chegada de tropas russas à entrada da cidade. Também hoje, o líder separatista de Donetsk​, no leste da Ucrânia, afirmou pretender cercar o porto ucraniano de Mariupol, entretanto sob constante bombardeamento.

No norte, os bombardeamentos continuaram em larga escala na cidade de Kiev e Kharkiv, as 2 cidades mais importantes do país, juntamente com a entrada de tropas e blindados. Em Kharkiv, lutas intensas foram registadas no centro da cidade, após as quais as autoridades ucranianas comunicaram a vitória e retomada do controlo da cidade. São nestas duas frentes que as forças ucranianas oferecem maior resistência à ofensiva russa, que não tem registado grandes avanços no terreno, recorrendo ao bombardeamento de infraestruturas e das posições ucranianas principais. Fontes ucranianas e internacionais comunicam inclusivamente vários alvos civis atingidos por estes bombardeamentos ao longo dos últimos dias, como áreas residenciais, escolas e hospitais. O uso de munição de fragmentação nos bombardeamentos foi também denunciado, representando um maior perigo para os civis localizados nas áreas bombardeadas.

O desgaste do conflito é visível em ambos os lados. Nas ruas das grandes cidades, o exército e a resistência ucraniana continuam a resistir à ofensiva das tropas russas, aguentando o controlo das principais cidades do país, algo que a Rússia ainda não conseguiu estabelecer. Contudo, a perda de territórios no Sul do país é cada vez mais notória e preocupante para a estratégia de guerra ucraniana, onde se localizam os avanços russos mais significantes.

Vários relatos e conteúdos partilhados online demonstram o que parecem ser sérias fragilidades na logística de guerra russa, com veículos e equipamento abandonados nas ruas da Ucrânia, sem combustível ou munição. Numa posição de ataque, a logística revela ser fundamental para o funcionamento das tropas russas, porém, os problemas indicados sobre a mesma não indicam necessariamente uma perda total da operação em curso. Nos últimos dias, o abrandamento das tropas russas revela o que pode ser identificado como uma “pausa operacional”, que oferece tempo de preparação para uma futura fase de ataque, durante o qual as forças russas podem ter identificado e resolvido todo o tipo de problemas operacionais.

Recentemente, imagens de satélite partilhadas pela empresa norte-americana Maxar Technologies localizaram uma vasta coluna de tropas e de equipamento de combate russo com 64 quilómetros de comprimento, e a cerca de 25 quilómetros do centro da cidade. Adicionalmente, as mesmas fotografias mostram forças terrestres e unidades de helicópteros militares no sul da Bielorrússia, país que tem vindo a cooperar com a ofensiva de Moscovo. Após 5 dias de ofensiva, teme-se agora um avanço esmagador e decisivo sobre a cidade de Kiev, com o reforço adicional de tropas e equipamento localizado próximo da capital.

Imagens de satélite mostram 64 quilómetros de equipamento militar russo MAXAR TECHNOLOGIES/REUTERS

Entretanto, o parlamento ucraniano confirmou a entrada de tropas bielorrussas através da região de Chernihiv, no Norte da Ucrânia, o que denuncia a participação ativa do país no conflito que até agora tinha somente apoiado a logística e a presença militar russa no seu território. A Bielorrússia renunciou no passado domingo ao estatuto de Estado não nuclear, através da aprovação de um referendo que possibilita o posicionamento de armas nucleares russas no seu país.

O receio do uso de armamento nuclear aumentou após Vladimir Putin ordenar a colocação das forças nucleares de dissuasão do seu país em alerta máximo, segundo o mesmo, devido às  “declarações agressivas” do Ocidente e da NATO. “Os países ocidentais não estão apenas a tomar ações económicas hostis contra o nosso país, mas os líderes dos principais países NATO estão a prestar declarações agressivas sobre nosso país. Então, ordeno que as forças de dissuasão da Rússia passem a um regime especial de dever”, declarou Putin.

As negociações entre a delegação russa e ucraniana realizadas na Bielórrusia terminaram ontem, com ambas as partes concordando numa nova ronda negocial. Com alguma antecedência, a presidência ucraniana já havia comunicado antes da reunião pretender um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas, algo que não chegou a ser alcançado. As exigências russas debruçam-se sobre o reconhecimento da soberania russa sobre a Crimeia, a “desmilitarização e a desnazificação” do Estado ucraniano, e um estatuto neutro para a Ucrânia. Ainda hoje, Zelenskii disse que será necessário o fim dos bombardeamentos russos a alvos ucranianos para que se possam realmente realizar conversações significativas sobre um cessar-fogo.

Reação Internacional

Com cada dia que passa, a comunidade internacional e europeia quebram barreiras históricas nas medidas aplicadas, numa altura em que o mundo parece-se unir progressivamente na luta contra as ordens e interesses do Kremlin, cada vez mais isolado. A reunião extraordinária da Organização das Nações Unidas (ONU), a primeira desde 1982, durante a guerra no Líbano, ficou marcada pela decisão do envio de armas por parte da Finlândia e da comparticipação da Suíça a todas as sanções que o bloco europeu decretar a pessoas e empresas russas, juntamente com o congelamento de bens.

Os pacotes de sanções aprovados em conjunto pela comunidade europeia, os EUA e o Reino Unido já demonstraram o seu efeito na economia russa, que na passada segunda-feira mostrou sinais de queda da divisa e escalada da inflação. O bloqueio de cesso de parte dos bancos russos ao sistema de mensagens para transações internacionais Swift e o congelamento das reservas de divisas estrangeiras detidas pelo banco central russo na Europa e nos Estados Unidos refletiram-se na  quebra de confiança dos mercados no sistema financeiro russo. A desvalorização do rublo atingiu uma queda que superou os 30% face ao valor do dólar. Como consequência, o banco central russo anunciou um aumento drástico das suas taxas de juro de referência de 9,5% para 20% e obrigou as principais empresas exportadoras russas a trocarem 80% das suas receitas em divisas estrangeiras por rublos, na tentativa de reverter parte das perdas do rublo face ao dólar, limitar a subida da inflação e tentar contrariar a queda da divisa nos mercados internacionais.

O Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenskii, assinou um pedido formal para a adesão do país ao bloco europeu, independentemente da complexidade e lentidão que envolve um processo de adesão. “Isso é uma coisa que não está na ordem do dia, acredite. Temos de trabalhar em coisas mais práticas. Em qualquer caso, a adesão é algo que levará muitos anos, e o que temos que dar à Ucrânia é uma resposta para as próximas horas. Não para os próximos anos, mas para as próximas horas”, repetiu o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell. Espera-se agora pela chegada da carta assinada de Zelenskii ao Conselho de Assuntos Gerais da UE, que irá prosseguir com a avaliação dos critérios necessários que possibilitam a candidatura oficial e adesão do país.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, garantiu que os chefes de Estado e governo da União Europeia não vão “escapar às suas responsabilidades”, mas alertou que a avaliação em questão não vai acontecer nos próximos dias. “Temos de acabar a guerra antes de falarmos nos próximos passos”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na sessão plenária extraordinária do Parlamento Europeu.

Após aprovar uma resolução a condenar “com a maior firmeza e veemência” a ofensiva russa à Ucrânia, o Parlamento Europeu exige que a Rússia “ponha imediatamente termo a todas as acções militares na Ucrânia; retire incondicionalmente todas as forças militares e paramilitares, assim como o equipamento militar, de todo o território internacionalmente reconhecido da Ucrânia; e respeite plenamente a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”, lê-se no segundo ponto da resolução.

Acrescenta-se à preocupação da guerra a crise humanitária consequente do conflito. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR),  Filippo Grandi,  alertou hoje para a vaga de mais de 660 mil refugiados ucranianos e para a tendência do aumento destes números nos próximos dias. “Temos agora mais de 660 mil refugiados que fugiram da Ucrânia para países vizinhos nos últimos seis dias”, referiu a porta-voz do ACNUR, Shabia Mantoo. A ONU também contabilizou números da mesma ordem, com meio milhão de ucranianos atualmente fora do país, localizados nos países vizinhos. A Polónia conta atualmente com mais de 300 mil refugidos, sendo assim o país com o maior numero de pessoas abrigadas. A Hungria, Moldávia, Roménia e Eslováquia integram também a lista de países de acolhimento.

Entretanto, a ONU lançou um apelo ao financiamiento internacional para fins humanitários, estabelecendo uma meta de 1,7 mil milhões de dólares. Desse valor definido, 1,1 mil milhões de dólares serviram para o apoio localizadas no próprio país, com o resto sendo distribuído aos países na região a acolher os requerentes de asilo.

“Embora tenhamos visto uma tremenda solidariedade e hospitalidade dos países vizinhos no acolhimento de refugiados (…) será necessário muito mais apoio para ajudar e proteger os recém-chegados”, declarou Filippo Grandi.

O Governo português aprovou um procedimento simplificado para apoiar e facilitar o acolhimento de refugiados ucranianos em Portugal, durante o Conselho de Ministros extraordinário desta manhã. Os refugiados terão acesso “aos serviços de saúde, à Segurança Social e acesso ao emprego. Haverá também uma linha de ligação com o IEFP além das questões relacionadas com educação”, explicou a ministra da Administração Interna, Francisca Van Dunem. A Ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, complementou que a “obtenção dos números de Segurança Social, número fiscal e do Serviço Nacional de Saúde é automática a partir do momento em que entra o pedido de proteção internacional”, optimizando assim a comunicação com os restantes organismos.

Também em Portugal, a mobilização de ajuda humanitária tem sido feita em diversos pontos do país que se comprometem na ajuda à crise na fronteira ucraniana, com associações, organizações e pessoas promovendo iniciativas para a recolha de bens alimentares e materiais. As manifestações de solidariedade com a Ucrânia também tiveram lugar nas ruas das cidades portuguesas no passado fim de semana no Porto, Coimbra e Lisboa.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.

Revisão por Beatriz Oliveira.

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