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Manifestação pela paz na Ucrânia
Organização
A manifestação pela paz na Ucrânia que teve lugar junto ao consulado russo no Porto, no passado domingo, preencheu a avenida de azul e amarelo. O propósito do movimento, que decorreu também em Lisboa, junto à Embaixada da Rússia, passou pela condenação da ofensa russa que teve início a 24 de fevereiro, com a invasão de Putin a um conjunto de cidades ucranianas, vitimando inúmeros civis e culminando na destruição de património. Os apelos à paz e à intervenção dos países europeus no fechamento dos céus e nas sanções à Rússia foram patentes, contudo, foi a crítica a Putin, numa abordagem comparativa com o líder Nazi Adolf Hitler, que liderou a tarde, tendo sido tecidas inúmeros comentários à abordagem agressiva do mesmo e alertados os agentes sociais para o impacto do confronto, ao nível das suas consequências presentes e futuras.
A Associação dos Ucranianos em Portugal, contando com as suas subdelegações espalhadas pelo país e com o apoio de partidos como Iniciativa Liberal e Bloco de Esquerda, que se uniram, apesar das divergências políticas, pela luta humanitária, pela democracia e pela Ucrânia, estiveram na origem do evento, como indicou Nadiya Umanska, diretora da subdelegação de Águeda, ao JUP.
“Na maioria, estamos sempre organizados por via da Associação dos Ucranianos em Portugal, que tem 15 subdelegações. Eu, por exemplo, sou presidente da subdelegação de Águeda, mas temos aqui a subdelegação de Vila Nova de Gaia. Estas estas manifestações acontecem todos os dias em Lisboa, desde que a guerra começou, aqui no porto já só podemos organizar aos fins de semana porque estamos um pouco afastados. Pelo menos esta iniciativa sei que foram vários países portugueses que entraram em contacto com a Associação dos Ucranianos em Portugal, que é quem faz estas manifestações em várias cidades. Eu gostaria de particularizar, mas não sei se vou conseguir fazê-lo: a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda, mas não só. Como nós planeamos fazer esta manifestação e, logo à partida, recebemos este convite, achamos mal fazer duas no mesmo momento e como recebemos chamadas de muitos portugueses que queriam apoiar, decidimos fazer este ato conjunto”
Desenvolvimento
O protesto não autorizado teve início às 15h, altura em que centenas de ativistas pela causa ucraniana levaram ao encerramento da avenida da Boavista. De mão ao peito, o hino ucraniano foi entoado pela comunidade presente. A mensagem que se procurou transmitir, e que se lê na emblemática canção, é a de que “A Ucrânia não pereceu… governaremos a nossa terra, que só a nós pertence. Lutaremos de corpo e alma pela liberdade”. Foi também por via do espírito resistente e destemido do povo ucraniano que as proclamações pela paz se difundiram. Entre cânticos de resistência, como “A grande porta de Kyiv”, dominaram expressões como “Somos todos irmãos”, “Não à guerra” e condenações ao Kremlin, as quais se fizeram ouvir e reproduzir. As lágrimas dos presentes foram reconfortadas pelas intervenções de Serhii Dushenkovskyi, um dos agentes responsáveis pelo movimento, que, a partir de uma varanda que defronta o consulado e com recurso a equipamentos de efusão do som, discursou, durante toda a tarde, no sentido da contextualização cívica face ao conflito e da difusão de mensagens de paz. O agradecimento ao povo português esteve também bastante presente ao longo do movimento que chegou a tomar a proporção de cerca de dois mil integrantes. A irmã do ativista, também ela promotora do evento e orgulhosamente complacente das palavras entoadas, contou ao JUP:
“Juntamo-nos todos aqui nesta manifestação simplesmente para unir o mundo todo contra Putin, contra a Rússia, contra a agressão violenta à Ucrânia. Está a morrer hoje muita gente sem necessidade nenhuma, e é por isso que estamos aqui unidos com portugueses, ucranianos, moldavos, os próprios russos que nem sequer podem estar à vista porque têm famílias na Rússia e podem ter consequências sobre esta manifestação. Nós temos muita esperança que o mundo vai ouvir-nos e vai reagir rápido e vai parar esta guerra”.
Svetlana Kucherenko
Esta não foi, contudo, a primeira vez que a comunidade de reunia naquele espaço, embora o desfecho do confronto tenha tomado, entre as ocorrências, proporções bélicas agravadas.
“Nós estamos aqui porque até mesmo antes de começar a guerra já fizemos manifestações, até mesmo neste lugar, no domingo passado, fizemos uma manifestação para chamar à atenção da Europa. É preciso parar antes de começar a guerra, só que aconteceu que a guerra já começou, por isso estamos aqui, apoiados também pelos portugueses, para dizer que a Europa e o mundo todo têm de parar este monstro, por uma única razão, porque, como se entende, o presidente da Rússia quebrou todos os acordos dos países democráticos que foram feitos depois da segunda guerra mundial, feitos para termos paz no mundo todo e para parar países mais agressivos. O que a Rússia fez foi quebrar todos os acordos, todas as leis democráticas e, na nossa opinião, isso não vai parar só na Ucrânia. Como vocês entendem, a Ucrânia tem muitas fronteiras com países da Europa, o que significa que eles facilmente conseguem atingir estes países e entrar também na União Europeia. Claro que, assim, pode começar a terceira guerra mundial. Toda a gente já percebeu que esta pessoa, ou seja, Putin, e todos os seus ministros não têm nada de pessoa humana que tem valores de valorizar o ser humano e as pessoas. Isto para ele não é nem lei, nem regra. Ele desvaloriza tudo. Por isso, estamos aqui a lutar por direitos não só da Ucrânia mas também de todo o mundo.
Nadiya Umanska
Face ao espírito de resistência compreendido ao longo de toda a tarde e manifestado nos discursos presentes, Nadiya referiu a solidez dos traços culturais ucranianos e de um povo que, temendo os progressos russos e as consequências da agressividade de Putin, não volta as costas à luta e não se deixa desvanecer no globo terrestre . Um povo que continua, mesmo longe, a perpetuar a cultura ucraniana:
“Nós temos filhos que chegaram connosco aqui. Há filhos que nasceram aqui. Eu como professora da língua ucraniana… Nós estamos a ler, a manter a nossa tradição, mas respeitando todas as leis do mundo democrático, todas as leis que estão construídas em Portugal. Muitos de nós têm nacionalidade portuguesa, mas, mesmo assim, nunca ninguém perdeu a noção da sua raíz e de respeitar todos os que estão à sua volta. Portanto, se nós respeitamos, temos que receber isso dos outros. Este é o meu aluno mais novo da escola ucraniana. Ele sabe cantar o hino da Ucrânia, mas nasceu cá, em Portugal. Ou seja, estamos a manter o nosso país, respeitando sempre todas as leis europeias e as de Portugal também. “
A professora relatou, ainda, os difíceis momentos vividos pelos seus familiares, presos na Ucrânia, num conflito sem perspetivas para o fim:
“A Ucrânia é muito vasta. Eu, por exemplo, sou da parte mais próxima à Polónia, mas nós temos uma grande parte da fronteira com a Bielorrússia, ou seja, através desse país eles entram com tanques, porque a Bielorrússia apoia a Rússia. No centro da Ucrânia tenho o meu pai e a minha sogra, que estão a 130 Km e que estão a temer também porque têm, a 30Km, alguns pontos militares que estão bombardeados. Eles estão a sofrer muito com isto. Tenho outra situação que me preocupa muito, a minha sobrinha e afilhada que está mesmo em Kyiv, trabalhou até ao último dia e, no terceiro dia, está já no metro a viver. Só tem certas horas para sair, tomar banho e levar alguma roupa e comida. (Lá) apoiam-se todos uns aos outros. No metro nascem crianças, no metro eles fazem amizades, no metro eles fazem um grande apoio um ao outro e, desta vez, ela entrou, ontem às 17H da tarde, e só segunda-feira às 08h da manhã é que talvez conseguirá sair. Estamos todos muito preocupados”
A posição ativa do povo português e a prontidão evidenciada no auxílio humanitário, tiveram também lugar no seu discurso:
“Queremos agradecer imenso a todo o povo português porque, durante estes três dias, recebi inúmeros telefonemas com propostas de alojamento, de apoio monetário, de apoio com produtos, tudo o que é possível, e agora até vamos tentar falar com a Câmara Municipal e os deputados para conseguir alguma coisa para ajudar a Ucrânia. Aqui, recebi três telefonemas de portugueses que não conheço de lado nenhum. As pessoas conseguiram o meu número na internet e perguntaram se haveria alguma manifestação aqui no Porto. Eu dizia, com todo o gosto, que sim, por isso, a nossa grande obrigada. Aqui vocês não apoiam só a Ucrânia, mas também a democracia. Ninguém pode entrar num país independente e querer mudar, lá, leis da constituição”.
Nadiya Umanska
Intervenção do Consulado Ucraniano
Foi pouco depois das 15h que o consulado ucraniano se fez também representar no movimento. Entre lágrimas e evidentemente devastada com a concretização do conflito no cenário, a representante eleita pelo congregado começou por agradecer o apoio aos cidadãos portugueses, uma intervenção fortemente aplaudida, passando por alertar, os ucranianos e portugueses, bem todos os que apoiam a Ucrânia, face a “uma guerra em grande escala iniciada pela Rússia contra a Ucrânia, que continua no coração da europa”. Ainda, alertou para a robusta potencial militar russo, descrevendo como os seus tanques continuam a tomar caminho face à capital, Kyiv, que é um dos principais alvos a abater de Putin. Foram lembradas as centenas de pessoas que nos últimos dias perderam as suas casas e viram as suas vidas abaladas por um invasor cujas ações, como a violação do estatuto de Roma, condenam veemente. Os hospitais ucranianos, também eles vitimados pelo confronto, foram também referenciados na mensagem, sendo enaltecida a necessidade de ajuda aos mesmos e enunciado o direito de defesa adotado pelo governo ucraniano. O discurso terminou com um agradecimento a todos os presentes, aos “parceiros de todo o mundo” que convocam sanções sobre a rússia, e, em particular, aos ucranianos, mas não sem antes ser deixado um último alerta face aos desenvolvimentos da guerra: “O destino da europa está a ser determinado agora na Ucrânia. Precisamos de encontrar a resposta adequada. Se ficarmos parados, ele irá mais longe”.
Intervenções juvenis
A solidariedade e o companheirismo ativo em todas as dimensões sociais, desde as plataformas digitais, às comunidades internacionais e locais, foram recordadas pelos presentes, tendo sido, por meio da dor marcada nos olhos daqueles que choravam familiares presos no país, vitimados pela guerra, ou em alistamento militar, bem como os direitos humanos transgredidos continuamente, contadas histórias felizes, como a da família de Cristina, que teve a oportunidade de escapar ao conflito.
“Felizmente, grande parte da minha família conseguiu sair da Ucrânia. Tiveram a ajuda de pessoas mesmo incríveis. O patrão da minha prima, que trabalhava na República Checa, deu-lhes casa, arranjou tudo para eles conseguirem estar lá confortáveis. Infelizmente há pessoas que não têm essa sorte e, neste momento, temos pessoas na Ucrânia a dormir em estações de metro e o tempo na Ucrânia não está como aqui, por isso, como devem perceber, as ajudas são importantes”
Bradando um cartaz que combinava as cores da bandeira ucraniana com fontes de doação, a jovem luso-ucraniana procurou, também, servir-se da Manifestação da Paz, como plataforma de difusão dos meios de auxílio àqueles que se encontram no terreno e que carecem, mais do que nunca, da ajuda internacional.
“Já estou em Portugal desde os meus 3 anos, ela já nasceu cá. Para não nos sentirmos inúteis com o que se está a passar na Ucrânia decidimos vir à manifestação divulgar estas doações que estão a acontecer em Gaia. Eles têm contactos constantes com pessoas da Ucrânia para saber o que precisam mais, que neste momento são equipamentos para dormir: sacos-cama, cobertores, tapetes de yoga. Também precisam de roupa quente, casacos, medicamentos para desinfeção de feridas. Vão ter o primeiro camião já a sair na terça-feira (02 de março) e estão abertos todos os dias da semana, das 10h às 22h. Estamos a pedir às pessoas para, se quiserem ajudar, irem lá”.
Em declaração ao JUP, Ana Ferreira, mestre em psicologia pela FPCEUP, destacou a importância do ativismo juvenil e da participação dos estudantes em intervenções como a que tomou a Avenida no passado domingo, condenando a entoação do hino português, que se fez ouvir pouco depois do início do movimento.
“É importante que os jovens saiam à rua, é importante que toda a população o faça, mas os jovens principalmente. Em primeiro lugar, porque é o futuro deles que está em causa. Em segundo lugar porque, infelizmente, a geração mais velha, não digo todos, não está tão presente nestas coisas como deveria estar. O mundo, para eles, já não tem muitos anos de vida, efetivamente, mas, para nós, ainda tem… E… isto não é um problema só da Ucrânia, só da Europa, só da Rússia e da Ucrânia… passou a ser um problema de todos porque existem fronteiras, mas as fronteiras não são físicas. Eu acho que as pessoas se esquecem disso e continuam a viver a vida como se nada fosse, a festejar como se nada fosse, a existir como se nada estivesse a acontecer e… estas ações de ativismo e as manifestações são essenciais não só para mostrarmos o nosso posicionamento, mas para mostrar que estamos aqui, que estamos alerta e que ninguém nos pode calar, nem mesmo um ditador, um sociopata, como o Putin. Obviamente temos medo das consequências, mas temos a obrigação e o dever de estarmos presentes. Só quem está muito desatento e vive no seu próprio mundo, como as pessoas que começaram a cantar o hino nacional nesta manifestação, é que… enfim… estão envolvidas no seu ego e no seu privilégio”.
Além disso, refere também a necessidade de filtragem das ocorrências que dominam o meio digital. Confrontada com o questionamento sobre a alienação advinda da dependência tecnológica e as consequências desse fenómeno, indica:
“Eu acho que nós temos que saber filtrar aquilo que estamos a ouvir e ver. Acho que não vamos estar com a televisão ligada 24h/24h, com CMTVs e afins a passarem imagens de pessoas a chorar e de pessoas a sofrer. Isso é importante, mas não temos que estar a ver isso 24h/24h. A parte digital é importante estarmos atentos. É a partir de lá que recebemos as notícias. Como é que vamos saber as próximas movimentações da Rússia se não estivermos presentes no mundo digital? Depois, é preciso também filtrar o que é verdadeiro e o que é falso. Nós, enquanto estudantes, pessoas literadas, temos o dever de procurar informações fidedignas e não fazer circular informações falsas. Agora, quando me dizem que tenho que me abster do que se está a passar… sim, tens que te abster, mas também tens que cair na realidade e perceber que isto está a acontecer, e o que está a acontecer. O nosso próximo passo vai depender daquilo que as notícias nos derem. É essencial estarmos atentos a isso”.
Ao seu lado, Vanessa Correia considera essencial referir, também, o impacto da pandemia COVID-19, alinhando-a com a hostilidade presenciada no cenário ucraniano e potenciada pelo governo russo:
“Também acho que é importante esta filtragem da informação, porque estamos a viver tempos conturbados. Acabamos de sair, ou ainda não saímos… é um intervalo esquisito entre uma pandemia e uma guerra, portanto, estamos a ser constantemente bombardeados de informação, seja ela verdadeira ou falsa, portanto, o conselho que eu dou é de conseguirmos filtrar não só para distinguir o verdadeiro do falso, mas também por uma questão de saúde mental. As notícias podem ser elas também causadoras de ansiedade. Neste momento estamos a passar por um período que é propenso a isso e, portanto, estes estímulos acabam por ser desnecessários”
Solidariedade Internacional
Para além da comunidade jovem, a manifestação pela paz contou, também, com a intervenção de ativistas internacionais, que procuraram estender o seu apoio ao povo ucraniano, vitimado pelo ataque de Putin. Rola indicou ao JUP estar presente em solidariedade para com a região balcã, notando que, nestes locais, a tensão Rússia-Ucrânia não havia instigado tanto o sentimento de alerta como no ocidente, já que os seus cidadãos vivem em constante temor pela defronta russa desde a saída da União Soviética, pelo que compreenderam antecipadamente os movimentos que Putin pretendia convocar. Ainda nesta lógica, Ihor, de bandeira em punho e apreensivo face ao futuro da sua nação, explica a centralidade da democracia no cenário hostil que figura a realidade ucraniana, apelando à contextualização histórica e, uma vez mais, reforçando a resiliência ucraniana:
“Isto não é só a nossa tragédia, pode ser para todo o mundo. Agora é que se decide qual lado a Europa vai tomar, o lado democrático ou o lado do autoritarismo e totalitarismo. A nossa família está na Ucrânia e estamos preocupados e stressados, não sabemos como vai ser amanhã e à noite, só queremos parar este terrorismo. Matam crianças, médicos… não há escolha, crianças, mulheres, tudo. Vamos fazer o máximo possível. Isto acontece porque a Ucrânia queria ir para a Europa, ela já pertenceu por muitos anos à União Soviética, setenta anos, mas quer ir para a democracia. O primeiro país que foi para lá foi a Moldávia e ele (Rússia) entrou em conflito, depois Geórgia e ele foi ocupar também lá uma guerra fria. Quando a Ucrânia se decidiu juntar, ele foi tirar-nos a Crimeia e os terrenos do Donbass, porque acha que a Europa vai ter medo de levar outros países para o conflito. O Putin quer os países à volta dele mais pobre que ele, porque os russos, ao verem que a Ucrânia, juntando-se à Europa, fica mais rica, com mais pessoas, mais abertas… mesmo o povo russo vai mandá-lo para fora. Ele está interessado em ter os países mais pobres que a Rússia, só quer ditadura e guerra à volta dele. Nós queremos paz, mas ele quer, para isso, que os nossos soldados baixem as armas. Nós não podemos baixá-las porque no fim ficamos sem nada, sem liberdade e sem armas. Quem entre pão e liberdade decide o pão vai perder a liberdade. Nós, ao decidir liberdade, estamos a escolher ter os dois, liberdade e pão. A desvantagem da democracia é não podermos organizar tudo tão rápido quanto nos países autocráticos. A burocracia é uma desvantagem, mas nós acreditamos que a Europa Atlântica, quer dizer, Canadá, América, Japão, se vai juntar e isolar o Putin, vão dar a conhecer ao mundo o que ele faz. Só o mundo unido consegue combater o Putin e ele não quer a Europa unida porque sabe que, dessa forma, ele perde. Um país de cada vez ele consegue ganhar, por isso é que quer destruir a Europa também”.
Couto dos Santos deixa o cargo e fim do movimento:
Pelas 15h35, entre as proclamações continuas de “Stop Putin, Stop War” e relatos apavorantes dos efeitos da invasão russa no território ucraniano, já depois de Portugal ter tomado a decisão de fechar os seus céus ao tráfego aéreo russo, é transmitida, presencialmente, o abandono do cargo de Couto dos Santos, que renuncia funções em momento de plena instabilidade por via do conflito militar instaurado pelo país que deixa de representar. Nesta altura, uma onda de aplausos invade a comunidade presente.
Os ativistas dispersaram pouco depois das 17h, deixando, no local, marcos da sua mensagem, sensibilizando o Porto e todos os que de outros locais se movimentaram para apelar à paz e à democracia. A resistência ucraniana e o seu espírito resiliente foram, nessa altura, recordados através das histórias de cidadãos nobres que se têm unido e sacrificado na defesa da paz, sendo descritas situações como a do jovem ucraniano que se fez explodir sobre uma ponte, impedindo o avanço dos tanques russos e a do presidente ucraniano, Zelenskii, que, tendo meios para se salvaguardar do conflito, se recusou a abandonar a pátria que jurou defender, convocando, através de uma postura de coragem e espírito de liderança, a força dessa mesma nação que acredita ter capacidade para superar as ofensas de que é alvo.
Escrito por Carina Seabra.
Revisão por Beatriz Oliveira.
Créditos de imagens: Bárbara Pedrosa