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GUERRA NA UCRÂNIA: ATUALIZAÇÕES DO CONFLITO – SEGUNDA SEMANA

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Mapa da Ucrânia com a localização de tropas e ataques russos assinalados – Créditos: UK Ministry of Defence
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Atualizações do conflito – segunda semana:

Nos últimos dias, a ofensiva russa concretizou-se na tentativa de controlar as principais cidades do país, alcançando recentemente importantes pontos estratégicos e áreas que conciliam os seus objetivos militares na região. Na passada sexta-feira, tropas russas conseguiram controlar a central nuclear de Zaporizhzhia, após um violento combate armado travado na proximidade da infraestrutura. Este ataque, que levantou sérias preocupações sobre um possível dano no reator nuclear em questão, não causou danos em instalações criticas que pudessem comprometer a segurança e a saúde da população nas zonas mais próximas, contabilizando-se apenas danos em edifícios de treinamento e no laboratório da maior central nuclear do país.

Apesar da redução de produção energética desde o inicio do conflito por razões de segurança, a central nuclear de Zaporizhzhia era responsável por uma parte considerável da energia produzida na Ucrânia. Com esta conquista, a Rússia passa a controlar um importante elemento do esforço de guerra defensivo ucraniano, em semelhança ao controlo sobre a central nuclear de Chernobil, estabelecido na semana passada pela sua proximidade à capital ucraniana.

No sul do país, onde os avanços da operação militar revelam-se mais eficazes, persiste ainda o bombardeamento à cidade cercada de Mariupol, localizada nas margens do Mar de Azov. Em Kherson, o cerco à cidade por tropas russas também se registou nos últimos dias, com as mesmas recentemente declarando a conquista desta cidade que estabelece a ligação entre o Mar Negro e ao rio Dniepre. Situada no noroeste de Kherson, a cidade de Mykolaiv também assistiu à entrada das forças russas. Segundo o governador daquela região, Vitaly Kim, as tropas russas foram combatidas pelas forças ucranianas que declaram o controlo sobre a cidade e o aeroporto de Kulbakino, inclusivamente atacado. Em Odessa, a terceira maior cidade ucraniana, as forças ucranianas e a população preparam-se para um desembarque anfíbio russo na costa da cidade, após a confirmação da aproximação de navios russos da região que incorpora o principal porto do mar Negro.

No norte, a estratégia russa em Kiev mudou, registando-se agora o avanço no distrito de Busha, em alternativa ao combate no distrito de Obolon que até agora tinha sido enfrentado, na tentativa de avançar sobre a capital. Na segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv, resiste-se a intensos combates contra paraquedistas russos que se envolveram em combates diretos com as forças ucranianas. Ao mesmo tempo, o recurso a bombardeamentos e fogo de artilharia continua na cidade, que contabiliza a destruição de vários edifícios, entre eles uma universidade, um hospital e um edifício administrativo da câmara municipal.  Nas cidades de Chernihiv e Sumy, acrescentam-se aos combates pesados bombardeamentos em áreas residenciais destruídas.

As táticas empregadas pelo exército russo próximas de áreas residenciais e altamente povoadas têm levantado variadas acusações de crimes de guerra praticados, com o crescente número de mortes registados entre os civis e o bombardeamento de infraestruturas não militares e sem relevância estratégica, juntando-se também a estes o recente ataque à central nuclear. Ao mesmo tempo, a utilização de munição cluster nos bombardeamentos próximos de áreas residenciais representa um perigo acrescido à vida da população. “As submunições não detonadas quase sempre explodem quando manuseadas ou deslocadas, representando um grave perigo aos civis. A presença dessas armas representa uma ameaça aos civis deslocados que retornam para seus lares, impede as ações de socorro e reconstrução e fazem com que atividades vitais para a subsistência, como a agricultura, se tornem perigosas mesmo anos ou décadas após o fim do conflito.”, consta o website do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. 

Com o objetivo de estabelecer um corredor humanitário para a assistência médica dos feridos e a retirada da população das áreas de combate nas cidades de Mariupol e Volnovakha, um cessar-fogo foi recentemente declarado entre ambas as partes nas rotas determinadas para a evacuação. Contudo, relatos provenientes da cidade de Mariupol referem que o conflito persiste em Zaporizhzhia, região localizada no fim do corredor humanitário. A retirada de civis da cidade foi por isso adiada, com o vice-autarca de Mariupol, Serhiy Orlov, declarando à BBC que “Os russos continuam a bombardear-nos e a usar artilharia. É uma loucura”. O Ministério de Defesa da Rússia acusou os “nacionalistas” ucranianos de impedirem a retirada de civis, revela a agência de notícias RIA.

Crise Humanitária:

Como consequência da evolução do conflito, assiste-se também ao agravamento da situação humanitária na Ucrânia, com o aumento do número de mortos, da necessidade de evacuação e de assistência aos civis afetados pela guerra.

No mais recente relatório do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários e segundo as ultimas declarações da ONU, é possível contabilizar a morte de pelo menos 351 civis desde o inicio do conflito e 707 civis feridos. Em adição ao número de mortos e feridos, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara as dificuldades enfrentadas no “acesso a água, comida, cuidados de saúde e outros serviços básicos”, devido aos bombardeamentos, enfatizando também a deslocação de mais de 870 mil pessoas para as fronteiras do país em busca de segurança e condições. A grande maioria das vítimas civis deve-se ao uso de armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada, sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mísseis e ataques aéreos, acrescentou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Devido ao “atraso na recolha de informação de algumas zonas onde decorrem hostilidades”, a ONU declara que os números partilhados deverão ser “consideravelmente maiores”. No relatório, são mencionadas as “disrupções nas linhas de eletricidade, bem como nos sistemas de abastecimento de gás e água”, numa altura em que o inverno rigoroso continua a afetar a região e a dificultar a sobrevivência da população fragilizada. A interrupção das linhas de assistência humanitária “continuam a fazer aumentar a vulnerabilidade das populações afetadas a doenças transmissíveis, tal como a covid-19, a poliomielite e o sarampo”, registando-se também as necessidades de oxigénio nos hospitais, que atingem níveis críticos.

O número de refugiados já ultrapassou os 1.2 milhões, esperando-se a intensificação do fluxo de refugiados, à medida que as forças russas se aproximam das principais cidades do país. A ONU admitiu ainda que, no futuro, 10 milhões de ucranianos podem vir a fugir do seu país, com 4 milhões procurando refugio nos países vizinhos. Dentro da lista dos países que atualmente servem os refugiados ucranianos, a Polónia é o país com mais afluência registada, acolhendo quase 700 mil pessoas. Outros países, como a Hungria, Moldova, Roménia e a Eslováquia também registam um crescente número de refugiados acolhidos.

 Reação Internacional:

As medidas impostas pela comunidade internacional e europeia afetaram consideravelmente a economia russa e a sua capacidade de financiamento. A recessão do país causada pela pandemia é agora agravada pelas sanções económicas aos principais bancos, companhias e ao mercado russo, cada vez mais privado e isolado dos restantes. Durante uma reunião com altos funcionários do setor de Defesa, o vice-primeiro-ministro russo, Yuri Borisov, admitiu que “A magnitude total e a profundidade das sanções atuais contra a economia russa são difíceis de prever”.

Apesar das declarações por parte dos altos cargos, como o porta-voz da Presidência russa, que afirmou “a Rússia tem potencial suficiente para compensar os danos que estas causam” e garantiu a confiança sobre a eficácia e fiabilidade do Banco Central russo, vários analistas questionam a capacidade da Rússia em resistir às limitações enfrentadas, estimando-se uma considerável diminuição do Produto interno bruto russo no futuro.

Danos provenientes da retirada de grandes grupos económicos e das principais marcas, a expulsão de bancos do sistema Swift, a restrição sobre a comercialização de produtos e componentes tecnológicos avançados e a dificuldade acrescida sobre o pagamento da dívida russa representam problemas significativos para o país. Adicionalmente, a desvalorização da moeda russa, o rublo, continua a atingir mínimos históricos em comparação com o dólar americano nos últimos dias.

Hoje, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse encarar as sanções ocidentais contra a Rússia como uma semelhante declaração de guerra ao país. Numa emissão transmitida pela televisão estatal, Putin declarou que a “Rússia é grande demais para ser isolada, já que o mundo é muito maior do que apenas os Estados Unidos e a Europa”, insistindo também na ambição russa de “desmilitarizar” e “desnazificar” o estado ucraniano.

O envio de armas pela comunidade internacional para as tropas ucranianas levanta questões sobre o aumento tráfico de armas dentro da UE, alertou a agência europeia de fronteiras (Frontex). “O tráfico de armas é, de facto, algo que vamos monitorizar ainda mais fortemente. Existe o risco de que as armas venham da Ucrânia para a União Europeia, talvez ligadas ao tráfico criminoso para alimentar a criminalidade e, eventualmente, o terrorismo na UE”, afirmou este sábado Fabrice Leggeri, o diretor executivo da agência, entrevistado à agência espanhola de notícias Efe.

As atuais preocupações energéticas atingem também os estados que se comprometeram ao caminho para a transição energética, de modo a combater as alterações climáticas. Para além da dependência energética registada por diversos países europeus, a variação e instabilidade dos preços face ao conflito abriram portas para novas preocupações e estratégias a serem consideradas. Face ao impacto da guerra no preço do petróleo e no gás natural, o debate atual assenta-se no atraso ou incentivo à transição energética que pode surgir no futuro próximo, dado o conflito e a sua evolução nas próximas semanas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para a subida registada nos preços da energia e dos cereais, antecipando um impacto “muito severo na economia global”. “Apesar de a situação fazer com que as perspectivas estejam sujeitas a uma incrível incerteza, as consequências económicas já são muito graves. A guerra que está em curso e as sanções associadas vão também ter um impacto severo na economia global”, esclarece o FMI.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, viu ser recusada o seu recente pedido à NATO de fechar o espaço aéreo do território ucraniano. A implementação de uma ‘no-fly zone’ sobre os céus da Ucrânia resultaria na proibição da entrada de qualquer aeronave no espaço aéreo ucraniano (à exceção de aeronaves ucranianas). Caso essa entrada fosse registada, o resultado da consequente interceptação de aeronaves russas por meios da NATO iria resultar num conflito direto entre os seus estados membros e a Rússia.

Desde o inicio do conflito que a NATO e os seus estados membros descartam qualquer motivação de entrar em conflito direto com a Rússia, com a mesma advertendo que qualquer interferência à ofensiva russa seria combatida sob a pena de “consequências como nunca antes experimentado na história”. Apesar da recusa da exclusão sobre o espaço aéreo ucraniano, a NATO compromete-se a “defender e proteger cada centímetro” do território pertencente à aliança militar, com um reforço militar no leste da Europa e o anunciado reforço do orçamento militar pela Alemanha e Polónia.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.

Revisão por Beatriz Oliveira.

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