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Sociedade

GUERRA NA UCRÂNIA: ATUALIZAÇÕES DO CONFLITO – TERCEIRA SEMANA

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Mapa dos avanços russos sobre o território ucraniano. Fonte: Institute for the Study of War. Créditos: BBC

Atualizações do conflito – terceira semana:

As frentes no norte e sul do país continuam ativas, com bombardeamentos e conflitos diretos entre as tropas russas e ucranianas. Destaca-se o recente bombardeamento de cidades localizadas na região ocidental do país, nesta sexta feira, com o registo de explosões em Lutsk, a Noroeste, e Ivano-Frankivsk, a Sudoeste, em aeroportos, estruturas de aviação militares e fábricas. A cidade de Dnipro, no centro do país, foi também atacada durante a noite pela força aérea russa, que destruiu um complexo industrial da cidade.

Em Kiev, onde as forças ucranianas demonstram maior resistência à ofensiva, os últimos 15 dias de luta refletem a dificuldade das tropas russas em cercar a cidade, que tentam agora abrir novas frentes de combate nas regiões a leste e oeste da capital. Relatos indicam a movimentação da coluna de veículos militares russos localizada a 20 km da capital, juntamente com o reposicionamento de tropas para, o que tudo indica, um novo ataque à cidade.

Através de um comunicado emitido hoje, as Forças Armadas da Ucrânia anunciaram que o ataque russo a Kiev decorre a partir de diferentes pontos no noroeste e leste da capital, enquanto tentam neutralizar as defesas de Kukhari, a 90 quilómetros e em Demidov, a 40 quilómetros a norte da cidade. O mesmo comunicado informa que as forças russas encontram-se neste momento a tentar tomar a parte norte da cidade de Chernihiv, a bloquear Kharkiv tendo-se registado também ofensivas nas cidades de Mykolaiv, Zaporizhzhia e em Kryvyi.

Na cidade cercada de Mariupol, os bombardeamentos em larga escala continuam, registando-se graves falhas na distribuição de água, eletricidade e aquecimento que acentuam a vulnerabilidade da população local impedida de fugir. Acrescenta-se também o bombardeamento de áreas residenciais e de hospitais na cidade, como foi o caso de um hospital pediátrico e maternidade atingidas na passada quarta-feira. A condição precária e decadente da população pressiona as operações de ajuda humanitária na região, que vêm o seu funcionamento impedido devido ao bombardeamento dos corredores humanitários e ao cessar-fogo violado.

Nas restantes cidades do país, os cenários de batalha mantêm-se. Ainda no norte, os avanços russos em Kharkiv surgem na tentativa de estabelecer o controlo entre a mesma e a cidade próxima de Izyum. No sul do país, onde o sucesso russo contrasta com as dificuldades nas cidades a norte, as forças russas tentam cortar as principais rotas de suprimentos em Mykolaiv. Em Odessa, a população prepara-se para o temido ataque já antecipado contra a cidade, que tem-se preparado face à presença dos navios militares russos no Mar Negro.

Face ao envio de voluntários internacionais que combatem com as forças ucranianas através da chamada Legião Internacional, que contabiliza já 20 mil voluntários, Vladimir Putin pretende facilitar o envio de voluntários para a Ucrânia que integrem a ofensiva russa contra as forças ucranianas. O Ministro da Defesa russo diz ter conhecimento de 16 mil inscrições de ex-combatentes que apoiaram a Rússia nos combates contra o grupo Estado Islâmico.

Apesar de sob ocupação russa, a contestação da população ucraniana em cidades como Kherson, Melitopol,  Zaporozhia e até mesmo na região separatista no leste do país, na cidade de Starobilsk, tem vindo a aumentar, com vários vídeos nas redes sociais demonstrando imagens da população reunida com bandeiras da ucrânia e gritos de protesto contra os ocupadores.

As conversações diplomáticas em Antalya, na Turquia, entre a Ucrânia e a Rússia não resultaram no tão esperado consenso entre ambos os países. O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, afirmou que as conversações na Bielorrússia são o único formato viável para dialogar com a Ucrânia. Adicionalmente, Lavrov informou que a Rússia vai abrir corredores humanitários “diariamente”. O responsável diplomático ucraniano, Dmytro Kuleba, voltou a reforçar que a Ucrânia não vai ceder às exigências impostas por Moscovo para o fim do conflito. “Levantamos a questão do estabelecimento de um cessar-fogo de 24 horas para tratar das questões humanitárias mais urgentes. Não fizemos nenhum progresso. Parece que quem decide sobre a matéria está na Rússia”, declarou.

Na passada quinta-feira, o Ministério da Defesa da Rússia acusou os Estados Unidos de financiarem um programa de armas biológicas na Ucrânia, através de “documentos apresentados por funcionários de laboratórios ucranianos”, evocando “a transferência de biomateriais humanos levados na Ucrânia para países estrangeiros a pedido de representantes americanos”, esclareceu o porta-voz do governo russo, Igor Konashenkov. Os EUA e a Ucrânia desmentiram a existência de tais laboratórios e armas biológicas no país.

Crise Humanitária:

A Organização das Nações Unidas (ONU) atualizou o número de refugiados resultantes deste conflito, atingindo hoje o número de 2,5 milhões de pessoas que procuram abrigo nos países vizinhos. No total, 4,5 milhões de ucranianos fugiram das suas casas desde o inicio da guerra. “O número de refugiados da Ucrânia – tragicamente – chegou esta sexta-feira aos 2,5 milhões”, afirmou o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, no twitter.

Estes números foram também confirmados por Paul Dillon, porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), que aponta para os dados fornecidos pelos governos nacionais, atualizados nesta sexta-feria. A mesma fonte também comunica que 1,5 milhões de refugiados encontram-se refugiados na Polónia, com os restantes espalhados nos restantes países que desde o inicio da guerra abrigam a população ucraniana.

Com as constantes tentativas fracassadas de um cessar-fogo para a evacuação de feridos e civis das zonas de combate, as autoridades ucranianas anunciaram hoje os planos inerentes à retirada de civis e de envio de ajuda humanitária com a cooperação da Cruz Vermelha. Numa chamada gravada em vídeo, a vice-primeira ucraniana, Iryna Vereshchuk, comunicou a tentativa da retirada de civis na cidade de Mariupol para  cidade de Zaporizhzi, juntamente com o envio de autocarros e ajuda humanitária para a periferia de Kiev, em locais onde a população encontra-se impedida de sair.

Segundo a ONU, a guerra na Ucrânia já vitimou pelo menos 564 pessoas e provocou 982 feridos civis, incluindo dezenas de crianças, anunciou hoje o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). A agência da ONU para os direitos humanos adiantou ainda que “a receção de informações de alguns locais onde têm ocorrido hostilidades intensas tem sido adiada e muitos relatórios ainda estão pendentes de corroboração”. Foi referido também a particularidade de cidades como Volnovakha, Mariupol e Izium, “onde há alegações de centenas de baixas civis” que não estão incluídas nos números divulgados hoje.

Relativamente às desigualdades económicas e sociais, a ONU também alertou para o alto custo socioeconómico mundial da guerra. A secretária-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento ( UNCTAD) comunicou que “esta crise aumentará as desigualdades em todo o mundo”, com especial enfase “nas economias em desenvolvimento”. A subida dos preços não só nos combustíveis como também nos alimentos  reflete-se como um “aumento da pressão sobre famílias mais pobres, que são os que gastam quase todos os seus rendimentos com a alimentação, o que resultará em fome e dificuldades”, de acordo com a mesma responsável.

Reação Internacional:

Na cimeira da União Europeia (UE) realizada em Versalhes, os lideres europeus reuniram-se para discutir a defesa e energia no continente, por força da ofensiva russa na Ucrânia. Relativamente ao pedido formal do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para a entrada do seu país na União Europeia, o mesmo foi aceite pelos líderes da UE que, apesar de considerarem a Ucrânia como pertencente à “família” europeia, também realçam o processo demorado e dependente da evolução do conflito nos próximos meses. Agora, a avaliação do pedido aceite será reencaminhada para a Comissão Europeia.

Ainda em Versalhes, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell propôs a duplicação do financiamento europeu de armas fornecidas às forças ucranianas. “Fiz a proposta de duplicar a nossa contribuição e estou certo de que os líderes vão aprovar este dinheiro”, declarou Borrell, acrescentando que “todos estão conscientes de que é necessário aumentar o apoio militar à Ucrânia e colocar mais pressão sobre a Rússia”.

Consoante o aumento das sanções económicas estabelecidas sobre a Rússia, atualmente o país mais sancionado do mundo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para a possibilidade da Rússia entrar em bancarrota. Perante a recessão da economia russa a directora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, disse que “A falência da Rússia não é mais um acontecimento improvável”, e que aquilo que determinará os níveis de recessão económica no futuro próximo será a duração da guerra e as sanções futuramente impostas.

Após os EUA terem proibido todas as importações de gás e energia da Rússia (um ato simbólico, uma vez que as importações energéticas americanas da Rússia eram de pequeno valor) levantam-se cada vez mais questões sobre o futuro da dependência energética da Europa ao fornecimento russo. A União Europeia já apresentou um plano para reduzir esta dependência energética através do corte da dependência do bloco do gás russo em dois terços até o final deste ano e acabar com sua dependência do fornecimento russo de energia “muito antes de 2030”, informou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.

A execução deste plano encontra-se dependente de fornecedores alternativos e da expansão de fontes de energia renovável com mais rapidez. A Comissão Europeia anunciou a possibilidade dos Estados Unidos e o Catar poderem substituir mais de um terço do gás que a UE recebe anualmente da Rússia até o final deste ano. A utilização de biometano e hidrogênio durante a próxima década poderão também ser um fator que concilie as ambições energéticas europeias, juntamente com a implementação de projetos eólicos e solares.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.

Revisão por Beatriz Oliveira.