Sociedade
Após queixas de violência, Big Brother perde patrocinadores
Atualmente, os reality shows são uma das formas mais populares de entretenimento “de massa” na televisão. Seja como um escape à realidade em que se vive ou como observação de uma experiência social, a verdade é que este formato conquistou o seu lugar na programação. Tendo surgido há 22 anos, o nome foi inspirado no clássico da literatura “1984” de George Orwell.
Em Portugal, este conceito estreou em 2000 e já teve múltiplas edições, quer com a participação de anónimos, quer com a de famosos. Dele surgiram outras variações, como a “Casa dos Segredos” e a “Quinta das Celebridades”, mas a TVI, o berço português deste programa, retorna sempre ao formato original. Foi o que aconteceu no início de 2022, quando se iniciou uma nova edição do programa “Big Brother Famosos”.
Esta edição contou com a participação de nomes bastante conhecidos do público português, sendo um dos mais sonantes Bruno de Carvalho. A imagem do antigo Presidente do Sporting ainda se encontrava muito envolta da polémica de Alcochete, mas tal rapidamente se alterou. O mesmo conquistou o público nas primeiras semanas e foi, logo à partida, por muitos considerado como um potencial vencedor. No entanto, tudo se alterou quando iniciou uma relação amorosa com Liliana Almeida, ex-membro das Nonstop.
Foram múltiplos os episódios que despertaram uma onda de revolta no público português. Desde imagens de Bruno de Carvalho a coagir Liliana Almeida para demonstrações de afeto, nomeadamente beijos, até inúmeras conversas com teor manipulativo: “O problema és tu”, “É comigo que tens de falar”, “Não me faças de parvo. Gosto de ti. Fazes-me sentir mal.”
A sucessão e escalda destes acontecimentos fizeram com que múltiplas personalidades e anónimos se manifestassem nas redes sociais contra a conduta de Bruno de Carvalho. A violência e manipulação psicológicas em horário nobre retomaram a conversa sobre a violência doméstica na sociedade portuguesa. Perante estes factos, a expulsão imediata deste participante foi solicitada por muitos. No entanto, a TVI não tomou qualquer medida e a apresentadora Cristina Ferreira sempre o defendeu, dizendo até que “Só o amor pode resolver até as coisas mais condenáveis.”
A inação das entidades competentes do reality show contrastou com as entidades externas ao mesmo. A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género apresentou uma queixa por crime público de violência doméstica. A APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) afirmou que era fulcral um “plano de intervenção” por parte da TVI para “apelos à violência ou cometimento de um crime”. Além do mais, a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) confirmou ao Público a receção de várias queixas sobre “alegadas situações de violência psicológica e física.”
Também os patrocinadores do Big Brother se quiseram afastar da normalização e legitimação da violência. A Betano, um dos sites mais conhecidos de apostas online em Portugal, era um dos patrocinadores principais do programa e retirou, com efeitos imediatos, toda a sua associação ao mesmo. Também a Vinted, uma aplicação de venda de roupa e acessórios em segunda mão, tinha um espaço de promoção nas galas de domingo. A plataforma retirou o seu apoio, afirmando que:
“Após os acontecimentos recentes no programa, podemos confirmar que estamos a suspender a nossa publicidade no Big Brother para o resto da série. Não toleramos qualquer ato de violência, seja física, psicológica ou verbal”
Escrito pot Amália Cunha
Revisão por Beatriz Oliveira