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GUERRA NA UCRÂNIA: ATUALIZAÇÕES DO CONFLITO – QUINTA SEMANA

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O Ministério da Defesa da Rússia anunciou esta sexta-feira que a primeira fase da sua operação militar na Ucrânia encontrava-se praticamente concluída, estabelecendo agora os seus esforços na “libertação” da região do Donbass, no leste da Ucrânia. Este anúncio estabelece uma mudança da retórica do ministério russo, mas não significou o cessar dos combates ativos no território ucraniano.

Os combates entre as forças ucranianas e russas têm sido registados em localizações situados nos arredores de Kiev, a capital do país, atualmente cercada. Fontes ucranianas relataram combates e bombardeamentos em Irpin e Hostomel, à medida que as tropas russas priorizam os avanços sobre o oeste da cidade. Na cidade de Bucha e Nemishevska, as autoridades ucranianas denunciaram a construção russa de linhas de trincheiras para fins de defesa aos contra-ataques exercidos pelas suas forças, estaladas na capital. O Ministério de Defesa britânico destacou o sucesso registado pelas forças ucranianas nos seus recentes ataques sobre as posições russas.

“Os contra-ataques ucranianos e o recuo das forças russas para as linhas de abastecimento sobrecarregadas permitiram à Ucrânia reocupar cidades e posições defensivas até 35 km a leste de Kiev”, lê-se na atualização do ministério britânico. Em adição, os serviços de inteligência do ministério apontam para a possibilidade da retomada ucraniana de Makariv e Moschun, juntamente com a sua atual capacidade de circundar as tropas russas situadas em Bucha e Irpin.

As forças russas também cercaram Chernihiv, comunicou o governador da cidade, que resiste aos bombardeamentos e ataques de artilharia desde o inicio do conflito. Nos últimos dias foram registados combates e assaltos russos nos arredores da cidade, a dezenas de quilómetros do centro, que culminaram agora no seu cerco. A cidade de Summy registou igualmente pesados ataques de artilharia nas últimas horas.

Na cidade de Kharkiv, os relatos de combates em Izyum que apontam para a execução de contra-ataques pelas forças ucranianas contra posições russas na cidade ainda não foram confirmados independentemente. Os ataques de artilharia russos continuam a bombardear a segunda maior cidade do país, que enfrenta uma decadente situação humanitária, informa o governador da cidade.

Em Mariupol, as forças russas avançam progressivamente sobre o centro da cidade. Imagens partilhadas nas redes sociais confirmam a destruição da grande maioria das infraestruturas da cidade, alvo de bombardeamentos e ataques de artilharia que impossibilitam a distribuição de água, eletricidade e gás pela população. A situação humanitária degradante na cidade acompanha a intensificação do combate, com o aumento de número de mortos, feridos e população diretamente afetada pelo conflito.

Na província de Kherson, são relatados combates em Mykolayiv e confrontos com a população que contesta a ocupação russa na região. Segundo o Estado-Maior Geral das Forças Armadas da Ucrânia, as forças russas continuam a mobilizar suprimentos e meios militares que capacitem novas ofensivas militares na região. Também no sul do país, as forças ucranianas concretizaram um ataque contra o porto ocupado de Berdyansk. Os meios utilizados no ataque ao porto que servia o reabastecimento de tropas russas ainda não são claros, com fontes ucranianas garantindo a destruição de um navio de transporte e de alvos adjacentes, contudo, nenhuma outra fonte foi capaz de confirmar esta informação.

Crise Humanitária:

Na passada quinta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução que responsabiliza a Rússia pela crise humanitária ucraniana. Entre os 193 Estados-membros das Nações-Unidas, 140 votaram a favor da resolução, cinco contra e 38 abstiveram-se da votação.

Para além de exigir o fim imediato da ofensiva russa, a resolução lamenta  as “terríveis consequências humanitárias” da agressão, com o embaixador da Rússia junto da ONU, Vasily Nebenzya, classificando-a como “outro show político anti-russo, desta vez ambientado num contexto supostamente humanitário”.

A crise humanitária vivida na Ucrânia tem se agravado todos os dias. A ONU já contabilizou, desde o inicio da guerra, cerca de 13 milhões de pessoas retidas em áreas afetadas pelo conflito, que devido à destruição de estradas e pontes, encontram-se impedidas de fugir.

Adicionalmente,  contabilizam-se cerca de 6,5 milhões de pessoas deslocadas forçosamente dentro do país, com outras 3,7 milhões de pessoas atualmente refugiadas nos países vizinhos, segundo os dados da organização das Nações Unidas para os refugiados, a ACNUR.

De acordo com o Escritório do Alto Comissariado ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), são já cerca de 1035 o número de civis que perderam a vida e 1650 feridos devido ao conflito. Dentro destas estatísticas encontra-se também inserido o grupo etário das crianças, com pelo menos 81 crianças mortas e 108 feridas.

A exatidão dos números anunciados é dificultada pelos intensos bombardeamentos e ataques de artilharia russos, especialmente nas cidades de Mariupol e Volnovakha, informa a Chefe da Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos na Ucrânia, Matilda Bogner, em comunicado.

A UNICEF também alertou para a necessidade de apoio alimentar adicional para cerca de 450.000 crianças entre os seis a 23 meses. No total, cerca de 4,3 milhões de crianças foram deslocadas devido à guerra, com 1,8 milhões localizadas nos países vizinhos.

“As crianças precisam urgentemente de paz e proteção. Elas precisam dos seus direitos. A UNICEF continua a pedir um cessar-fogo imediato e a proteção das crianças. A infraestrutura crítica da qual as crianças dependem, incluindo hospitais, escolas e prédios que abrigam civis, nunca deve ser atacada”, afirmou a diretora-geral da UNICEF.

Apesar da recusa de um cessar-fogo, a Rússia e a Ucrânia concordaram estabelecer 9 corredores humanitários, destinados à retirado dos civis e feridos das zonas afetadas pelo conflito.

Recentemente, as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de forçar a entrada de milhares de civis no seu país, como ferramenta de pressão sobre o governo ucraniano. Segundo a provedora de Justiça da Ucrânia, Liudmila Denisova, são já 402 mil o número de pessoas que o Kremlin forçou a sua deslocação.

Este número coincide com o número que o governo russo partilhou ao referir-se dos deslocados em questão, contudo, o mesmo afirma que as pessoas fizeram-no por livre vontade de acordo com a agência de notícias Associated Press (AP).

Reação Internacional:

Como reação à crise humanitária, os EUA e a União Europeia (UE) disponibilizaram mais de 1,4 milhões de euros em ajuda humanitária para “apoiar as pessoas dentro da Ucrânia, aqueles que foram forçados a fugir e aqueles que foram afetados pelos graves impactos que a guerra da Rússia está a causar em todo o mundo”, salientou a líder da Comissão Europeia e o presidente norte-americano.

Relativamente à posição chinesa face ao conflito de um dos seus próximos aliados, Joe Biden afirmou acreditar que Pequim não tenciona envolver-se na operação militar russa, uma vez que o “futuro económico está muito mais ligado ao Ocidente do que à Rússia”, disse o Presidente norte-americano, numa conferência de imprensa no quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Na cimeira entre os líderes da NATO, que decorreu na passada quinta-feira, a aliança militar assistiu ao pedido do Presidente ucraniano, Volodimir Zelenskii, de assistência militar sem restrições. “Podem dar-nos 1% de todos os vossos aviões. 1% dos vossos tanques”, pediu Zelenskii, que em adição aos tanques e caças, apela por sistemas de defesa antiaérea e antimíssil, plataformas de lançamento de foguetes e armas anti-navio.

Os líderes da NATO avaliaram a atual resposta ao conflito, numa altura em que a aliança demonstra preocupação sobre a utilização de armas químicas, biológicas, ou nucleares russas. “Estamos a enviar uma mensagem à Rússia de que qualquer utilização de armas químicas, ou biológicas ou nucleares vai alterar fundamentalmente a natureza do conflito. Será uma violação flagrante do direito internacional e terá consequências de grande alcance”, afirmou Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO em entrevista à euronews. Joe Biden também reforçou uma eventual ação da aliança caso este tipo de armamento seja utilizado no campo de batalha. “Responderíamos, responderíamos se ele as usasse. A natureza da resposta dependeria da natureza da utilização”, afirmou o Presidente.

O mais recente reforço das tropas da aliança no leste da Europa duplicou o número de países no leste do continente nos quais são pretendidos a instalação de grupos de combate, sendo estes a Eslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária. “Nós temos a responsabilidade de assegurar que a guerra não se estende para além da Ucrânia e se torna um conflito entre a NATO e a Rússia”, afirmou Stoltenberg, no final da cimeira da NATO.

A cidade de Bruxelas também acolheu as cimeiras dos lídere do G7 e da União Europeia. Os países pertencentes a ambas as instituições estabeleceram novas sanções a empresas ligadas à área da Defesa e a 328 membros do parlamento russo, avançou o Departamento do Tesouro norte-americano. Os membros concordaram igualmente na criação de uma nova iniciativa, baseada na partilha de informação e coordenação de respostas, de modo a contrariar medidas evasivas russas às sanções impostas pela comunidade internacional.

De modo a diminuir a atual dependência energética europeia, a Presidente da Comissão Europeia anunciou um novo acordo de fornecimento de gás natural com os Estados Unidos. “Vamos trabalhar para garantir mais 15 mil milhões de metros cúbicos de gás natural em estado líquido para a Europa este ano”, revelou o Presidente norte-americano relativamente ao acordo estabelecido, que “também funcionará para garantir uma exigência adicional de 50 mil milhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito dos Estados Unidos anualmente até 2030”.

Face às preocupações ambientais e aos compromissos estabelecidos pela UE no financiamento de energias renováveis, Ursula von der Leyen sublinhou que as infraestruturas necessárias devido ao gás natural poderão ser “utilizadas para energia limpa no futuro” e para descarbonização.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro

Revisão por Beatriz Oliveira

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