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“Bilan”: a primeira redação 100% feminina na Somália

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Créditos: Twitter de Harun Maruf

“Bilan” significa “brilhante” em Somali, mas agora é também a nova redação feminina, na Somália. De acordo com o The Guardian, a equipa é formada por seis mulheres, que vão produzir conteúdo para a televisão, rádio e para a plataforma online. Devido à desigualdade de género e ao desrespeito pelos direitos das mulheres que se vivem no país, o jornalismo é, maioritariamente, um emprego reservado aos homens, sendo, portanto, esta uma oportunidade única para estas e outras futuras jornalistas.

A redação é chefiada por Nasrin Mohamed Ibrahim, jornalista há 12 anos e co-fundadora da Somali Women Journalist Organisation,  que revelou ao The Guardian que o seu objetivo é “ultrapassar os problemas e as crenças sociais de que a função da mulher é ficar em casa.” Os membros da redação têm o poder de tomar decisões editoriais, o que significa que são livres de investigar e publicar notícias e reportagens do seu interesse.  Na Somália, ser mulher e trabalhar na indústria media acarreta várias adversidades, a dificuldade em progredir na carreira, o bullying e o assédio são apenas algumas delas. É por isso que a “Bilan” dá luz a temas como a desigualdade de género e o papel da mulher na sociedade.

Fathi Mohamed Ahmed, 25 anos, faz parte da Bilan e ela própria já sofreu na pele o peso do conservadorismo vivido no país. Ao The Guardian, Ahmed confessa: “O principal desafio que as mulheres jornalistas enfrentam, na Somália, é  a violência sexual, sobretudo exercida por homens que trabalham na mesma área. Eles oferecem-se para nos ajudar, mas apenas se lhes dermos algo em troca.” e acrescenta ainda “Alguns homens já me disseram ‘és linda, adoro o teu corpo’, e só pararam quando eu disse que era casada.”

Fathi Mohamed Ahmed, durante a gravação de um programa para a Bilan, Abril 2022. Foto: Bilan

Num país marcado por uma guerra civil desde 2009, onde grupos militares islâmicos atacam e matam jornalistas, profissionais do meio dizem ser ousado e até perigoso fundar um órgão de comunicação somente feminino, denota o Voa Português. Na Somália, segundo o jornal Público, pelo menos sete em cada dez pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza e, como tal, grande parte da população vive em tribos, no meio rural. É esse o caso de Shukri Mohamed Abdi, uma das jornalistas da Bilan, que resumiu a sua história ao The Guardian: “Eu venho de uma tribo rural, que não quer que nenhum dos seus membros se torne um jornalista, especialmente as jovens. Nós vimos do mato, onde o conceito de ser jornalista não existe.”

Bilan é um projeto apoiado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP), sediado em Mogadishu, no Dalsan Media Group, uma das mais relevantes empresas de media na Somália. Apesar de, por agora, ser experimental, com a duração de um ano, Jocelyn Mason, representante do UNDP em Mogadishu, está confiante de que a iniciativa se vai tornar permanente e poderá ser aplicada noutras regiões do país. “Nós temos a esperança de que este será um ponto de viragem no cenário dos media Somali, dando novas oportunidades para as jornalistas e trazendo ao de cima temas que têm sido ignorados, particularmente aqueles que são importantes para as mulheres.”, disse ao jornal britânico.

Jocelyn Mason, representante residente da UNDP na Somália. Foto: United Nations Somalia 

A Bilan terá ainda mais utilidades. Lá, serão oferecidas formações e programas de mentoria para jornalistas Somali e internacionais. Para além disso, as melhores finalistas do curso de jornalismo de duas universidades em Mogadishu vão ter a oportunidade de estagiar na redação durante seis meses.

Artigo de Ana Maio

Revisão de Inês Santos

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