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Sociedade

Guerra na Ucrânia: Atualizações do conflito – 9ª Semana

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O começo da nona semana de guerra é marcado pelos pequenos avanços russos registados sobre localidades no leste do país e na cidade de Mariupol. Os bombardeamentos e ataques de artilharia continuam a ser vastamente utilizados pelas forças russas, à medida que a reorganização das suas cadeias logísticas e de comando anteveem uma maior ofensiva sobre as províncias de Donetsk e Lugansk, avança o Instituto para o Estudo da Guerra (Institute for the Study of War – ISW) na sua avaliação diária da guerra na Ucrânia.

Nos últimos dias, os ataques persistentes das tropas russas na cidade de Mariupol surgem na tentativa de eliminar as forças ucranianas situadas na planta metalúrgica de Azovstal. Mesmo assim, nesta quinta-feira, o presidente russo Vladimir Putin declarou a vitória e “liberação” da cidade portuária de Mariupol, durante uma emissão televisiva.

O Ministério da Defesa russo fez nesta semana o seu terceiro ultimato às forças ucranianas em Mariupol desde o início da guerra, de modo a “pararem a resistência insensata e deixarem o centro da resistência”, instou o coronel-general Mikhail Mizintsev, chefe do Centro Nacional de Controlo de Defesa da Federação Russa. Contudo, o ultimato foi rejeitado, com as forças ucranianas continuando a resistência na planta metalúrgica e nos abrigos subterrâneos espalhados pela cidade, alvos de bombardeamentos e ataques de artilharia respetivamente.

A nova fase da ofensiva militar russa, que tudo indica ter como objetivo o domínio sobre as províncias de Donetsk e Lugansk, materializou-se ultimamente na concentração de reforços e meios militares, na execução de ataques sobre as principais linhas de contacto e extensos bombardeamentos, juntamente com o avanço sobre as cidades de Rubizhne, Popasna e Kreminna no Oblast de Lugansk, avança o ISW.

Segundo Serhii Haidai, chefe da administração militar regional de Lugansk, 80% do território da província encontra-se atualmente controlado por forças russas. Ao mesmo tempo, o chefe da administração militar regional alerta todos os residentes a abandonarem a zona imediatamente, face aos aguardados constantes avanços russos.

No nordeste do território ucraniano, os avanços das tropas russas tentam consolidar as operações em curso na região de Lugansk, simultaneamente mantendo o controlo sobre as suas linhas de comunicação em Izyum. As forças ucranianas comunicaram a execução de uma série de contraofensivas nos arredores de Kharkiv, porém sem efeitos visíveis e consideráveis.

Também em Kherson, relatos provenientes das forças ucranianas afirmam a execução de contraofensivas às posições russas na região, contudo, não confirmadas ainda independentemente.

No mar negro, o naufrágio do cruzador russo Moskva ainda levanta questões relativamente às causas do acontecimento, com fontes não identificadas, citadas pelo portal independente da Rússia Meduza, declarando a morte de 40 marinheiros e uma centena de feridos.

As forças militares ucranianas reivindicaram o ataque e subsequente naufrágio do navio com dois mísseis de cruzeiro antinavio “Neptune”. Em contrapartida, o Ministério da Defesa russo comunicou que o navio terá sofrido “um intenso incêndio e subsequente detonação de munição” e que a tripulação foi retirada, embora “tenha sofrido sérios danos”.

O Moskva, o navio-chefe da Frota do Mar Negro da Rússia, fotografado em 2009. Cortesia do Ministério da Defesa da Rússia / Wikimedia Commons / CC BY 4.0

Face à evolução do conflito, as conversações diplomáticas entre as delegações russas e ucranianas cessaram nas últimas semanas. Na passada quarta-feira, Dmitri Peskov,  porta-voz do Kremlin, afirmou que a Rússia apresentou uma proposta de acordo no âmbito das conversações de paz e acusou o que descreve como “um circo em sentido figurado e direto por parte do regime de Kiev”.

“O documento contém “formulações absolutamente claras e desenvolvidas. A bola está no seu campo (da Ucrânia), esperamos por uma reposta”, disse Peskov durante uma conferência de imprensa. Como resposta, Mykhailo Podolyak, chefe das negociações da Ucrânia, apela por uma ronda de negociações diplomáticas em Mariupol “para salvar os nossos homens, Azov, militares, civis, crianças, os vivos e os feridos”, afirma.

Crise Humanitária

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o número de ucranianos que deixaram o país desde o dia 24 de fevereiro ultrapassou recentemente a marca de 5 milhões de pessoas. No total, foram contabilizados 5.034.439 civis pelo comissariado pertencente à Organização das Nações Unidas (ONU), que simultaneamente confirmou dezenas de milhares de saídas da Ucrânia nas ultimas 24 horas.

Também pertencente à ONU, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) anunciou que 218 mil pessoas de outras nacionalidades, outrora localizadas em território ucraniano, abandonaram igualmente o país. Se somadas em conjunto com o número de cidadãos ucranianos, o número total de pessoas anteriormente situadas no país que atualmente procuram refugio nos países vizinhos ultrapassa os 5,25 milhões.

Estima-se que cerca de metade do número de refugiados sejam crianças,  com outras ainda retidas nas cidades mais afetadas pela ofensiva militar russa, em clara situação de vulnerabilidade.

“Mulheres e crianças, idosos e pessoas com deficiência foram desproporcionalmente afetados [pela guerra], pois todos representam um grupo de pessoas altamente vulnerável”, afirmou o diretor-geral da OIM, António Vitorino, em comunicado.

Dentro da Ucrânia, foram também registados cerca de 7,7 milhões deslocados internos e ainda 13 milhões de pessoas atualmente retidas em áreas afetadas pelo conflito. “Em menos de dois meses vimos cerca de um quarto da população da Ucrânia, mais de 12 milhões de pessoas no total, incluindo cinco milhões de refugiados, mas também 7,1 milhões dentro do país, forçados a fugir das suas casas, uma quantidade impressionante de pessoas”, disse a porta-voz do ACNUR em Genebra, Shabia Mantoo, à agência de notícias Associated Press.

O país que recebeu o maior número de refugiados desde o inicio da guerra foi a Polónia (cerca de 2,8 milhões pessoas). Acrescentam-se na lista de destinos outros países vizinhos que acolhem um número progressivamente maior de refugiados. É o caso da Roménia (757 mil), Moldova, Hungria (471 mil) e Rússia (549 mil).

Segundo o presidente do Comité Humanitário do parlamento ucraniano, “Meio milhão de cidadãos ucranianos foram deportados da Ucrânia para a Federação Russa sem o acordo da sua parte”, disse Mykyta Poturayev, presidente do Comité Humanitário do parlamento ucraniano, que também alertou para a existência de “‘campos de filtração’ para cidadãos ucranianos” durante  uma videoconferência na comissão de desenvolvimento do Parlamento Europeu. No entanto, a impossibilidade de  comunicação com os mesmos refugiados impede a confirmação independente destas afirmações.

Na cidade ucraniana de Mariupol, onde a situação humanitária degradante é agravada pela conflito em curso, o corredor humanitário anunciado na passada quarta-feira “não funcionou como planejado”, afirmou Iryna Vereshchuk, vice-primeira-ministra ucraniana, no Telegram.

Reação Internacional

Nesta quinta-feira, o Presidente Ucraniano Volodymyr Zelenskyy discursou no parlamento português, estabelecendo vários paralelismos entre a História da nação portuguesa e ucraniana, instando ao estado o português apoio político e militar, à medida que descrevia as dificuldades vivenciadas pela população e forças ucranianas. “Em 57 dias de guerra, mais de 1000 localidades ucranianas foram ocupadas pelos invasores, que e continuam a destruir as nossas cidades. Milhões de pessoas tiverem de fugir, é como se Portugal inteiro fosse obrigado a sair do país”, exemplifica o Presidente Ucraniano, que também mencionou a Revolução de 25 de abril, “O vosso povo que, daqui a nada, celebra o aniversário da revolução dos cravos que também vos libertou da ditadura, sabe perfeitamente o que estamos a sentir. Vocês sabem o que outros povos estão a sentir, especialmente na nossa região – onde havia liberdade”.

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa já publicou uma nota de agradecimento pela presença e intervenção de Zelensky na Assembleia da República. “Portugal esteve, desde a primeira hora, e está e estará sempre, com o heroico Povo Ucraniano e a sua luta, apoiando, nomeadamente na União Europeia, na NATO e nas Nações Unidas, e acolhendo, na tão excecional comunidade ucraniana que entre nós vive, todas e todos os que, vindos da Ucrânia, até nós queiram vir e cá ficar”, escreveu o Presidente da República, no sítio da Presidência.

Zelensky discursa no Parlamento / Créditos: Miguel A. Lopes/Lusa

O anúncio da pretendida adesão da Suécia e Finlândia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) gerou um duelo de declarações e ameaças entre os dirigentes dos respetivos países e o Kremlin. A expansão da aliança militar é encarada como uma ameaça à integridade territorial e soberania russa, que condena a expansão da aliança nas suas fronteiras desde o desmantelamento da URSS.

De acordo com Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança e ex-presidente russo, “Será necessário reforçar o agrupamento de forças terrestres, defesa antiaérea, destacar forças navais significativas nas águas do Golfo da Finlândia. E, então, já não poderemos falar de um Báltico sem armas nucleares. O equilíbrio deve ser restabelecido”, escreve no Telegram.

A ameaça da invasão militar na Ucrânia instaurou o debate entre ambos os países nórdicos, que consideram a adesão à aliança militar. A primeira-ministra finlandesa Sanna Marin anunciou que o seu país irá decidir “bem rápido, dentro de semanas” a sua entrada na NATO, num momento em que ambas as sondagens da opinião pública sueca e finlandesa apontam para uma favorável adesão por parte da população.

Os líderes europeus já responderam aos pedidos ucranianos, que pedem mais meios militares que capacitem a resistência das tropas ucranianas. “Precisamos de apoio da União Europeia. Antes de mais, precisamos de apoio militar, de armas, de qualquer equipamento militar, de assistência, de carros, camiões, de tudo o que for possível”, disse o autarca da cidade ocupada de Melitopol, Ivan Fedorov, durante uma visita ao Parlamento Europeu. “Podemos vencer esta guerra. É importante para toda a Europa, não apenas para a Ucrânia.”, avisa inclusivamente o autarca.

Já o Presidente Ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, adotou uma posição mais critica face ao ocidente. “Se tivéssemos acesso a todas as armas de que precisamos, que os nossos parceiros têm e que são comparáveis às armas usadas pela Federação Russa, já teríamos encerrado esta guerra. Teríamos restaurado a paz e libertado nosso território dos ocupantes, porque a superioridade dos militares ucranianos em tática e sabedoria é bastante óbvia”, afirmou Zelensky.

Em conjunto, a França, Alemanha, Itália, Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá e Japão vão prosseguir com o envio de armamento pesado para a Ucrânia, avança a estação televisiva Euronews. O Presidente norte-americano Joe Biden comunicou que também irá fornecer “aeronaves militares e peças de aeronaves adicionais para ajudar a Ucrânia a colocar mais aviões no ar”.

Na semana passada, a Rússia notificou os EUA através de uma carta diplomática sobre as “consequências imprevisíveis” que o envio de armamento militar, avançou o jornal The Washington Post.  “Exortamos os Estados Unidos e os seus aliados a porem termo à militarização irresponsável da Ucrânia, que trará consequências imprevisíveis para a segurança regional e internacional”, declarou o estado russo.

Ao mesmo tempo, os aliados prometem o estabelecimento de novas sanções para “aumentar o isolamento internacional de Moscovo”, afirma o governo italiano em comunicado. Os líderes do EUA, Japão, Canadá, França, Alemanha, Polónia, Roménia, Reino Unido, Itália, a Presidente da Comissão Europeia, o Presidente do Conselho Europeu e o secretário-geral da NATO reuniram-se em videochamada, definindo o fornecimento de armas para a Ucrânia e o lançamento de novas sanções contra Moscovo, medidas estas ainda não publicamente divulgadas em detalhe.

O líder chinês, Xi Jinping, voltou a demonstrar preocupação sobre os pacotes de sanções impostos pelo Ocidente ao seu próximo aliado, referindo as consequências e a instabilidade causada pelos atuais eventos à escala mundial. “A sociedade internacional transformou-se numa máquina complexa, delicada e orgânica, e o funcionamento de toda a máquina enfrentará sérias dificuldades se um componente for desmontado. Aqueles que forem removidos, bem como aquele que desmantela, serão danificados”, disse Xi Jinping, “Estamos todos no mesmo barco e qualquer tentativa de atirar alguém à água é inaceitável”.

O governo alemão tem sido alvo de críticas internas e externas pela falta de resposta aos pedidos de ajuda militar ucranianos, juntamente com a sua dependência à energia russa. Segundo a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã Annalena Baerbock, a Alemanha não detém equipamento militar de reserva que possibilite o envio de armamento para a Ucrânia, afirmando que, sob as condições atuais, prosseguirá com a oferta de treino e manutenção.

“Vamos reduzir pela metade o petróleo até o verão e estaremos em zero até o final do ano”, afirmou Baerbock, que inclusivamente admite o erro por detrás do estado atual de dependência energética ao fornecimento russo, “O que precisamos fazer mais do que nunca é acabar com nossas importações de energia da Rússia de uma vez por todas”.

Também na Alemanha, o anúncio do fim do fornecimento de gás natural russo criou receios entre alguns empregadores e sindicatos alemães, que temem a falência de fábricas e a perda de emprego. “Um embargo repentino ao gás (russo) pode conduzir à perda de produção, encerramento de empresas, mais desindustrialização e à perda de empregos na Alemanha a longo prazo”, avisaram Rainer Dulger, presidente da Confederação dos Empregadores Alemães e Reiner Hoffmann, presidente da confederação sindical DGB, em comunicado divulgado pela agência noticiosa DPA, avança a agência de notícias Lusa.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro

Revisão por Beatriz Oliveira

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