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Sociedade

Netflix em risco de perder a liderança no streaming

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Numa carta dirigida aos acionistas, acerca das contas da empresa relativas aos primeiros quatro meses de 2022, a Netflix trouxe más notícias. De acordo com o The New York Times, foram 200 mil os clientes que cancelaram a subscrição, e a empresa estima que, no segundo quadrimestre, perderá dois milhões de assinantes. As revelações fizeram com que, no dia seguinte (20 de abril), as ações da Netflix caíssem em 35%.

No documento, pode ler-se quatro fatores principais que a empresa considera as causas da perda: o abrandamento na aquisição e no uso de televisões que permitem aceder à sua aplicação (Smart TV’s) e da banda larga; a partilha das palavras-passe, que permite, por exemplo, a quatro pessoas utilizarem a mesma conta; o crescimento de outros serviços de streaming, bem como a modernização da televisão tradicional; questões de mercado, como a inflação, as consequências económicas da guerra na Ucrânia e as marcas deixadas pela pandemia da covid-19.  O conflito atual na Europa levou a Netflix a fechar o seu serviço na Rússia, o que resultou no cancelamento de centenas de contas.

A verdade é que, num vídeo sobre os ganhos do primeiro quadrimestre do corrente ano, Reed Hastings, co-chefe executivo da Netflix, lembra que a pandemia impulsionou fortemente o serviço de streaming, o que a levou a Netflix a conseguir um grande crescimento em 2020. Como tal, já era expectável um abrandamento ou até diminuição nos anos seguintes, situação que, ainda assim, tem de ser combatida. Deste modo, uma maneira de lutar contra o problema pode ser, como refere na entrevista, um caminho do qual a Netflix sempre se manteve longe: “Uma forma de aumentar a margem de preços é a publicidade […] e ter preços mais baixos graças à publicidade. Aqueles que acompanham a Netflix sabem que eu tenho sido contra a complexidade da presença de anúncios, e um grande fã da simplicidade da subscrição. Contudo, sou um fã ainda maior da escolha do consumidor. Por isso, dar àqueles que gostariam de usufruir de um preço mais baixo e que não se sentem incomodados com a publicidade, aquilo que querem, faz todo o sentido.”

 

Reed Hastings. Foto: Jacopo Raule/Getty Images

 

No que diz respeito à partilha de contas, a empresa diz que o maior problema é existir o que chamam de “alguma confusão sobre quando e de que forma a Netflix pode ser partilhada.” Para colmatar os prejuízos gerados pela existência de 100 milhões de usuários não autorizados, a gigante americana está a testar no Chile, na Costa Rica e no Perú, uma modalidade na qual é possível partilhar a conta com alguém que não pertence ao agregado familiar, com alguns custos  associados.

“Quanto ao conteúdo, estamos a duplicar a excelência na criação de histórias, que vemos refletida nos grandes êxitos do primeiro quadrimestre de 2022, como ‘Bridgerton’, ‘Inventing Anna’ […] No que toca aos produtos, lançamos recentemente o ‘like duplo’, para que os membros consigam expressar melhor o que realmente adoram”.

É assim que a Netflix pretende reacelerar o crescimento e aumentar as receitas. A empresa acredita que, a longo prazo, o seu principal mercado será fora dos Estados Unidos, um dos reflexos do seu investimento em filmes e séries em mais de 50 países e que gerou sucessos como “La Casa de Papel”, “Squid Game” e “All Of Us Are Dead”. Por isso mesmo, na carta aos acionistas, a Netflix admite a intenção de reforçar a liderança nesta área.

Jon Christian, fundador da OnPrem, uma empresa de consultadoria informática especializada em media e entretenimento, comentou com o The New York Times alguns dos pontos fracos da Netflix: “Olhemos para a Disney. Não é só o streaming…Tem espetáculos, tem parques temáticos, produtos de consumo. Tem diversidade, o que lhe dá flexibilidade também. {…] A Netflix terá de apostar em fontes de receita como estas para diversificá-las.” Segundo o mesmo jornal norte-americano, os especialistas acreditam que existe falta de conteúdo que seja socialmente considerado de visionamento obrigatório e que, como tal, chame os utilizadores para a plataforma. “Severance” da Apple TV, “The Dropout” da Hulu e “The Gilded Age” são exemplos de êxitos que estão a conduzir os utlizadores a preferir estas empresas, em vez de optarem pela sua primeira assinatura no mundo do streaming, a Netflix. Um dos analistas que falou com o NYT, constatou que “Um sucesso como Bridgerton não é suficiente para manter os clientes viciados.”

Com  mais de 21 milhões de assinantes, a Netflix, apesar da diminuição do número de subscritores, que se espera que continue a descer, aumentou em 10% os lucros, nos primeiros quatro meses deste ano, em comparação com o perído homólogo do ano anterior. De momento, ainda é a empresa da área com a maior base de subscritores.

 

Escrito por Ana Francisca Maio.

Revisão por Beatriz Oliveira.