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Sociedade

Guerra na Ucrânia: Atualizações do conflito – 10ª semana

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A ofensiva militar russa na Ucrânia revelou nesta última semana o contínuo recurso a bombardeamentos e ataques de artilharia em massa sobre várias cidades e alvos ucranianos. As forças ucranianas tentam resistir aos avanços russos, lançando inclusivamente uma série de pequenas contraofensivas na tentativa de fragilizar e desacelerar os planos russos sobre o leste e sul da Ucrânia.

Através da reposição de tropas e meios militares anteriormente localizados em Kiev e no norte da Ucrânia, as forças russas executaram ao longo da ultima semana uma série de ofensivas nas diversas frentes ativas no país, avança o Instituto para o Estudo da Guerra (Institute for the Study of War – ISW) na sua avaliação diária da guerra na Ucrânia.

De modo a fragilizar e reduzir a capacidade logística ucraniana, as forças russas executaram na passada segunda-feira uma série de ataques de mísseis contra cinco estações de comboios ucranianas, numa altura em que o fornecimento de ajuda material e militar internacional torna-se cada vez mais significante para o esforço de guerra ucraniano, por sua vez condenado pelo Kremlin.

A batalha pelo controlo da cidade de Izium, situada no leste da Ucrânia, revelou-se como um dos principais focos de combate nos últimos dias. Segundo o ISW, os constantes avanços russos sobre pequenas localidades situadas a sudoeste e oeste da cidade surge como uma provável tentativa de flanquear as posições defensivas ucranianas em Barvinkove e Slovyansk.

“Os principais esforços das tropas russas estão concentrados em Izium. O inimigo está a tentar lançar uma ofensiva nas direções de Sulyhivka – Nova Dmytrivka e Andriivka – Velyka Komyshuvakha”, refere um relatório do Estado-Maior General das Forças Armadas da Ucrânia.

Na cidade de Mariupol, o reposicionamento das forças russas anteriormente presentes na conquista da cidade portuária ucraniana reforçam as ofensivas prioritárias em Donetsk e Lugansk, contudo, as tropas russas continuam a cercar as restantes forças ucranianas abrigadas na planta metalúrgica de Azovstal, que continua a ser bombardeada.

A linha da frente de Donetsk e Lugansk continua a ser alvo de bombardeamentos russos e ataques de artilharia em larga escala, o que tem possibilitado a movimentação das tropas russas sobre as regiões em questão. O Estado-Maior General das Forças Armadas da Ucrânia comunicou que, como resposta ao intenso ataque russo, as forças ucranianas têm executado manobras defensivas através das suas forças mecanizadas, em detrimento de uma defesa estrita.

No nordeste de Kharkiv, as forças russas executaram contra-ataques limitados, recapturando pequenas áreas urbanas a norte da cidade. Nas restantes cidades de Zaporizhia, Mykolaiv, e Dnipropetrovsk, os ataques de artilharia russos continuaram a atingir posições e infraestruturas ucranianas.

Após as explosões registadas em Tiraspol, capital da região separatista moldava pró-russa, surgiram novas preocupações sobre a expansão da Guerra Russo-Ucraniano para novos territórios adjacentes.

A Ucrânia já acusou Moscovo de pretender a destabilização da região e uma consequente invasão militar. “A Rússia pretende desestabilizar a região da Transnístria, o que sugere que a Moldova deverá aguardar a vista de ‘convidados’”, escreveu no Twitter Mikhailo Podoliako, conselheiro da presidência ucraniana. Ao mesmo tempo, os serviços de informação ucranianos afirmam a preparação de ataques de misseis russos como pretexto de acusação a Kiev por parte da Rússia.

A Rússia, que mantém na autoproclamada república cerca de 1500 soldados para “fins de segurança”, declarou-se “alarmada” com os acontecimentos na região que classificou como “atos de terrorismo”, declarou Dmitry Peskov, porta-voz de Vladimir Putin.

Crise Humanitária

Desde o início da invasão russa no dia 24 de fevereiro foram registados cerca de 5,4 milhões de refugiados, anunciou o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), que contabilizou no total a fuga de 5.429.739 ucranianos que deixaram o seu país.

Estima-se também que mais de 7,7 milhões de pessoas encontram-se deslocadas no interior do território ucraniano, num período em que cerca de dois terços das crianças ucranianas tiveram que abandonar as suas residências, indica a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Segundo a guarda fronteiriça da Polónia, 924 mil pessoas regressaram ao território ucraniano, atravessando a fronteira polaca para a Ucrânia. A grande maioria é composta por homens ucranianos situados no país que decidem ingressar nas forças ucranianas ou residentes que tencionam voltar às suas casas.

A Polónia é o país que desde o início do conflito acolhe o maior número de refugiados ucranianos, estimando-se já ter recebido cerca de 2,9 milhões de pessoas. Segue-se à Polónia outros países vizinhos, como é o caso da Roménia (810 mil pessoas), Rússia (656 mil), Hungria (513 mil), Moldova (441 mil) e a Eslováquia (367 mil).

Perante a tragédia humanitária, a ONU apelou o reforço do financiamento para fins humanitários na região. “Passados dois meses, as necessidades continuam a crescer, e estando a ajuda humanitária a aumentar significativamente em escala e alcance, é necessária a revisão e a extensão do apelo à ajuda na Ucrânia até agosto de 2022”, conclui o relatório “Flash Appeal”, o plano de resposta humanitária do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

A fragilidade entre os refugiados representa também uma crescente preocupação pela sua integridade e segurança. A organização não governamental (ONG) Human Rights Watch alertou para o risco de violência de género, tráfico humano e outras formas de exploração enfrentadas pelos refugiados ucranianos na Polónia, com especial ênfase nas mulheres e crianças, uma vez que incorporam os grupos mais vulneráveis.

“O acolhimento na Polónia daqueles que fogem da guerra na Ucrânia é uma mudança positiva em relação à resposta a outras crises, mas a falta de medidas básicas de proteção corre o risco de expor os refugiados a sérios abusos”, refere Hillary Margolis, investigadora de direitos das mulheres da Human Rights Watch.

A última atualização do número de mortes inseridas no contexto da invasão russa da Ucrânia contabiliza a morte de 2899 pessoas, entre as quais 210 são crianças, juntamente com o ferimento de 3235 pessoas, que inclui o número de 309 crianças, avança o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Estima-se que ambos os números sejam mais elevados, dado a natureza persistente do conflito e às dificuldades associadas à verificação.

Reação Internacional

Na passada terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reuniu-se no Kremlin com Vladimir Putin, perante o qual apelou pela abertura de corredores humanitários e a possibilidade de um cessar-fogo na região.

“Segundo a Federação Russa, o que está a acontecer é uma operação militar especial com os objetivos já anunciados. Segundo a ONU, em linha com as resoluções aprovadas pela Assembleia Geral, a invasão russa da Ucrânia é uma violação da sua integridade territorial contra a Carta das Nações Unidas”, afirmou o secretário-geral, que também revelou preocupação pelos cenários de crise humanitária existentes na Ucrânia, “Precisamos urgentemente de corredores humanitários que sejam verdadeiramente seguros e eficientes, e que sejam respeitados por todos para retirar civis e entregar assistência muito necessária”.

Por sua vez, o Presidente russo admitiu a situação “trágica” em Mariupol, culpabilizando as autoridades ucranianas pelo sucedido. “Falou dos corredores humanitários russos, de que não estão a funcionar. Não, [os ucranianos] mentiram-lhe. Eles funcionam com o nosso sistema”, referiu Vladimir Putin, que também sugeriu a Guterres o reconhecimento a independência das províncias de Lugansk e Donetsk.

O secretário-geral das Nações Unidas também se encontrou com o Presidente ucraniano, Volodimir Zelenskii, instando ao homólogo ucraniano a abertura de um corredor humanitário em Mariupol que garanta a retirada dos civis encurralados no complexo industrial de Azovstal. “O que está fundamentalmente errado é a guerra”, declarou António Guterres. “Pela primeira vez, trabalha-se a sério com os dois lados para salvar pessoas”, concluiu.

Após diversas tentativas violadas ao longo dos últimos dias, as forças russas e ucranianas concordaram neste sábado um cessar-fogo em Mariupol, possibilitando assim a evacuação dos civis situados no complexo industrial de Azovstal. A informação foi revelada por Sviatoslav Palamar, um comandante do batalhão Azov, citado pela CNN. A saída dos civis resgatados ocorre através da abertura de um corredor humanitário organizado pelos militares, com o apoio da Cruz Vermelha e das Nações Unidas.

A comunidade internacional tem vindo a responder aos pedidos ucranianos de armamento e equipamento militar, numa fase da guerra que julgam ser decisiva para o futuro da integridade territorial ucraniana.

A ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, que anunciou na passada terça-feira a primeira entrega de armamento pesado alemão, comunicou recentemente a aprovação do fornecimento de blindados de defesa antiaérea Gepard às forças ucranianas. Na passada quinta-feira foi a vez do próprio Parlamento alemão aprovar uma moção de envio de armamento pesado à Ucrânia.

A Rússia tem condenado o crescente fornecimento internacional de armas à Ucrânia. “Se os Estados Unidos e a NATO estiverem realmente interessados em resolver a crise ucraniana, então, acima de tudo, devem acordar e parar de entregar armas e munições ao regime de Kiev”, declarou Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros russo, à agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

Os Estados Unidos da América pretendem fortalecer progressivamente o apoio financeiro e militar à Ucrânia, numa altura em que, apesar de não envolvida diretamente na guerra, o objetivo principal de Washington é o enfraquecimento do poder político e económico russo. “Queremos que a Ucrânia continue a ser um país soberano, um país democrático capaz de proteger o seu território soberano. Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de deixar de conseguir fazer coisas como a invasão da Ucrânia”, declarou o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin. 

As sanções implementadas pela União Europeia contra a economia e entidades russas têm seguido o mesmo objetivo. Nesta quarta-feira, a presidente do Parlamento Europeu (PE), Roberta Metsola defendeu o “embargo total” europeu sobre o petróleo, gás e carvão russo, considerando que o apoio por parte dos estados-membros europeus a Kiev “ainda não é suficiente”.

“Fomos a primeira instituição a começar a falar sobre um levantamento dos bancos russos [a sancionar] e depois, é claro, chegando ao ponto de dizer que precisamos de avançar com um embargo total ao petróleo, gás e carvão”, afirmou a presidente do PE, em entrevista à agência de notícias Lusa.

Estas declarações aconteceram na mesma semana em que a empresa russa Gazprom interrompeu o fornecimento de gás natural à Polónia e à Bulgária, após recusarem o pagamento em rublos, medida imposta previamente por Moscovo. Esta interrupção aumentou substancialmente o preço do gás natural nos mercados internacionais, que representa o segundo combustível mais utilizado na UE.

Face a estes acontecimentos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a UE “está preparada” para o eventual corte do fornecimento de gás russo. “Estamos a traçar a nossa resposta coordenada da UE. Continuaremos também a trabalhar com parceiros internacionais para assegurar fluxos alternativos e continuarei a trabalhar com os líderes europeus e mundiais para garantir a segurança do aprovisionamento energético na Europa”, afirmou von der Leyen.

Também em território europeu, um dos maiores debates políticos e militares assenta-se sobre a entrada da Finlândia e da Suécia na NATO, numa altura em que os dois países nórdicos demonstram depender mutuamente da decisão final de ambos. Enquanto que na Finlândia o governo pretende anunciar a sua decisão em Maio, o governo sueco encontra-se ainda a debater a possibilidade de adesão, tencionando publicar um relatório sobre a nova política de segurança do país no dia 13 de Maio.

Ambos os governos afirmam o aumento da cooperação e dos contactos bilaterais no debate e na eventual tomada de decisão. “Não há outros países que tenham uma cooperação tão forte entre si fora da NATO como a Finlândia e a Suécia”, disse Ann Linde, ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia. 

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também se pronunciou ao referir que a Suécia e a Finlândia serão “recebidas de braços abertos” na aliança militar, lamentando a “intimidação e ameaças” praticadas pelo governo russo.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro.

Revisão por Beatriz Oliveira.