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Guerra na Ucrânia: Atualizações do conflito – 13º semana

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A ofensiva militar russa no território ucraniano completou na semana passada três meses de duração, numa altura em que o Kremlin concentra o seu esforço militar nos territórios localizados no Oblast de Lugansk e Donetsk.

Em Severdonetsk, as tropas russas tentam cercar e capturar aquela que é a última cidade densamente povoada no Oblast de Lugansk ainda sob controlo ucraniano, avança o Instituto para o Estudo da Guerra (Institute for the Study of War – ISW) na sua avaliação diária da guerra na Ucrânia, com os últimos relatos apontando para confrontos diretos entre as forças ucranianas e russas e pesados ataques de artilharia.

© 2022 Institute for the Study of War and AEI´s Crticial Threats Project

A concentração militar russa disponibilizada para os combates em curso na cidade representa uma grande desvantagem para as forças ucranianas que, apesar do fornecimento de armamento pelas potências ocidentais, vêm-se incapazes de reduzir as baixas e danos provocados sobre as infraestruturas e posições ucranianas face aos contínuos bombardeamentos e ataques russos.

No Oblast de Donetsk, a dinâmica de combate russa na região é marcada por avanços reduzidos e em menor escala. Segundo o ISW, as forças russas não conseguiram consolidar novos territórios na cidade de Izium, executando uma série de ofensivas falhadas na tentativa de alcançar Slovyansk e Siversk, pequenas localidades na área abrangente de Donetsk.

O representante oficial do Ministério da Defesa russo anunciou ontem a “liberação” da cidade de Lyman pelas tropas russas, localizada a cerca de 50 quilómetros de Izium. Contudo, o controlo total da cidade ainda não foi confirmado por uma fonte independentemente.

A norte, na cidade de Kharkiv, as forças russas continuam a recorrer aos ataques de artilharia sobre as posições ucranianas, porém, mantendo as suas posições próximas da fronteira entre ambos os países, não se registando nenhum avanço substancial recente.

A rendição dos soldados ucranianos situados na cidade de Mariupol fortaleceu o controlo russo sobre a linha de costa do mar de azov, ampliando o território dominado no sul do país. Em Kherson, os relatos de contraofensivas ucranianas partilhados pelo Estado-Maior da Ucrânia carecem de informações que sustentem a libertação de territórios ocupados por forças russas, à medida que é relatada a construção de uma terceira linha de defesa que visa a fixação russa na cidade e nos seus principais postos logísticos e de controlo, segundo a Direção de Inteligência Militar da Ucrânia.

Crise Humanitária

Segundo o portal da agência de refugiados da ONU (ACNUR), foram já contabilizados mais de 6,7 milhões de refugiados ucranianos desde o inicio do conflito, no dia 24 de fevereiro. Estima-se que 14 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas, somando-se assim o número crescente de descolados internos, que ronda os 8 milhões de pessoas.

A Polónia representa o país que acolheu mais refugiados ucranianos, prestando abrigo a cerca de 3,5 milhões de pessoas. Segue-se a Roménia e a Rússia, com ambas recebendo aproximadamente 1 milhão de pessoas, a Hungria, que contabiliza cerca de 670 mil e a Moldávia e a Eslováquia, com cerca de 477 mil e 454 mil refugiados registados respetivamente.

A Organização das Nações Unidas anunciou também que, entre o número de refugiados anunciado, cerca de 2,9 milhões “mudaram-se para além dos países vizinhos da Ucrânia”, afirmou a porta-voz do ACNUR Shabia Mantoo.

Simultaneamente, cerca de 2,1 milhões de ucranianos regressaram ao seu país “para visitar familiares, verificar as suas propriedades ou voltar ao trabalho ”, explica a porta-voz do ACNUR, numa conferência de imprensa em Genebra, na Suíça.

A grande maioria do número de refugiados ucranianos é composto por mulheres e crianças (cerca de 90%), o que levanta uma série de preocupações pelo sua condição vulnerável e necessidades acrescidas.

O ACNUR já lançou um apelo pelo financiamento de 700 milhões de euros para o apoio das necessidades dos refugiados ucranianos, reunindo cerca de 87 organizações pertencentes à Polónia, do Plano Regional Interagências de Resposta a Refugiados, avança a agência de notícias Lusa.

De acordo com Olga Sarrado, porta-voz da organização, a assistência pretendida abrange “casos médicos graves, idosos, mães solteiras sem apoio familiar, mulheres em risco e pessoas com deficiência”. “Metade das crianças com necessidades específicas estão separadas ou desacompanhadas”, acrescentou a porta-voz.

No total, a ONU registou a morte de 4.031 civis, juntamente com 4.735 feridos durante os três meses de conflito, alertando para um número real muito mais superior face às dificuldades associadas a este tipo de registo na circunstância atual do conflito.

Entre o número de vítimas mortais, Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabiliza a morte de 261 crianças, juntamente com o ferimento de outras 406. A UNICEF estima que cerca de 3 milhões de crianças necessitadas ainda permanecem no território ucraniano.

Fora da Ucrânia, o bloqueio naval russo aos portos de Mariupol e Odessa tem contribuído para um distúrbio substancial na distribuição de cerais por todo o mundo. Estima-se que cerca de 30 milhões de toneladas de cereais estão atualmente armazenados nos silos ucranianos, agravando a insegurança alimentar, as crises económicas e os conflitos em Africa e no Médio Oriente, alerta a ONU.

Reação Internacional

Como retaliação à formalização finlandesa de um pedido de adesão à NATO, a empresa russa Gazprom anunciou a suspensão do fornecimento de gás natural aos consumidores finlandeses, após a recusa do pagamento em rublos. A empresa russa era responsável pelo fornecimento de 92% do gás consumido no país, sendo agora substituído pelo gasoduto Baltic Connector, um gasoduto bidirecional de gás natural entre Ingå, Finlândia, e Paldiski, Estônia.

Também no âmbito do debate energético, o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou a possibilidade de um embargo ao petróleo russo “dentro de alguns dias”. Apesar da medida não ser consensual entre os estados-membros da União Europeia (UE), com alguns recusando o sexto pacote de sanções à economia russa, o ministro alemão afirmou que “as discussões continuam” e que “um embargo está próximo”.

Em Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, anunciou que a Rússia irá ter em consideração o restabelecimento de laços diplomáticos com o Ocidente, mas que o seu país tenciona aprimorar a sua relação com o governo de Pequim.

“Se eles [o Ocidente] quiserem propor algo em termos de retomar relações, iremos ponderar seriamente se precisaremos disso ou não”, afirmou o ministro russo. “Devemos deixar de depender de forma alguma do fornecimento de absolutamente tudo [o que vem] do Ocidente para garantir o desenvolvimento de sectores criticamente importantes para a segurança, a economia ou a esfera social da nossa pátria”, acrescentou Lavrov.

No decorrer do Fórum Económico Mundial, o ex-secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, alertou aos líderes ocidentais para as consequências da guerra na Ucrânia sobre a estabilidade na Europa e a sua relação com a Rússia, instando ao governo ucraniano a retoma das negociações para o fim do conflito.

“As negociações têm de começar nos próximos dois meses, antes que surjam convulsões e tensões que não serão facilmente ultrapassadas”, afirma Kissinger, “Idealmente, o limite deveria ser um regresso ao anterior statu quo. Avançar com os combates para além desse ponto não seria pela liberdade da Ucrânia, mas para uma nova guerra contra a Rússia.”

O Presidente Ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu às sugestões do ex-secretário norte-americano através do seu discurso noturno diário. “Os grandes geopolíticos que sugerem isto estão a desconsiderar os interesses dos ucranianos comuns, dos milhões que realmente vivem no território que estão a propor trocar por uma ilusão de paz”, afirma Zelensky, acrescentando que os interesses ucranianos não devem ser ultrapassados por os “interesses daqueles que estão com pressa para encontrar um ditador novamente”.

Face aos crescentes pedidos ucranianos pelo fornecimento de armamento pesado, a administração de Joe Biden concedeu a preparação do envio de sistemas de lança-rockets múltiplos (MLRS) como parte do pacote de assistência militar e de segurança à Ucrânia anunciado.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, afirmou no passado sábado que a Ucrânia começou a receber os mísseis antinavio Harpoon fornecidos pela Dinamarca, juntamente com os obuses autopropulsados norte-americanos. “A defesa costeira de nosso país não será reforçada apenas pelos mísseis Harpoon – eles serão usados ​​por equipas ucranianas treinadas”, afirmou o ministro, que tenciona a libertação dos portos ucranianos do bloqueio naval russo.

No atual contexto diplomático conturbado entre os estados europeus e a Rússia, o Presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz dialogaram com o Presidente russo sobre um possível cessar-fogo no território ucraniano, instando simultaneamente pela retoma das negociações diplomáticas.

Através de uma chamada telefónica, os líderes ocidentais concordaram que “Qualquer solução para a guerra deve ser negociada entre Moscovo e Kiev, respeitando a soberania e integridade territorial da Ucrânia”, lê-se no comunicado emitido pelo Eliseu.

Por sua vez, Vladimir Putin afirmou que “está disponível para retomar o diálogo”, destacando inclusivamente que “a via negocial está bloqueada por causa de Kiev”, após estes não terem formalizado as negociações em Istambul, realizadas no mês de março, lê-se no comunicado do Kremlin.

 

Escrito por Vicente Oliveira Ribeiro

Revisão por Beatriz Oliveira

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