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Guerra na Ucrânia: Atualizações do conflito – 6º mês

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Foram vários os acontecimentos que alteraram o teatro das operações militares na Ucrânia nas últimas semanas do conflito, entre os quais destacamos os eventos mais relevantes no panorama político e militar:

08 de agosto: A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) anunciou um apoio orçamental direto de 4,5 mil milhões de dólares à Ucrânia. No mesmo dia, também o Pentágono anunciou uma “assistência de segurança adicional” de 1 milhar de milhão de dólares.

11 de agosto: Os bombardeamentos registados nas instalações da central nuclear de Zaporijjia resultaram em acusações mútuas por parte das autoridades ucranianas e russas sobre a responsabilidade do ataque. O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se para discutir o fim da presença militar na região e o envio de uma visita de inspeção por parte da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).  

12 de agosto: Foram registados vários confrontos na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, com ataques terrestres russos espalhados por diversas localidades na região. Por sua vez, as forças ucranianas destruíram a última ponte funcional na central hidroelétrica de Kakhovka, até então utilizada pelos russos para fins logísticos.      

16 de agosto: Várias explosões foram registadas na Península da Crimeia, contabilizando-se danos sobre um depósito de munição russo, um aeródromo e uma estação elétrica. 

18 de agosto: O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recebeu o Secretário-Geral da ONU e o seu homólogo Turco na cidade de Lviv. A reunião entre os líderes internacionais abordou a situação da central nuclear de Zaporijjia, as violações da Lei Internacional e a crise alimentar global. Na mesma data, as forças russas atacaram a cidade de Kharkiv

19 de agosto: O Presidente francês Emmanuel Macron e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, realizaram uma chamada telefónica durante a qual o líder francês expôs a sua preocupação sobre o risco de um acidente nuclear na central de Zaporijjia. Segundo o gabinete da presidência francesa, Putin concordou com a realização da missão de inspeção à central nuclear ocupada pelas suas tropas, sobre os termos discutidos entre ambos.    

21 de agosto: Ataques de artilharia russos atingiram a cidade de Odessa e Nikopol.

23 de agosto: A publicação de uma avaliação liderada pela “Kyiv School of Economics”, em parceria com agências governamentais ucranianas, apontou para o valor do dano estrutural causado pela guerra, rondando os 13,5 mil milhões de dólares (até à data da publicação). 

25 de agosto: Os dois reatores operacionais da central nuclear de Zaporijjia foram temporariamente desativados da rede elétrica do país e os seus sistemas de proteção foram ativados, avançou a AIEA.

29 de agosto: As forças ucranianas lançaram uma contraofensiva no sul do país, nomeadamente na região de Kherson, de modo a retomar o território ocupado pelas tropas russas. 

01 de setembro: Os inspetores da AIEA visitaram a central nuclear de Zaporijjia. As tropas russas e os seus aliados chineses, indianos e bielorrussos iniciaram o exercício militar conjunto “Vostok 2022”. 

03 de setembro: A central nuclear de Zaporijjia perdeu a conexão com a sua última e principal linha de energia externa, porém contando ainda com a sua linha de reserva, informou a AIEA.     

06 de setembro: No seguimento da sua inspeção à central nuclear, a AIEA publicou um relatório, listando  as suas principais preocupações relativamente à manutenção e funcionamento dos reatores nucleares e os danos contabilizados nas instalações. 

09 de setembro: São registados avanços consideráveis pelas forças ucranianas no decorrer da sua contraofensiva na região de Kharkiv. Segundo as autoridades ucranianas, a cidade de Izium havia sido retomada após o recuo das tropas russas na região. 

11 de setembro: O último reator ativo da central nuclear de Zaporijjia foi desativado. O anúncio foi feito pelo operador da central ,“Energoatom”, que invalidou as condições de funcionamento da central após os sucessivos ataques e desconexões à rede elétrica do país.

Avanços no terreno

A recente contraofensiva ucraniana no sul e nordeste do país inaugurou uma nova etapa da guerra na Ucrânia. Nas últimas semanas de combate, o avanço ucraniano sobre as regiões de Kharkiv, a nordeste, e Kherson, no sul, desencadearam uma retirada russa em larga escala sobre territórios até então ocupados pelas tropas do Kremlin desde março.

A prévia redistribuição das forças russas situadas em Kharkiv para regiões no sul do país, como resposta à contraofensiva ucraniana em Kherson, foi responsável pelo enfraquecimento da capacidade russa em defender e assegurar a sua posse sobre o território alcançado no nordeste do país, agora perdido para os ucranianos, aponta o o Instituto para o Estudo da Guerra (Institute for the Study of War – ISW).

© 2022 Institute for the Study of War and AEI´s Crticial Threats Project

Segundo o mesmo instituto, as tropas ucranianas continuam a pressionar as posições e linhas logísticas russas a leste de Kharkiv e oeste de Lugansk, de modo a afastar progressivamente as forças russas das frentes de batalha atuais, somando até agora o domínio sobre Sviatohirsk, a sul de Izium, e Bilohorivka, na região de Lugansk.

Em contrapartida, as autoridades russas desvalorizam o avanço ucraniano, afirmando que a retirada das suas forças em Balakliya, Izium e Kupiansksur surge como uma necessidade de “reagrupar” e fortalecer suas posições em Donetsk.

Contudo, o material militar russo abandonado nas regiões retomadas, incluindo munições, equipamentos e veículos de combate, denunciam um potencial recuo desorganizado pelas tropas russas.

“Algumas unidades recuaram de forma ordenada, enquanto outras fugiram em aparente pânico. Equipamentos de alto valor abandonados pelas forças russas em retirada são a prova desta desordem. Incluíam armamento essencial para permitir o estilo de guerra centrado na artilharia da Rússia. Tal abandono destaca a retirada desorganizada de algumas unidades russas e provavelmente falhas localizadas no comando e no controlo”, expõe o Ministério da Defesa britânico na sua publicação no Twitter. 

Em Kherson, o “silêncio operacional” das forças ucranianas indicado pelo ISW impossibilita uma compreensão dos avanços realizados pelas forças ucranianas na sua plenitude, apesar das garantias dos mesmos movimentos não se revelarem tão eficazes e extensivos como se assiste na região de Kharkiv.

Também no sul do país, o ataque russo sobre as estruturas hidráulicas da barragem de Kryvyi Rih causou “extensas inundações” que, segundo o instituto norte-americano, surgem como uma tentativa de danificar e impossibilitar a travessia de pontes utilizadas pelas forças ucranianas, ameaçando a sua capacidade logística.

Crise Humanitária

Segundo o mais recente relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (ENUCAH), cerca de 17,7 milhões de pessoas carenciadas encontram-se atualmente no território ucraniano, sem acesso adequado à alimentação, cuidados de saúde, educação, proteção e outros serviços essenciais.

Fruto dos combates e bombardeamentos disputados em áreas residenciais, o relatório aponta que a consequente destruição de infraestrutura civil reflete-se nas centenas de milhares de ucranianos sem habitação ou meios de subsistência, numa altura em que se registam cerca de 7 milhões de deslocados internos no país e 7,3 milhões de refugiados espalhados pelo continente europeu.

Fonte: Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários

De acordo com o último relatório da Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), desde o início do conflito, foram contabilizados 5,827 mortos  e 8,421 feridos entre a população, com a grande maioria das baixas civis sendo registadas nos Oblasts de Donetsk e Lugansk.

Inseridas igualmente no número de vítimas, as crianças ucranianas representam um dos grupos mais afetados pela guerra, devido às severas consequências no seu desenvolvimento e integridade que os combates implicam.

Numa declaração em Nova Iorque, a Diretora Executiva da UNICEF, Catherine Russell, alertou para o facto que “quase todas as crianças na Ucrânia foram expostas a eventos profundamente angustiantes, e aquelas que fogem da violência correm um risco significativo de separação familiar, violência, abuso, exploração sexual e tráfico”.

A Diretora também apontou para a aproximação do novo ano letivo ucraniano ucraniano e as necessidades educacionais destas crianças. Consta-se que cerca de 5,7 milhões de crianças em idade escolar foram afetadas desde o início da guerra, incluindo 3,6 milhões devido ao encerramento das respetivas instituições educacionais. 

Reação Internacional

Após a missão de inspeção realizada na central nuclear de Zaporijjia, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) publicou um relatório no qual lista as principais preocupações e fragilidades do funcionamento e ocupação russa da central nuclear.

A organização, que se demonstra “seriamente preocupada” com a respetiva situação, indica que a equipa em Zaporijjia registou uma variedade de danos em diversas instalações da central, causados ​​por “eventos relatados”, não atribuindo responsabilidade sobre os mesmos a ambos os lados.

No entanto, a AIEA afirma que “há uma necessidade urgente de medidas provisórias para evitar um acidente nuclear decorrente de danos físicos causados por meios militares”, instando pela implementação de uma “zona de proteção e de segurança” nas proximidades da central nuclear.

Com o objetivo de discutir a situação na Ucrânia, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, contactou Vladimir Putin, levantando em chamada a possibilidade de uma futura investigação sobre os prisioneiros de guerra ucranianos, a sua preocupação sobre a central nuclear ocupada de Zaporijjia e uma extensão do acordo para a exportação de cereais dos portos ucranianos.

“Ainda estamos longe de um acordo de paz”, declarou o secretário-geral à imprensa em Nova Iorque, após a sua chamada com o presidente russo, acrescentando que as probabilidades de um cessar-fogo entre o lado russo e ucraniano “são mínimas”.

Apesar do recente sucesso da contraofensiva ucraniana e dos indícios de pressões políticas internas, Vladimir Putin afirmou recentemente que o plano da “operação militar especial” russa não está sujeito a reajustamentos, destacando que o foco principal concentra-se na “libertação de todo o território de Donbass”.

“Nós não apressamos as coisas. Em geral, não houveram mudanças significativas. O Estado-Maior considera algumas coisas importantes e outras de importância secundária. Mas a tarefa principal continua a ser a mesma e está a ser implementada”, afirmou Putin à agência de notícias russa TASS na sua visita ao Uzbequistão.

Por sua vez, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu uma resposta à ameaça russa contra a Ucrânia e “a economia, os valores e o futuro [da UE]”.

No seu discurso sobre o estado da União Europeia no Parlamento Europeu, a presidente reiterou que “Esta é uma guerra da autocracia contra a democracia – mas, com coragem e solidariedade, Putin falhará e a Ucrânia e a Europa prevalecerão”, acrescentando que a União Europeia (UE) “esteve à altura da ocasião” desde o início da guerra em fevereiro.

Face à recente descoberta pelas autoridades ucranianas de 450 sepulturas e uma vala comum nos arredores de Izium, território recapturado às tropas russas, a República Checa, que ocupa a presidência rotativa da União Europeia, pediu a criação de um tribunal internacional para crimes de guerra.

O Presidente Ucraniano, Volodymyr Zelensky, comentou a descoberta divulgada na passada quinta-feira pelo chefe de gabinete do Presidente ucraniano e um dos seus assessores. “Queremos que o mundo saiba o que está realmente a acontecer e o que é que a ocupação russa provocou. Bucha, Mariupol e agora, infelizmente, Izium. A Rússia deixa morte por todo o lado”, anotou o presidente.

Como resposta às indicações de crimes de guerra, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos anunciou que pretende o envio de uma equipa ao local brevemente, com o objetivo de “determinar as circunstâncias da morte dessas pessoas”.

 

Escrito por: Vicente Oliveira Ribeiro
Revisão por: Carina Seabra

 

 

 

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