Política
Itália volta à extrema-direita: Partido de Meloni ganha as eleições legislativas
Trata-se de um resultado histórico. O partido de extrema-direita Irmãos de Itália (FdI) ganhou as eleições legislativas italianas com 26,19% dos votos. O segundo partido mais votado – o Partido Democrata (PD) – contou com 19% dos votos. Por sua vez, os partidos Liga e Força Itália obtiveram 8,8% e 8,1% dos votos, respetivamente.
A coligação de direita – composta pelo Fdl, a Liga, o Força Itália e uma formação mais pequena de direita – obteve 43,8% dos votos, uma clara vantagem face aos 26% alcançados pela coligação centro-esquerda – composta pelo PD e partidos da esquerda italiana.
A vitória do Fdl significa que a coligação de direita, liderada por Giorgia Meloni, vai ocupar 237 dos 400 lugares na Câmara dos Deputados e 115 dos 200 lugares no Senado. O partido tomará posse em outubro, com Meloni destinada a tornar-se na futura primeira-ministra de Itália, a primeira mulher italiana a ocupar este cargo na história do país.
A taxa de participação nas eleições deste ano desceu em comparação com os 73% registados em 2018, para valores que rondam os 64%, contabilizando-se assim um aumento de nove pontos percentuais na taxa de abstenção do país, o valor mais alto registado na democracia italiana.
Frente à alta taxa de abstenção, Giorgia Meloni assegurou em discurso que um dos seus objetivos será “fazer com que as pessoas voltem a acreditar nas instituições”. A futura primeira-ministra também salientou que “é preciso reconstruir a relação entre Estado e cidadão”.
Após a confirmação da vitória do Fdl, o ex-primeiro-ministro e líder do PD, Enrico Letta, anunciou a renúncia à liderança do seu partido. “Os números mostram que a única maneira de vencer a Direita implicava promover a unidade de esquerda” disse o político, “não foi possível e foi por nossa responsabilidade”. Letta prometeu ainda uma oposição “dura e intransigente” ao governo de direita.
Reação Europeia
As reações dos líderes políticos europeus a esta viragem histórica na política italiana foram variadas, sobretudo tendo em conta as suas consequências no cenário político europeu.
A Primeira Ministra francesa, Élisabeth Borne, optou por citar as palavras da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen: “Na Europa temos um conjunto de valores e, evidentemente, estaremos atentos a que esses valores, sobre os Direitos Humanos, sobre o respeito pelos outros, nomeadamente o direito ao aborto, sejam respeitados por todos”, disse em entrevista.
No outro lado do continente, o porta-voz do Presidente russo, Dimitri Peskov, afirmou que a Rússia está pronta para “dar as boas-vindas a qualquer força política que possa ser mais construtiva nas relações com a Rússia”. Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, também congratulou a vitória de Meloni, via Twitter, esperando que se mantenha a colaboração do governo italiano com o país na defesa contra a invasão russa.
Giorgia Meloni
Giorgia Meloni iniciou-se na política em associações de estudantes de extrema-direita. Aos 19 anos, elogiou o ditador Mussolini: “Para mim foi um bom político. Tudo o que fez, fez pela Itália”. Foi eleita como deputada em 2006 e dois anos depois foi nomeada ministra da Juventude do governo de Silvio Berlusconi. Em 2012, Meloni ajudou a fundar o partido Fdl, juntamente com outros dissidentes do partido Povo da Liberdade (PdL), de Silvio Berlusconi. Anteriormente, declarou-se contra a imigração ilegal e os direitos LGBTQIA+.
Em Itália, a preocupação sobre o futuro da interrupção voluntaria da gravidez foi manifestada na passada quarta-feira, com vários protestos em defesa ao aborto a terem lugar nas ruas de cidades como Roma e Verona. Segundo o movimento feminista “Non una di Meno”, Meloni quer “garantir o direito de ‘não fazer aborto’, anular os direitos das pessoas transexuais e a educação da diferença.”
O partido Irmãos de Itália tem a suas origens no Movimento Social Italiano (MSI), fundado em 1946 por seguidores do ditador fascista Benito Mussolini. O símbolo original do MSI, a chama tricolor, ainda está presente no logotipo do partido de Meloni.
O Fdl adota ideologias de extrema-direita, mas rejeita o rótulo de “fascismo”. Como resultado, é normalmente referido como sendo um partido “pós-fascista” ou “neofascista”. O partido promove ideais anti-imigração, anti-casamento gay, pró-natalistas e a favor da unidade familiar tradicional.
Artigo escrito por: Natália Vásquez
Editado por: Vicente Ribeiro e Vasco Castro