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A Oliveira, um símbolo do povo palestiniano

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Outubro marca o início do outono e da temporada de colheita da azeitona – zaytūnah, em árabe clássico – na Palestina. A tradição é um momento de conexão familiar e sociocultural entre as famílias palestinianas, que se ocupam com o cuidado das oliveiras preservadas há séculos, de geração em geração.

A oliveira – Olea europaea – é um dos principais símbolos nacionais da Palestina, que possui algumas das oliveiras mais antigas do mundo, entre as quais árvores com quatro mil anos de idade.  Célebre por florescer em ambientes adversos, prevalece nas terras secas, sob as ventanias do território palestiniano.

O azeite e as azeitonas são elementos de vários pratos tradicionais palestinianos– desde aperitivos, pratos principais, saladas e molhos – demonstrando-se como um elemento fundamental de festas e encontros que fomentam a vida social e cultural das pessoas. 

De acordo com dados das Nações Unidas, cerca de 45% dos territórios agrícolas na Cisjordânia e Gaza são utilizados para o plantio das oliveiras. A colheita da azeitona corresponde a 70% da produção de fruta na Palestina. Ao contribuir com cerca de 14% para a economia local, a atividade constitui a principal fonte de rendimentos de aproximadamente 80.000 famílias. De toda a colheita, 93% é destinada para a produção de azeite, enquanto a restante é utilizada na confeção de sabão de azeitona e petiscos de mesa, como é o caso dos pickles.

Por conta da crescente procura por alimentos orgânicos, as azeitonas palestinianas tornaram-se cobiçadas pelo mercado europeu e norte-americano. Em 2022, espera-se que a colheita alcance as 45 toneladas, um valor quatro vezes superior em comparação ao registado no ano anterior.

A oliveira e o seu valor simbólico

Para os palestinianos, a importância da oliveira ultrapassa os seus benefícios económicos, ao estabelecer um valor simbólico de resiliência e de apego à terra dos seus antepassados. 

O Instituto de Pesquisa Aplicada de Jerusalém estima que, nas últimas décadas, mais de 800.000 oliveiras tenham sido arrancadas dos terrenos da Palestina, ocupada pelas autoridades e colonos israelitas desde 1967. Somente em 2020, mais de 9.300 árvores foram destruídas na Cisjordânia, aponta o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

“Se as oliveiras conhecessem as mãos que as plantaram, o seu azeite se transformaria em lágrimas.” – Mahmoud Darwish, poeta e escritor palestiniano, autor da Declaração de Independência Palestina.

Os olivais mais afetados situam-se nas proximidades dos assentamentos israelitas ao redor da Faixa de Gaza. Embora as famílias estejam presentes na região há gerações, milhares de agricultores palestinianos não têm acesso aos seus olivais, quer seja devido a alegadas “razões de segurança” ou pelo não cumprimento dos critérios que comprovem uma “conexão com a terra”, definidos por Israel.

Nas designadas “áreas de conflito”, o acesso dos agricultores palestinianos durante a colheita das azeitonas é limitado a intervalos estabelecidos pelo exército israelita. Embora a medida seja justificada como uma tentativa de evitar ataques de colonos, ela acaba por penalizar os agricultores palestinianos e revela-se ineficaz na prevenção da destruição de oliveiras por parte dos colonos israelitas, quando os soldados não estão presentes.

Durante a temporada de colheita de azeitonas de 2020, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (ENUCAH) documentou 26 palestinianos feridos e mais de 1.700 árvores vandalizadas.

Os agricultores palestinianos permanecem vulneráveis aos ataques e perda de colheitas para os colonos. A sabotagem dos sistemas hídricos da região, tática utilizada por Israel através do controle total sobre tais infraestruturas desde 1967, vem agravar o estado de vulnerabilidade já existente. Estima-se que 85% dos recursos hídricos da Palestina são ativamente desviados para os colonos israelitas.

A restrição do acesso à água obriga os palestinianos a obterem uma licença do exército israelita, algo que não acontece com os colonos, isentos desse mesmo processo de licenciamento. Este constrangimento prejudica a atividade agrícola na Palestina. Ademais, os já escassos recursos hídricos encontram-se ameaçados pela poluição das águas. Em Gaza, por exemplo, mais de 96% da reserva do aquífero não é potável.

A falta de procedimentos de responsabilização sobre os ataques é um fator-chave que incentiva a violência dos colonos a longo prazo. A maioria das queixas apresentadas à polícia israelita são encerradas sem acusação, inclusive no contexto da colheita da azeitona. Das 97 queixas sobre ataques de colonos contra as árvores, seguidas pela ONG israelita Yesh Din, nenhuma levou ao indiciamento de um suspeito.

Diante da improvável desocupação israelita e sob luz do direito internacional, as organizações humanitárias como ENUCAH e Amnistia Internacional reiteram que Israel deve cumprir suas obrigações de proteger as propriedades palestinianas, prevenindo e responsabilizando todos os atos de violência, sejam estes cometidos pelas próprias forças israelita ou por colonos.

As oliveiras, no entanto, permanecem como um elemento de inspiração diária para o povo palestiniano.

 

Artigo escrito por Beatriz Mendes

Revisão por: Vicente Ribeiro

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