Sociedade

Louisville: um “manifesto” da arte na prevenção do crime 

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Capa do álbum Louisville

Pelas 22h, a sala do Cinema Passos Manuel escureceu e o ecrã foi iluminado por uma experiência imersiva, que transportou os espectadores e ouvintes para a violência das ruas de Kentucky, nos Estados Unidos da América. No último dia do Festival Porto/Post/Doc, o lançamento de “Louisville” contou com casa cheia para assistir a uma sessão sobre a luta contra o crime nos EUA. 

O vinil apresentado é composto por nove temas de músicos portugueses, articulados com textos de Pedro Sousa Pereira e fotografias de Mário Cruz. O disco da editora Tradisom é o resultado da cobertura das eleições presidenciais norte-americanas, em 2020, para a agência Lusa, que deram o triunfo a Joe Biden. A origem do nome do projeto está não só na cidade que mais marcou a experiência dos jornalistas, como também no local que integra uma equipa de boxe, referenciada várias vezes nos relatos captados pela dupla. Além disso, foi na cidade de Louisville onde morreu Breonna Taylor, uma mulher afro-americana, alvejada por forças policiais no seu apartamento. Desde então que a jovem constitui um símbolo do movimento Black Lives Matter, reconhecido a nível internacional. 

As reportagens realizadas nas várias cidades do país permitiram compilar histórias e excertos sonoros, que expressam o contexto social e político de diversos estados americanos. Assim, a edição representa “um manifesto” da arte no combate à violência e ao racismo, através da relação entre a música e a atividade jornalística. 

Mário Cruz explica o recurso à multiplicação da fotografia como uma fusão das histórias de crime, captadas nos diferentes estados americanos, numa só imagem. A narrativa fotográfica visa documentar o país numa altura de período eleitoral, fratura social, combate pandémico e luta racial. Para o fotojornalista, que confessa ao público estar em permanente conflito com o jornalismo, “Louisville” culmina naquilo em que mais acredita, ou seja, na “fotografia como uma prova”. É por essa razão que explica como “o tempo e a memória fazem o jornalismo superar-se.” 

Fotografia do álbum Louisville (Facebook: Porto/Post/Doc)

As receitas de venda do álbum Louisville revertem na íntegra para o projeto Jail Guitar Doors, em Los Angeles, criado por Wayne Kramer. Para Pedro Sousa Pereira, “a prisão é a privação da liberdade e não da dignidade humana”. Assim, o objetivo é fornecer guitarras a prisioneiros americanos e fazer da música um incentivo para a integração social. O jornalista encerra a sessão com uma mensagem clara:

“Ao comprarem Louisville podem estar a impedir que uma pessoa do outro lado do mundo mate outra ao seu lado, pelo papel que a música pode representar no bem-estar psicológico e na inclusão social.”

O Porto/Post/Doc decorreu entre os dias 16 e 26 de novembro, em vários espaços da cidade Invicta. O programa contou com a exibição de mais de cem filmes de temas contemporâneos, com estreias e antestreias, nacionais e internacionais. O tema desta edição foi a neurodiversidade, depois de uma interrupção de 2 anos, causada pela pandemia. 

Escrito por Maria José Coelho

Revisão por Vicente Ribeiro

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