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Peru: as causas e as consequências da crise política

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O ex-presidente, Pedro Castillo. Fonte: Twitter oficial da presidência do Peru

A 7 de dezembro de 2022, Pedro Castillo, presidente socialista do Peru, fez um comunicado na televisão, onde anunciou a dissolução do Congresso. O objetivo seria a criação de um “Governo de exceção”, num contexto de emergência, que governaria por meio de decretos-lei. Mais tarde, seriam convocadas novas eleições, que iriam originar uma assembleia com poderes para alterar a Constituição.

Algumas horas depois, o Congresso vota o terceiro impeachment de Castillo, no espaço de um ano e meio. Posteriormente, o presidente é preso e condenado a 18 meses de prisão preventiva, a que se podem juntar mais dez anos. As acusações são de golpe de estado e rebelião, ainda que o plano do peruano tenha falhado, por falta de apoio do próprio partido e das Forças Armadas. O presidente tinha já sido alvo de investigações, por suspeitas de corrupção, tráfico de influências e plágio na sua tese de doutoramento.

A Castillo sucedeu Dina Boluarte, a vice-presidente que se opôs às medidas anunciadas pelo antecessor, tornando-se, assim, a primeira mulher presidente no Peru. Porém, a transição não se fez de forma pacífica, tendo desencadeado manifestações agressivas por todo o país.

Fogo ateado a carros, dezenas de mortos a tiro, encerramento de aeroportos e estado de emergência é o cenário com que se deparam os portugueses que vivem no país e que tentam, agora, sair. O estado de emergência proíbe temporariamente as manifestações e confina províncias peruanas a um recolher obrigatório. Ainda assim, a violência continua.

Quase metade dos 66 portugueses que se encontravam no país sul-americano conseguiram já ser evacuados, com ajudas externas, como aviões humanitários. À agência Lusa, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, afirma que o país está a fazer um esforço, mas os retidos poderão não conseguir sair do Peru a tempo da passagem de ano.

Muitos peruanos querem o ex-presidente de volta, por se tratar de uma figura que apoia uma esquerda defensora dos direitos dos indígenas, dos trabalhadores e dos descontentes com o sistema político.

Membros da Confederação Geral dos Trabalhadores e outras organizações afirmam ainda que Castillo foi alvo de uma conspiração por parte da oligarquia. Há também uma forte oposição ao governo atual, formado por Dina Boluarte, e a exigência de eleições antecipadas.

Os protestos continuam e a instabilidade política agrava-se no Peru. O país tem agora um futuro incerto sem Castillo, que, segundo escreveu numa carta, é alvo de um “plano maquiavélico” do governo.

Escrito por Carolina Bastos. Revisão por Maria José Coelho.

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