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Política

Habitação vs. Imigração – As manifestações nacionais do momento

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Manifestação pela Habitação, Porto. Fotografia: Luísa Fernandes

No último fim de semana de setembro, em várias partes do país, centenas de portugueses saíram à rua para expressarem a sua opinião quanto a dois dos tópicos mais debatidos dos últimos tempos: o direito à habitação e a questão do aumento dos imigrantes, levando a várias divergências entre a população.

 

Com o aproximar da aprovação (ou não) do Orçamento do Estado para o próximo ano, e sentindo-se um notório aumento da tensão por parte da população nacional, no final do último setembro, centenas de portugueses saíram às ruas para se manifestarem em relação a dois dos últimos temas mais recorrentes do país: o direito à habitação e o aumento dos imigrantes.

Por um lado, o movimento “Porta a Porta”, a plataforma “Casa Para Viver”, o “Referendo pela Habitação”, o “Projecto Ruído”, “Vida Justa” e “1º Esquerdo” – movimentos centrais na luta pela habitação – procuraram organizar um protesto que se estendeu a cerca de 22 cidades portuguesas (mais três do que a manifestação anterior pelo direito à habitação ocorrida a 27 de janeiro deste ano), com o intuito de destacar as dificuldades vividas no setor da habitação nos últimos tempos, inclusive no que concerne à falta de alojamento estudantil a preços justos. Por outro, André Ventura, apoiado pelos restantes membros do partido CHEGA e simpatizantes da extrema-direita, entre os quais o atual líder do movimento “1143” (Mário Machado), fala em “dia histórico” por [segundo o próprio] se terem aglomerado mais de 3 mil participantes contra o aumento descontrolado da imigração (ainda que não existam até ao momento nenhuns números oficiais relativamente à adesão ao protesto). 

Na manifestação feita nas ruas pela habitação, era frequente ouvir-se a frase: “Casa é para morar, não para especular”, com base no aumento das rendas dos últimos anos e na falta de casas para morar. Por todo o país, marcaram presença na manifestação pessoas de todos os espetros políticos, desde atuais representantes da esquerda portuguesa – Mariana Mortágua (coordenadora do BE), Paulo Raimundo (secretário-geral do PCP) e Isabel Mendes Lopes (líder parlamentar do Livre) –, à direita portuguesa, nomeadamente, Filipa Roseta (vereadora da Habitação na Câmara Municipal de Lisboa do PSD). No entanto, Filipa Roseta acabou por abandonar a manifestação, por “não se sentir bem-vinda”, após um dos representantes do movimento “Porta a Porta” a ter acusado de “puro oportunismo político”, desacreditando-se nas políticas adotadas pelos últimos governos no que toca à Habitação. Não obstante as claras divergências partidárias, todos se juntaram com uma só causa: a obtenção de uma habitação justa para todos.

Paralelamente, da Alameda ao Martim Moniz (Lisboa), as preocupações estavam centralizadas no “aumento da imigração descontrolada em Portugal” e nas “possíveis consequências deste fenómeno para o país” [conforme entendem os manifestantes], no mesmo dia em que foi notícia que as contribuições dos imigrantes para a Segurança Social aumentaram em cerca de 44%, tornando-se nas mais altas de sempre. Efetivamente, o número de estrangeiros a viver em Portugal aumentou em 33,6% em 2023, totalizando mais de um milhão de imigrantes em território português. 

No meio de bandeiras portuguesas, cânticos do hino nacional e dizeres nacionalistas, liam-se cartazes que apelavam à expulsão de “imigrantes que cometem crimes” e a exigência do fim da chegada de imigrantes ilegais. De qualquer modo, apesar de a existência de imigrantes ilegais em território português ser um facto, as estatísticas mostram que  a imigração até à atualidade ainda não fez disparar as taxas de criminalidade em Portugal, como muitos partidários da extrema-direita aparentam temer.

Em simultâneo, no Largo do Intendente, a plataforma “Não Passarão” encabeçou um contraprotesto a favor da imigração, cujos cartazes contrastavam com as intenções do protesto organizado pelo partido da extrema-direita. “Não há Portugal sem imigrantes”, lia-se, apelando à multiculturalidade portuguesa vivida ao longo de vários séculos de História.

As tensões acabaram por culminar na detenção de duas pessoas do protesto movido pela plataforma “Não Passarão”, de acordo com as autoridades, “por resistência e coação a funcionário”, e na identificação de outras quatro pessoas que participaram na manifestação promovida por André Ventura, comprovando-se a sensibilidade da temática da imigração e da própria habitação e a extrema importância das decisões políticas a serem tomadas num futuro próximo.

 

Artigo por: Bruna Moreira

Editado por: Ana Pinto, Maria Inês Faria e Vasco Castro

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