Sociedade
8 DE MARÇO: UM DIA DEDICADO ÀS MULHERES
Do século XIX para o século XX, nos países onde a Revolução Industrial se fazia sentir, o trabalho nas fábricas era realizado por homens, mulheres e crianças em horários de 12 a 14 horas em seis dias seguidos. Os salários eram precários, vários funcionários passavam fome e as manifestações pela melhoria de condições de trabalho tendiam a ser cada vez mais frequentes.
No início do século XX já se começavam a notar as vozes revoltadas de várias mulheres nova-iorquinas: 15 mil mulheres marcharam em 1908 pelas ruas da cidade, exigindo menos horas de trabalho, melhores salários e o tão cobiçado direito de voto que sempre lhes fora negado. Nesse dia foi celebrado o primeiro Dia Nacional da Mulher na América.
Contudo, foi em 1910 que Clara Zetkin, ativista dos direitos das mulheres, apresentou no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas – que teve lugar em Copenhaga – a ideia de implementar um Dia Internacional das Mulheres. No ano seguinte, este dia foi celebrado pela primeira vez a 11 de março na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suiça. Poucas semanas depois ocorreu uma tragédia que é frequentemente associada às origens deste dia: a 25 de março morreram 146 pessoas (125 das quais eram mulheres) na fábrica TriangleShirtwaistCompany. As causas desta desgraça estão relacionadas com a falta de segurança nas instalações do edifício. Além disso as portas da fábrica estavam fechadas por forma a impedir que os operários não dispersassem na hora de almoço. Tal acontecimento não passou despercebido à organização de conotação socialista, aInternationalLadies’ GarmentWorkers’ Union (ILGWU) que já tinha vindo a coordenar uma série de greves no país dedicadas aos direitos das mulheres enquanto operárias.
Entretanto várias mulheres em todo o mundo continuaram a manifestar-se, particularmente em vésperas da Primeira Grande Guerra. Pouco depois de o dia ter sido celebrado na Rússia no último domingo de fevereiro de 1913, esta data acabou por ser implementada a dia 8 de março, acabando assim por se sagrar em todo o mundo.
Desde o seu aparecimento oficial este dia tem-se tornado numa forma de promover a consciencialização da condição da mulher na sociedade atual, tendo em conta o seu papel numa sociedade que se foi transmutando. Ao longo das décadas, este dia tem vindo a ganhar notoriedade, devido ao facto de ser uma forma de celebrar as conquistas dos movimentos feministas numa luta pela igualdade.
Antigamente, homem e mulher desempenhavam papéis bastante distintos. À figura feminina era associada uma ideia de alguém frágil, o que a colocava numa situação de total dependência de figuras masculinas, nomeadamente, dos marido, pai ou irmão. Na sociedade antiga, marcada pelo machismo, a mulher tinha, portanto, uma tutela masculina constante, antes e depois do seu casamento.
A mulher dos dias de hoje deixou de ser vista como uma simples dona de casa ou como um meio para procriar. Cada vez mais se estão a criar condições para que as cidadãs comecem a assumir cargos relevantes, de comando e liderança, que antes eram apenas desempenhados por homens. São cada vez mais as mulheres com maior grau de escolaridade, que optam por ter menos filhos, que se casam com idades relativamente avançadas, possuem melhores condições de vida e podem até mesmo assumir o comando de uma família. Levam, assim, ao contrário do que se passava há uns anos atrás, uma vida independente.
Porém, ainda existem algumas desigualdades relevantes entre sexos que demostram que ainda não se atingiu a tão desejada igualdade social. Recentemente, a RTP referiu que Portugal é o país da União Europeia no qual as desigualdades salariais entre homens e mulheres se têm agravado: em média as mulheres têm que trabalhar 57 dias a mais do que os homens de forma a conseguirem igualar-se aos homens a nível salarial. A situação de disparidades também se nota na Irlanda e na Espanha, sendo que esta questão se tem agravado na União Europeia, em geral.
O facto de ainda existir um “ideal feminino” é também um problema, uma vez que provoca pressões a muitas mulheres. Isto nota-se na comunicação social e, sobretudo, no cinema e na publicidade, em que normalmente as mulheres mais sedutoras são procuradas com o propósito de atrair um público masculino. Existe, neste sentido, uma maior pressão para com a imagem pública de uma mulher do que com a de um homem.
Além disso, a nível mundial continuam a existir diferenças difíceis de esbater: de acordo com a avaliação de outubro de 2013, do Fórum Económico Mundial, a evolução, no que toca à igualdade económica e à participação política de homens e mulheres de forma igual, tem sido muito lenta. São ainda poucas as mulheres que ocupam cargos de liderança, tendo-se observado uma predominância feminina nas áreas ligadas ao ensino superior e ao mercado de trabalho em geral.
“É imprescindível que os países comecem a desenvolver uma visão diferente do capital humano – inclusive na maneira como impulsionam as mulheres para os cargos de liderança. Esta revolução mental e prática não é uma meta para o futuro, é um imperativo para hoje”, são as palavras de KlausSchwab, fundador e presidente executivo do Fórum Económico Mundial no mesmo relatório.