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“TODAS AS VOZES”: A DIVERSIDADE TAMBÉM FALA

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Vozes de crianças, mulheres, idosos. Vozes de imigrantes, requerentes de asilo, refugiados, ciganos, incapacitados, «gays», lésbicas, bissexuais e transexuais. Vozes de quem vive na pobreza, na pobreza extrema, na indigência.” São as vozes que Ana Cristina Pereira e Mike Jempson querem ouvir, vontade que expressaram por escrito, neste livro. O resultado foi “Todas as Vozes”, obra publicada pela SOS Racismo, que na sexta-feira (19) foi apresentado na Embaixada Lomográfica do Porto.

Entre amigos da autora e da SOS Racismo, a sala de café estava repleta. Ana Cristina Pereira cumprimentava os presentes, sorridente, percorrendo quase aos saltinhos a pequena sala. Ana é jornalista do Público, para o qual trabalha há 15 anos, reporter, viajante e escritora. Mike é jornalista, co-fundador e diretor da instituição de solidariedade social MediaWise e professor na Universidade do Oeste de Inglaterra, em Bristol. “Todas as Vozes” é o livro que ambos escreveram, de propósito para uma tertúlia do Movimento SOS Rascismo.

 

“Porque continuamos a dizer isso todos os dias?”

José Queirós, antigo jornalista do jornal Público, afirma que o livro reclama a “atenção à diversidade”, na sua opinião, tão dispensa nos meios de comunicação. A prática de um “jornalismo inclusivo” está, para si, “longe de ser cumprida, dado o crescimento na Europa de partidos associados à “xenofobia e ideias nacionalistas, populistas e esteriotipadas”. Procura meios de comunicação que respeitem a ética e a deontologia da profissão, que se aproximem do trabalho de Ana Cristina Pereira, para José Queirós “a mais notável jornalista portuguesa no campo dos direitos humanos e do jornalismo inclusivo”.

A palavra passa para Joaquim Fidalgo, também ele antigo jornalista e ex-provedor do leitor do Público. “O livro é perturbador”, começa logo por dizer. “É tão óbvio que faltam vozes nos meios de comunicação, é tão óbvio que falta diversidade. É tão perturbador por ser tão óbvio e ninguém atuar”. Joaquim Fidalgo vê um jornalismo que não “acrescenta nada, que é branco ou negro, o Benfica ou do Porto, cigano ou árabe, gay ou hetero”. E coloca a questão: “Porque é que continuamos a dizer isso todos os dias? O que é que isso acrescenta às notícias?”.

“A prática do jornalismo é por si só um campo minado”. Diz ser preciso teimosia, voz e inconformismo para contornar este sistema. “É preciso mais. Mas já temos uma!”, referindo-se a Ana Cristina, a jovem que fez entrar e viu crescer no Público. “É possível fazer alguma coisa do que este livro diz ser preciso fazer”.

 

Vamos mudar as vozes…

15 anos depois de ter “saltado o muro” para conhecer o Natal dos toxicodepentes, o primeiro trabalho que a transportou para a realidade que queria retratar, Ana Cristina Pereira mantem as mesmas convicções daquela estagiária “nervosa” que José e Joaquim conheceram. A jornalista quer trazer novas vozes para os jornais, todas as vozes: “o mundo não tem só a voz do homem branco com mais de 35 anos”. “Mundo é feito de diversidade”, mas “falta mudar o chip e trazer essa diversidade para dentro dos jornais”, afirma a madeirense.

“Os leitores não se reconhecem, não se ouvem nas notícias”, é neste sentido que o livro que escreveu com Mike Jempson procura “desafiar todos nós a colocarmo-nos no lugar dos excluídos, no lugar de quem tem qualquer coisa para dizer e não tem espaço”.

Ana não quer que nenhuma voz seja excluída ou perca a oportunidade de ser ouvida. Os funcionários que são despedidos, e não só os executivos das fábricas que despedem; os profissionais que fazem greve, e não só os sindicatos que lhes sobrepõem a voz; os moradores que são despejados, e não só os construtoras responsáveis. Ana quer ouvir quem tem a voz abafada, quem quer falar e não é ouvido. Mas a jornalista não se deixa levar na conversa “dos coitadinhos”. “Não existe paternalismo no trabalho do Ana”, afirma José Queirós, apenas o sentido de justiça e um papel de “jornalista-cidadão”.

Ana Cristina Pereira deixa o desafio de debate sobre o “discurso de intolerância que é cada vez mais forte”. Deixa a todos a reflexão sobre “o que cada um de nós faz”.

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