Sociedade
A HISTÓRIA DE QUATRO JOVENS QUE LUTAM PELA CIDADANIA ATIVA NA UP
Ivo Reis: “Uma atividade com vista não no reconhecimento, mas na criação de exemplos”
Ivo Reis, 25 anos, licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, atual estudante do Mestrado em História, Relações Internacionais e cooperação da Faculdade de Letras. A sua passagem pela faculdade tem sido uma caminhada pela Pedagogia.
O facto de estar envolvido em vários projetos relacionados com a área do ensino fez dele um cidadão ativo, daqueles que “começam a faltar-nos devido à conjuntura atual”, como refere. Ter um papel ativo na sociedade é, nas palavras de Ivo, difícil, porque “vivemos numa cultura individualista, que faz de nós individualistas e, por isso, faz com que não nos preocupemos com a comunidade.”
O jovem refere que caiu “no associativismo de pára-quedas”, mas a que participação na Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências o mudou. Foi presidente da AE e isso permitiu-lhe “abrir horizontes”, confessa. Criou campanhas de incentivo ao preenchimento dos Inquéritos Pedagógico da Universidade, um horário de atendimento para apoio aos estudantes, foi vice-presidente da Sociedade de Debates da UP, membro dos Conselhos de Representantes e Pedagógico da FCUP e do Conselho Coordenador para o Modelo Educativo da U.Porto e representante dos universitários do Porto no Senado da Universidade.
Ivo Reis representou, também, o Porto, e mesmo Portugal, na XII Edição do Programa Jovens Líderes Iberoamericanos (PJLI), em 2014. Ao contactar com outros estudantes, apercebeu-se que “não somos tão diferentes quanto isso” das outras universidades iberoamericanas. A diferença ao nível do ensino é o espelho da cultura de cada país. A experiência mudou-lhe os planos: “foi graças ao programa que comecei a ponderar fazer um mestrado”. Mas mais do que isso, o jovem afirma que agora se sente “mais iberoamericano do que antes.”
Quanto ao Prémio Cidadania Ativa, não é “só fruto do meu trabalho”, reconhece o estudante. “Há toda uma equipa que está por trás, que se calhar também merecia uma parte do prémio da Reitoria”, acrescenta. Ivo Reis espera que o prémio “estimule as pessoas para a atividade, não uma atividade com vista no reconhecimento, mas pela criação de exemplos e referências.”
O admirador de José Saramago, baseia-se numa tese do escritor para lutar pela Pedagogia. Conclui que a apatia pode estar associada à ideia “de estarmos tão cegos pela luz. A cegueira branca é a luz.”
Sofia: “Trabalhar em desporto universitário completa-me”
Natural da cidade do Porto, Sofia Rios, 25 anos, está neste momento a fazer um estágio em gestão desportiva no CDUP – Centro de Desporto da Universidade do Porto – onde ajuda a promover atividades desportivas para a comunidade académica.
Formou-se, inicialmente, em Ciências do Ambiente, mas sentia que lhe faltava algo. “Não é que eu não fosse feliz a trabalhar na área de ambiente”, afirma, mas o mestrado em Gestão Desportiva da FADEUP mudou-a. “ Acordar todos os dias de manhã e dizer que vou trabalhar em desporto torna-me muito mais alegre e vivaz. Acho que é esse brilho nos olhos com que as pessoas me vêm agora, algo que dantes não viam”, afirma e acrescenta: “Trabalhar em desporto universitário completa-me, porque foi através do desporto universitário que entrei para a área de gestão, uma vez que há quatro anos que participo nas equipas da universidade através do futebol 7, da qual sou capitã de equipa, e de rugby 7”.
Rugby e Futebol são as atividades nas quais Sofia está envolvida na Universidade do Porto, fazendo parte da equipa de futebol há 4 anos e da de rugby desde o ano passado. A equipa de futebol 7 feminino ficou em 4º lugar no ano passado nos EuropeanUniversities Games (EUGames2014 – https://www.facebook.com/eugames2014) e a de rugby 7 feminino conseguiu arrecadar a medalha de bronze nessa mesma competição. Sofia joga, ainda, futebol no FC Boavista há 3 anos.
Quando questionada qual dos desportos – rugby ou futebol – mais a atrai, a jovem não hesita: “Futebol, sem dúvida! É a minha base! De rugby, não desgosto, apesar de a minha família não gostar. Acho que é um desporto, às vezes, muito mais colectivo que o futebol e que envolve um grande esforço. É um desporto no qual estou ainda a dar os primeiros passos.”
Inserida há 4 anos na equipa de futebol 7 da Universidade do Porto, Sofia é, actualmente, capitã da equipa. A jovem refere que é um cargo que exige “muita paciência”. “Ser capitã é uma questão de performance e de orientar a equipa, mas acho que o principal trabalho é durante os campeonatos europeus. Passamos muito mais tempo juntas e a capitã tem que dar o exemplo. Mas gosto disso e acho que a equipa me respeita, também devido ao tempo que já lá estou, o que acaba por criar um tipo de família, um grupo de amigos”, explica
Além do estágio no CDUP Sofia também promove actividades desportivas para os mais novos nos Escuteiros, bem como em Campos de Férias para famílias carenciadas.
O Desporto é a principal atividade, mas a vencedora do Prémio Cidadania Ativa, na vertente desportiva, também já se viu envolvida em atividades de voluntariado, no Centro de Apoio dos Sem-Abrigo do Porto, e em ações em África. O ideal seria, segundo a jovem, combinar as componentes “social” e “desportiva”. Afinal, “A pessoa que sou hoje devo muito ao voluntariado e às pessoas que conheci, algo que considero fantástico. Talvez me veja a fazer um projecto na área desportiva para pessoas socialmente desfavorecidas ou que visasse a promoção dessas actividades de alguma forma. A componente desportiva é importante na minha vida, mas a componente social também tem em mim um peso muito forte. Acho que se conseguisse ligar os dois iria fazer o melhor de dois mundos”, conclui.
Ana: “Uma cidadania sem barreiras: com ações, com iniciativas, com consciencialização”
Ana Catarina Correia é estudante do Mestrado em Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). O seu percurso académico tem-se marcado pela constante luta solidária: “Desde que entrei para a faculdade, sempre tive uma preocupação muito grande, porque percebi que havia uma lacuna enorme, em disseminar aqueles que são considerados na vida contemporânea os valores e os princípios do paradigma da vida independente”, afirma. E foi por isso que se tornou uma cidadã ativa.
A estudante, com paralisia cerebral, fez da sua própria experiência o ímpeto para a defesa pelos direitos das pessoas portadoras de deficiência. “Foi o inconformismo que me fez envolver nestas questões”, refere. Começou a envolver-se em projetos humanitários, como o movimento de (d)Eficientes Indignados do Núcleo do Norte (http://www.deficientesindignados.org/), do qual foi coordenadora. “Não era algo para mim enquanto pessoa individual, mas para um conjunto de pessoas que não têm respostas”, confessa.
O objetivo de Ana Catarina tem sido, na verdade, uma “cidadania sem barreiras”, para que as problemáticas sejam vistas “numa outra perspetiva: muito mais inclusiva, cidadã e participativa”, explica. Segundo a jovem, “Nós em Portugal temos uma política que segrega, que discrimina e que exclui” e o seu “ativismo é nessa lógica”, na lógica de conseguir “ter o mesmo patamar dentro da minha diferença”.
“Uma cidadania sem barreiras é algo que podemos alimentar e ir cultivando diariamente com ações, com iniciativas, com consciencialização” e, nesse sentido, a grande luta da vencedora do prémio Cidadania Ativa é pela “preservação da dignidade humana, seja para uma pessoa com deficiência, seja para uma pessoa sem deficiência”, como explica. Ana pretende, também, “demonstrar que não é a deficiência que te define enquanto pessoa nem pode ser isso um entrave para as tuas oportunidades e os teus objetivos”, porque afinal “Porquê que a sociedade me exclui por algo que não fui eu que escolhi?”, questiona-se a jovem.
Sobre o facto de a Universidade do Porto ser ou não uma instituição inclusiva, a estudante de Sociologia reconhece que “A Universidade tem todo o mérito”. Porém, embora “A UP já tenha percorrido um grande caminho”, “o grande caminho é o do Estado, porque o Estado diz-se protetor, diz-se democrático, diz-se um estado com determinadas políticas e legislações que são fantásticas, mas depois, na prática, nada se concretiza”, remata.
Hélder Gonçalves: “No empreendedorismo há a questão da necessidade, a partir daí todo o ciclo se desenvolve”
Hélder, 24 anos, natural de Santo Tirso, licenciado em Ciência da Informação, está actualmente a frequentar o Mestrado em Gestão de Serviços (na FEP). Define-se como uma pessoa que gosta de arte e empreendedorismo, bem como de experimentar coisas novas e viajar. No último ano da licenciatura começou a aperceber-se que tinha queda para o empreendedorismo, quando participou no StartupProgramme que implicava a geração de uma ideia que fosse sustentável.
O estudante criou, inicialmente, o “Dress For You”, uma plataforma de “dressup” que permitia que uma pessoa inserisse a sua imagem e experimentasse várias roupas e acessórios em 3D, acompanhadas por uma vertente de rede social: cada utilizador teria o seu “armário virtual” em que guardava as peças que tinha obtido, bem como as peças que gostariam de comprar. Este conceito seria reformulado num novo projeto, de nome “LookIt”-
Depois desta ideia inicial surgiram outros projetos, um dos quais na área da educação. A plataforma Estuda+, originalmente iniciada no 3 DayStartup Porto, foi apresentada depois de Hélder e a sua equipa terem ouvido falar acerca das médias negativas dos exames nacionais em 2013, algo que consideraram “preocupante”. “Nós percebemos, em conversas com algumas pessoas que nos são próximas, que as crianças estão muito desmotivadas. Além do sedentarismo, muitos pais dizem ‘Para quê estudar? Vais ficar desempregado!’ e isso é um problema que, infelizmente, acaba por causar reacções muito negativas”, refere.
A ideia passava por juntar as disciplinas mais complicadas para as crianças e conjugar isso com os seus gostos pessoais. As crianças aprenderiam, assim, “a brincar”. Com este projeto, Hélder foi um dos três finalistas do iUP25k na vertente Social Business Edition. Apesar destas iniciativas não continuarem ativas, Hélder revelou ao JUP que tem uma nova ideia de projeto em mente. Porém, “Não queria estar a revelar agora detalhes, por agora, visto que ainda estou a fazer pesquisa de mercado e a delinear bem a ideia”, confessa.
O atual Diretor de Projetos Internos da JuniorAchievementAlumni Portugal define o empreendedorismo como algo “potenciador”. E, “como qualquer potenciador, é capaz de mostrar o melhor daqueles que se conectem, de alguma forma, ao empreendedorismo. É essa a importância que atribuo ao empreendedorismo: a possibilidade de cada um, que queira, mostrar ou envolver-se de uma forma inovadora.”
O vencedor do Prémio de Cidadania Activa da Universidade do Porto nesta categoria acredita ainda que o empreendedorismo começa como uma necessidade. “É como o caso de um bebé quando aprende a dar os primeiros passos. Ao início, nada sabe e nem andar sabe. Por contacto com essa necessidade, aprende e, meses depois, anda sem qualquer ajuda, até que cresce e é maior a sua destreza. É como o empreendedorismo: há a questão da necessidade, para quem a sente ou a deteta, e a partir daí todo o ciclo se desenvolve.”